03/11/2014

Antes de Partir

Porque quando você parte, nunca se sabe o que vem a seguir. A vida refaz os caminhos e quando você menos percebe, não voltou de lá. Quando você parte, você nunca mais retorna ao que era antes. Quando você parte, algo muda na ordem da vida. Aquele velho papo de que uma mente que se abre a uma ideia nunca mais volta ao seu antigo tamanho, ou que uma janela que se abre nunca mais aceita se fechar, ou que quando se conhecesse a vastidão mundo nunca mais deixa de querer o universo. 

Optar por partir faz parte do exercício para o qual somos tão pouco preparados. Crescemos com medo de despedidas, da saudade, dos términos e da morte. E pouco entendemos sobre a importância desses episódios na consolidação da nossa própria humanidade. Partir e deixar ir faz parte da nossa natureza como seres racionais, donos da nossa própria vontade. 

Há muitos anos venho tentando exercitar a minha compreensão das partidas, das rupturas, das mudanças. E por bem ou por mal, toda a sequencia de fatos da minha vida vem me cobrando resiliência diante destas partidas, minhas ou de outrem. Porém, quando é você quem opta por partir, opta por se desconectar por algum tempo de tudo que é parte da sua essência, você finalmente entende: que você basta a si mesmo. Que sua existência não depende de nada, além de você mesmo, por mais egocêntrico que isso pareça. 

E talvez pensando assim, sem cobrar que o outro te abasteça de qualquer coisa que você julga ser indispensável, você consiga de fato aceitar mais as pessoas, os fatos e o destino tal como eles realmente são. Sem esperar que as pessoas nunca partam, aceitando que você mesmo um dia pode partir. 

Entretanto, a sua existência independente não o blinda da existência alheia. É fundamental diferenciar as duas ideias. Quando você aceita que tudo é passageiro e que a partida ou despedida será necessária, você entende que sua vida não acaba quando uma outra vida se "desliga" da sua. Mas nem por isso as vidas relacionadas à sua existência deixam de moldar a pessoa que você é. Sendo assim, o conceito básico é que: você é o seu próprio mundo, mas nem por isso ele não será habitado.

E daí que os inquilinos um dia se mudam, ou você repassa o seu "imóvel". Você também muda, você também escolhe ir embora. Você também escolhe outros inquilinos. E no final das contas, cada experiência moldou o caminho da sua partida. Afinal, quando você parte, ainda assim nunca se sabe o que vem a seguir. 

Nó sem Fim: Um dos símbolos do budismo tibetano que representa a visão budista de que tudo o que existe está interconectado.