22/10/2014

O tempo certo de todas as coisas

Tenho um coração de jumento.
Faço escolhas erradas quanto ao amor.
Fato.
E vim aqui compartilhar algumas coisas que aprendi até aqui.
Você pode ser inteligente e aprender pelos meus erros.
Ou pode viver os seus erros e ser feliz assim.
1) Nunca namore/continue com alguém porque se sente só. Ou pior: porque tem medo de se sentir só. Nada pior do que a solidão mesmo acompanhada, pois não completa e não trata a causa real do problema. Você perde tempo ao lado da pessoa errada.
2) Nunca namore/continue com alguém que acha que sua vida é "fácil", que você não tem problemas. Nada pior do que uma pessoa egoísta ao ponto de comparar os seus problemas com os de qualquer outra pessoa no mundo, pois só você sabe o peso real dos seus problemas. Você perde tempo ao lado da pessoa que só enxerga um umbigo: o dela/dele.
3) Nunca namore/continue com alguém esperando que essa pessoa mude por você. Nada pior do que uma pessoa ser forçada a ser o que não é. Nada pior do que essa pessoa também esperar que você se transforme naquilo que você nunca quis ser. Ceder e se anular são coisas diferentes. Em nenhuma hipótese mude pelo outro, mude se você achar que é a sua hora de agir diferente, por você. Você perde tempo ao lado de uma pessoa que espera que você seja outra - especialmente se for um tipo de pessoa que você não admira ou que venha a ter hábitos que não condizem com o seu conceito de felicidade.
4) Nunca namore/continue com alguém por pena, especialmente por pensar que você deve ser um companheiro/companheira das horas ruins inquestionavelmente. A pessoa deve aprender a separar os seus problemas dos seus momentos juntos, blindando a relação e fazendo valer a pena o que a vida ainda oferece de positivo. Você perde tempo ao lado de uma pessoa que é digna de pena, pois a verdadeira compaixão é também permitir que a pessoa siga um rumo sem você e que você também busque a felicidade.
5) Nunca namore/continue com alguém que não tenha saído de outros relacionamentos de forma honesta e íntegra. Fraquezas todos temos, claro. Defeitos todos temos, claro. Mas a forma como a outra pessoa se desliga da outra, o tempo que ela se dá para recuperar o fôlego, é fundamental para conhecer a integridade daquela pessoa. Especialmente se a pessoa nunca soube "estar sozinha", pois isso indica uma pessoa que vive de muletas. E que usa o próximo para tampar suas feridas sem cultivar o amor próprio. Você perde tempo ao lado de quem usa os novos amores como refúgios para serem pessoas perfeitas.
6) Nunca namore/continue com alguém que não respeita seus amigos. O verdadeiro companheiro de toda uma vida não precisa estar sempre ao seu lado em todos os encontros com seus melhores amigos, mas deve cultivar a consideração por todos que são importantes em sua vida. E isso não inclui estar presente em todas as festas, mas sim em ter cuidado com a forma como trata aqueles que você ama. E se seus amigos levantarem um sinal de alerta sobre a pessoa, investigue, busque saber sobre a pessoa - o alarme dos seus amigos é infalível e eles sempre querem o seu bem. Você perde tempo ao lado de quem não trata bem aqueles que sempre estiveram ao seu lado.
7) Nunca namore/continue com alguém que tenta sempre interferir no seu relacionamento com sua família. Pois essa pessoa não conhece sua história e não sabe de todo o seu passado. Cabe a você definir os limites de seus familiares em sua vida e só porque a outra pessoa é dependente emocionalmente da família, não significa que você precisa ser. Cada um sabe como lidar com seus pais e irmãos, desde que exista respeito e amor. Você perde tempo com uma pessoa que critica suas relações, ao invés de olhar para o seu próprio cordão umbilical.
8) Nunca namore/continue com alguém que possui valores de vida extremamente diferentes dos seus, o que é bem diferente de serem "complementares". Toda relação precisa de equilíbrio e os valores de ambas as partes precisam ser respeitados e atendidos nas devidas medidas. Ninguém tem que abrir mão dos seus valores em função do questionamento do outro. Especialmente quando se trata de assuntos materiais e emocionais. A relação saudável exige congruência e satisfação, não eternas concessões. As pessoas se perdem quando só cedem. Você perde tempo focando em atender somente aos valores do outro, deixando seus planos e sonhos de lado.
9) Nunca namore/continue com alguém que se descontrola emocionalmente e tem picos de raiva de qualquer ser vivo no mundo. O descontrole emocional é um reflexo de uma pessoa alterada, instável. Toda pessoa merece respeito, assim como não se deve usar de violência especialmente em situações banais e estressantes da rotina. Você nunca vai saber quando você será o próximo alvo e nunca estará segura diante de uma pessoa desequilibrada. Você perde tempo ao lado de alguém que incita qualquer energia negativa, especialmente concretizando em ações violentas.
10) Nunca namore/continue com alguém que esconde segredos ou histórias sobre seu passado. Busque pessoas que são um livro aberto, sem medo de falar sobre relações antigas, sobre medos, sofre defeitos e sobre qualidades também. Busque pessoas que joguem limpo - o tipo de pessoa que você escolheria para ser seu melhor amigo. Pois o seu amor também precisa ser seu amigo todo santo dia. Você perde tempo quando se envolve por comodismo, por sexo, por status, por vaidade, por orgulho - pois em nenhum desses casos a pessoa é "o seu melhor amigo com quem você dorme todos os dias".
Então!
Tenho um coração de jumento.
Fato. Pois sei de tudo isso e ainda assim sou uma pessoa complacente.
Você pode ser inteligente e aprender pelos meus erros (repito).
Ou você pode viver e aprender por si mesma/mesmo.


