30/11/2010

Fogo nas ventas


Não deveria estar aqui, agora, feito sonâmbula. O problema é que não existe freio quando sinto um certo engasgo. Cuspindo fogo, seria a melhor descrição. Como se algo me incomodasse e fizesse tudo ficar incômodo. Passo a ouvir o barulho do vizinho, começo a me incomodar com pernilongos, fico curiosa pra verificar o que anda acontecendo nas redes sociais... Mas é que hoje, dentre muitas outras coisas que ouvi, me disseram: "Você é o peso das escolhas que faz". Ou melhor, você sente. E nem se referiam a mim, apesar de se aplicar perfeitamente.


Já errei muito, ainda erro. Não sou uma pessoa fácil, apesar de ter pensado que eu era um "doce" durante muitos anos. Quando quero, sou ácida e teimosa como ninguém. E quando finalmente relevo e abro mão, sempre faço na hora errada. Não sou boa em escolher caminhos desconhecidos. Sempre crio expectativas imediatas: sorvendo tudo que posso em pouco tempo, como se tudo fosse repentinamente acabar. E "acaba acabando", não é mesmo?


Como se fosse Midas, com um maldito dedo podre, sempre tomo a estrada pela contramão. Sim, encontro o que não previa, mas perco o que queria algumas vezes... Não sei dirigir... Por mais que eu tente me planejar, que me esforce pra manter a terra à vista, sempre acabo trombando numa ilha inesperada. Mas não dá pra ser sempre assim. A aventura sempre tem um fim, certo?


Estou extremamente confusa há alguns dias. Sinto raiva de quem não merece, fico com preguiça de quem se esforça em vão, desejo quem não posso ter, uso quem é sincero, jogo criando artimanhas um tanto quanto maquiavélicas, faço piada do que não tem graça. Ou seja, não sou mesmo a pessoa mais inocente do mundo hoje (nem ontem e provavelmente amanhã também). Como cheguei aqui? Longa história, caro curioso aí do outro lado da tela. Tenho certeza de que não sou a única no mundo que de vez em quando se sente suja e com labaredas na garganta. Que Deus nos livre e guarde, amém.

26/11/2010

Salve, Jorge!

Há dias estou pensando em o que escrever sobre o novo “Tropa de Elite”. Mas me parecia redundante repetir os questionamentos propostos pelo filme. Não queria fazer um plágio filosófico... Eis que os últimos acontecimentos chegaram como um rompante de verdade aos nossos olhos. O Rio de Janeiro sempre esteve em guerra, só que antes não víamos ônibus queimados e tanques rodando pelas ruas da cidade? Hoje não estou no Rio, mas na próxima semana estarei.

Estamos completamente alienados quanto ao que os moradores daquelas comunidades estão vivendo ao longo destes dias. É, porque “comunidade” é quase uma coisa genética de carioca: o Rio tem mais “comunidades” do que bairros. Portanto, faça sua análise sobre a proporção que toma uma guerra antes silenciosa e agora estampada nos jornais. Finalmente enxergamos as mazelas das tais comunidades, mas só porque nos saltaram aos olhos e porque chegaram nas nossas ruas bairristas.

Sou mineira, mas sou brasileira. Achar que tudo está distante o suficiente de nossa realidade é um grande erro. Essa peste, como disse o próprio traficante, se espalha. Não vou entrar em méritos políticos sobre como solucionar a guerra civil instaurada, nem tantas outras enfermidades de que padecem nossas sociedades. Não preciso falar de milícias, tráfico, exploração sexual, desigualdade social, analfabetismo. Estamos melhores que antes? Acredito piamente que sim. Porém não melhores o suficiente.

Minha vontade mesquinha apenas repete, ressona baixinho: “só quero ver o bonde, só quero ver o Cristo, só quero saltar de parapente, só quero andar na calçada de ondas”. Mas eu queria tantas outras coisas! Só me resta torcer para que as comunidades de fato assumam seus papéis como “comunas”, em paz.

21/11/2010

Escolhas premeditadas?

Ainda sei pouco sobre o que quero pra mim. Mas sei muito bem o que não quero. Só que chegar ao que realmente queremos é um percurso exaustivo. Não adianta tentar dar passos maiores do que as pernas, nem forçar as cordas vocais gritando no vácuo. O destino sempre apresentará improbabilidades, opções sequer imaginadas. A questão é que a escolha que você fará já está de alguma forma premeditada dentro de você. Você nunca escolhe aquilo que jamais escolheria.

Quando penso nas escolhas que fiz, muitas delas de forma impulsiva e apressada, percebo que nada teria sido diferente quanto às minhas opções. Aquelas circunstâncias moldaram minha decisão, mas no fundo escolhi o que eu queria desde o início, independente do que era certo ou errado. Escolhia o que era certo para mim, o que respondia ao meu próprio plano interior. Você nunca é inocente em suas escolhas.

