01/04/2014

Era uma vez!

Era uma vez uma garotinha de sonhos gelatinosos, esculpidos em entulhos no terraço de um prédio, criados com os olhos colados no céu, que era o maior pedaço de azul que até então podia permanecer próxima. A sua proximidade com o azul do céu camuflava a sua paixão platônica por outra imensidão azul, da qual de alguma forma sempre se sentiria conectada.

Ela queria o teletransporte para saltar da nave para um submarino e em menos de 20 mil léguas encontrar cada ser vivo que um dia já imaginou ou desenhou em sua memória inventada. Foi sereia, foi saci que via baleias no céu, foi tubarão com um sistema imunológico que ignorava o câncer, foi mergulhadora com Cousteau. Como se não bastasse inventar um mundo nas estrelas, especialmente em Fomalhaut, precisava buscar o oceano. 

Queria um golfinho no seu quintal, mas se contentava com porquinhos da índia. Queria siris de aquário que durassem mais de 2 meses, mas se contentava com a lenda da Afrodite que permaneceu 8 anos (no seu tempo de criança, não no tempo da Terra) em seu aquário, sobrevivendo aos fungos, choques térmicos e outros peixes estressados. Queria que piabas de rio sobrevivessem em água parada, sem corrente, pois água "era água", em seu entendimento peculiar. Queria ter barbatanas e guelras atrás das orelhas, como no filme. 

Mas a vida é feita de condições reais, ainda que boas. A garotinha aprendeu a nadar, mas ainda assim não aprendeu a plantar sementes de praias. Aprendeu a se virar, mas não aprendeu a virar o mapa pra inverter a posição do mar. Aprendeu a viajar, usando menos a imaginação e mais os próprios pés, que ainda assim, ela queria que fossem barbatanas. Aprendeu a mergulhar e ouviu de um amigo de Cousteau algumas histórias que nem a memória conseguiu guardar em detalhes, pois não aprendeu a ser hardware quando o assunto era o mar. Aprendeu a tentar, mesmo que ainda sentisse medo. 

A garotinha ainda não cresceu, continua velejando em ideias, mas segue acumulando sonhos e planos ao longo de anos. Não sabe no que vai dar essa mania de azul, refletida em suas roupas, traços e inspirações. Mas espera que o que for seu, permaneça reservado para a hora certa, para a alma devidamente pronta. 


 Que tudo seja possível pra quem crê!