16/10/2014

A carta

Quando recebeu aquela carta, era ainda muito jovem. Ainda não tinha se tatuado pela primeira vez, ainda não tinha terminado seu primeiro namoro e ainda não tinha mergulhado - em si mesma e nem no mar. Tinha certeza sobre poucas coisas na vida, mas não podia negar seu amor pelo mundo e pela vida - em todas as suas formas. Não sabia quem seria no futuro, não sabia onde estaria em 5 anos, não sabia sobre sua trajetória, não sabia. 

Até então saber que aquela carta era o seu destino. 
Era seu fardo. 
Era sua rota. 
Era seu carma. 
Era seu propósito. 

A carta continha um mapa, com diferentes pontos assinalados. Brevemente conhecido em aulas de geografia e programas de televisão. Pouco acessíveis a muitas pessoas espalhadas pelo mundo. E uma única frase: "Encontre suas próprias rotas. Encontre-se." Aos seus 17 anos, aquilo parecia absurdo, mas nunca saiu de sua lembrança. A carta não tinha remetente, não tinha selo e nem possibilidade de rastreamento. Estava suja e amarrotada, assim como a própria letra de quem escreveu aquelas poucas palavras. No entanto, emanava uma energia única e, especialmente, uma possibilidade antes impensada. 

Alguns anos se passaram, ela tateou suas rotas no escuro: direção indefinida, simplesmente encaminhada. E tinha a nítida sensação de que não era tão dona assim da sua própria vida: por mais que se planejasse, era a vida que escolhia seus caminhos. Nunca quis ser quem era, e ainda assim acabou sendo. Nunca quis trabalhar com aquilo, e ainda assim acabou se destacando. Nunca estar necessariamente com aquelas pessoas, e ainda assim a vida lhe trouxe almas particularmente diferentes - e totalmente responsáveis pelas suas escolhas também. Até que um dia, revirando suas memórias, decidiu seguir a carta - mais uma "autoridade" definindo seu futuro. 

Era só um plano maluco, e não especulava sobre as possibilidades desta escolha. Especulava, sim, no entanto, sobre quem queria dar aquele recado. E qual era a sua intenção ao deixar aquele recado. E então no ápice do seu desapego à lógica, decidiu se programar para a primeira grande aventura. E quando percebeu, já tinha mesmo assumido as rédeas daquela cavalgada. Finalmente escolheu ir, ao invés de ficar parada.

13/10/2014

Quando tudo é possível...


Talvez um homem só tome consciência de sua humanidade quando sonha. O ato de sonhar extrapola qualquer descrição antropológica que um de nossos semelhantes tenha feito. E desde que me entendo por gente espero ansiosamente pelas oportunidades de conquistar cada um dos sonhos que alimentei desde a minha mais remota memória. 

Não se tratava apenas de viajar nas histórias de Cousteau e criar mundos a partir dos seus documentários. Não se travava apenas de imaginar sereias e sacis amigos de baleias voadoras. Não se tratava apenas de imaginar as inúmeras possibilidades de um tratamento contra o câncer a partir das células de defesa dos tubarões. Tudo se tratava da minha humanidade, cultivada nos sonhos de criança.

O que torna uma pessoa, em toda a plenitude do ato de "ser humana", é exatamente a minha vontade de ver tudo com os meus próprios olhos e experimentar cada milagre da vida, fruto das mesmas moléculas de carbono da origem da vida. Encarar de perto todas as possibilidades de existência, encarnadas e conscientes, para que eu compreenda a minha própria insignificância diante da perfeição. 

Sonhos não têm preço, por mais que levem a certos sacrifícios. E cada um tem o direito de buscar aquilo que o torna uma pessoa melhor. A mim cabe o irrisório papel de observadora deste mundo, em toda a sua plenitude, em toda sua versão selvagem e pura. E assim perpetuar o resgate da criança otimista que eu era, e que eu ainda sou.


Meta: Galápagos...

06/10/2014

O fim, por si só

Triste o fim em que a pessoa se revela outra.
Outra tal como deveria ter sido antes de partir.
Outra tal como tenha sido camuflada ao longo do tempo.
Outra, aquela do início, perdida no final.

Triste o fim em que nós nos revelamos outros.
Incrivelmente enfraquecidos por tanto ceder.
Imensamente enfraquecidos por termos tentado tanto.
Impressionantemente enfraquecidos pela frustração.

Triste o fim em que as pessoas não podem mais conviver.
Magoam sem perceber.
São duras para se protegerem.
Tornam-se amargas pela decepção.
Perdem a noção do limite e do respeito ao outro.

Triste o fim em que pessoas antes tão próximas precisam se tornar meros estranhos.
E nunca mais dar boa noite.
E tão cedo aceitar que o outro pode e merece ser feliz mesmo sem você.
E talvez sempre sentir uma pontada de tristeza ao ver fotos antigas antes felizes.

Triste o fim em que a gente precisa cortar todos os elos.
Deixar de lado os meios de contato.
Eliminar pontos de congruência.
Mudar a rotina e se distanciar cruelmente.

Triste o fim em que nenhum dos dois se permite ser leve e honesto.
Negando cada um as suas culpas.
Pedindo perdão quando é tarde demais.
Guardando mágoas sem solução no devido momento.

Triste o fim em que todos os planos perdem o sentido.
E você precisa se reinventar de novo.
Quando você está sem forças, sem esperança.
E especialmente naquele momento em que você só queria que tudo fosse como antes.

Triste o fim.
Esperando o recomeço.
E pacientemente acreditando que vai passar.