Os sonhos dos quais abdiquei, as loucuras em que me meti, a independência que instaurei, as situações que vivenciei, tudo – nada foi um acontecimento externo à minha própria decisão. Você erra porque quer, porque aceita o risco. Você erra porque esperava acertar, mas não deixa de ser a sua vontade rumo ao inesperado. Se você pudesse olhar do futuro para o seu passado, provavelmente mudaria algumas coisas, mas acredite: aos poucos você retornaria ao seu padrão natural de escolhas, seguindo seu instinto imutável.

Mas a questão é que vivemos exercitando nossas escolhas. Vivendo pedindo opiniões alheias, que muitas vezes são ouvidas apenas por desencargo de consciência. Você ouve só para reafirmar o que não irá fazer, com um espelho que mostra a ação contrária. Não interessa a imagem refletida, interessa sempre a origem real do reflexo. O que nos angustia, no entanto, é constante convenção social que nos leva a contrariar nossas escolhas, aprisionando nossas atitudes naturais.

Claro, a sociedade precisa de limites e de regras para garantir a sobrevivência, mas as escolhas de que falo não nos tornam mais violentos, menos éticos ou mais inescrupulosos. Falo de escolhas que nos fazem mais felizes e verdadeiros, sem invadir ou desrespeitar o limite do próximo. Escolher a profissão certa, amar a pessoa naturalmente escolhida, falar a verdade mesmo que seja dura, permanecer sozinho porque você se basta, viajar e nunca mais voltar, acreditar no que realmente o conforta, escolher os amigos que lhe convém, ser que você sempre foi por dentro. Coisas assim te libertam e fazem com que tenhamos argumentos espontâneos para nossas escolhas.


18/11/2010

Às Mulheres

Mulheres, meninas, garotas.
(Se você é homem, este não é um post para você. Pare agora.)
Tenho certeza de que não sou a única que de vez em quando precisa relembrar alguns velhos mandamentos para manter a situação sob controle. Certo? Trombei com um livro durante uma viagem – devorei em pouco mais de 2 horas porque andava mesmo precisando de uma sacudida. Também cheguei à conclusão que devo compartilhar isso com vocês, especialmente as solteiras (uma vez que desaprendi há meses como é ser uma pessoa casada). Vou listar aqui alguns princípios básicos. Minha idéia é: espalhem para todas as mulheres que conhecem, preguem em seus espelhos, na mesa do trabalho, coloquem alertas no celular. Façam o que for preciso. É um processo de desintoxicação.

A mulher com presença de espírito também sabe a hora de bater em retirada. Seja um “desafio mental” para seu parceiro, e não uma mulher carente. Em primeiro lugar estão os seus desejos (às vezes negociáveis), ao invés de sempre responder às expectativas externas. Recuar também é algo que os homens fazem para se sentirem mais seguros. Mas se ele não pode prever sua reação, você passa a representar um desafio mental.

Se você perceber que está sendo modesta, humilde ou qualquer delírio similar, corrija o problema imediatamente. Você é um bom partido, não tem que convencer ninguém disso. Dedique-se, seja companheira, mas não exagere demais (vale para as casadas). Não se afaste dos amigos, não abra mão da carreira e nem de seus passatempos prediletos. Foi por isso que ele se aproximou de você.

Seja independente, não conte tudo sobre você e não corra atrás dele. Os homens são estimulados pela ausência. Não perca o senso de humor. Cuide da sua saúde. Homens se divertem com o percurso para chegar ao destino. Controle sua vontade. Não se dê ao trabalho de se explicar quando um homem lhe falta ao respeito. Não se encontre com ele só porque ele quer. Você é quem deve querer. Não desmarque seus compromissos porque ele ressurgiu em cima da hora.

Você também pode “não querer nada sério demais agora”. Os homens não escolhem se apaixonar. Acontece sem querer. Mulher também!!! Declare suas preferências, você não tem que gostar de tudo que ele gosta. Mas é claro que um homem não quer uma mulher que o domine... Cuidado, feministas! Mantenha a relação platônica pelo menos no primeiro mês. Vai ser difícil, eu sei. Eles gostam de saber que os outros não conseguem chegar facilmente aonde ele deseja se estabelecer. Claro, a não ser que você também não queira nada além.

Não fique com medo de o homem desistir e desaparecer. O problema é dele! Se ele fala muito de si mesmo, é porque gosta de você e sente confiança. Mas você não é mãe, tia, irmã e nem apenas uma amiga. Você não tem que ouvir sobre a ex. Não finja um orgasmo. Ele vai saber. Você só satisfaz o outro quando primeiro satisfaz a si mesma. Concentre-se nisso. Você pode se sentir insegura, mas jamais demonstre isso. Se ele troca posts com outras no Facebook, não vigie o perfil dele. Além do mais, você também troca posts com pessoas que não têm interesse emocional, certo?

Deixe-o abrir a lata de palmito, comprar comida, lavar a louça. O homem precisa salvar “sua própria honra”. Cuidado com o homem que elogia a liberação feminina – ele está prestes a largar o emprego! Não se encontre novamente com um cara que no primeiro encontro aceita dividir a conta do restaurante. Não saia mais com ele!

O limite masculino para concentração em assuntos sentimentais é de 2 minutos. Nunca se abra sobre o que sente antes dele, seja amor ou ódio. Seja objetiva. Não peça permissão pra mudar de assunto – mude, se te incomoda. Diga algumas verdades em tom de brincadeira. Mas não conte de sua enxaqueca. Não conte a ele o que você era na vida passada e nem o que pretende ser na próxima encarnação (hahahaha eu ri muito dessa parte).

Só faça o que a deixa confortável. Constantes concessões não são saudáveis. Um pouco de silêncio ou distância podem resolver um problema. Espere... Recuar de maneira sutil, sem chiliques, pode ser muito eficiente. “Flutue como uma borboleta, ferroe como uma abelha.” Orgulho e dignidade. Bloqueie a dor e a raiva se precisar discutir. Todos gostam de pessoas que pensam antes de falar. Você não precisa seguir a moda e nem os conselhos das novelas. Você não precisa obrigatoriamente se casar para estar num relacionamento.

Os homens temem ser rejeitados pelas mulheres, por isso eles se mantêm na defensiva e muitas vezes demoram muito a ligar, retardam o próximo contato, esperam o destino dar um empurrão para não se sentirem expostos ao “fora”. Eles também não querem dar a impressão de que são ansiosos.

Só permaneça num relacionamento por sua própria vontade. Vá embora se não receber o que deseja. Mas se for bom, elogie. Moderadamente... Repito: os homens reagem à falta de contato. Paciência é um poder. Não desperdice seu tempo com pessoas negativas. Seja gentil e exija gentileza. Vale para qualquer pessoa em sua vida, claro.

Trechos extraídos do livro “Por que os Homens gostam de Mulheres poderosas”, de Sherry Argov.

16/11/2010

Redescobrindo...

Eu tenho um pé na Bahia. Aliás, só não tenho os dois pés lá porque ainda me resta um pingo de juízo. Pingo mínimo, por sinal – com chances eminentes de evaporação. A verdade é que aquela água quente, todo aquele calor espontâneo e todas as possibilidades naturalmente dispostas ao meu alcance me fazem muito bem. Bem que contamina cada poro do meu corpo, todos os meus neurônios ansiosos.


Afinal, por mais que tenhamos perdido várias horas no deslocamento, por mais que estivesse muito nublado quando chegamos ao entardecer, a Bahia sempre nos recebe carinhosamente. Gosto daquela terra de graça e mesmo o céu colorido do Rio Buranhem se revela como uma cerimônia de recepção a todos aqueles que, como eu, buscam um refúgio. Atravessamos de Porto Seguro, nosso ponto de chegada, até Arraial D´Ajuda, trajeto esse já bem conhecido por muitos brasileiros. Não avistei o Monte Pascoal, como outrora avistaram em nossas terras desconhecidas.


Andar pelo vilarejo à noite, especialmente fora de grandes temporadas, é uma oportunidade excelente de observar a cultura enraizada em cada detalhe. Seja uma influência européia, indígena ou africana, em Arraial nos certificamos que somos frutos de uma mistura inesperada, porém inquestionavelmente rica e poderosa. Na Rua Mucugê você encontra restaurantes de todo o tipo, pois Arraial também viveu um segundo descobrimento graças ao turismo – fomos invadidos! Não se assuste com a variedade de sotaques aportuguesados de argentinos, espanhóis, franceses, etc. Você descobre que está numa miniatura do mundo, viajando a cada 10 metros por realidades diferentes. Se quiser uma boa comida a quilo, procure pelo restaurante “Portinha”, no centro e próximo ao supermercado Cambuí. Se quiser uma moqueca bem em conta e farta, procure o restaurante Caminho da Praia, entre a Mucugê e a rua da igreja. Mas se quiser variar todos os dias, garanto que terá mais de um mês em opções para comer, de crepes e comida japonesa ou chorizo argentino... Encontre também a loja Terima Kasih, com artesanato oriental. Acredite, os preços de lá valem muito a pena, não se assuste com a imponência da loja. Entre, divirta-se e reze pra não enlouquecer. Se você gosta de todo tipo de artesanato (do indiano ao chinês), vai entrar em pânico. Se procurar bem, vai achar peças mais baratas do que os artesanatos locais na rua da igreja. Quando entrar na loja, você vai se lembrar de mim. Repare bem nos lagos com plantas ornamentais (incluindo vitória régia)... Ali cometi um crime ambiental que permitirá a reprodução de guppys baianos com guppys mineiros nascidos no meu apartamento... Não resisti! E todos sobrevivemos ao raio X do aeroporto, com direito a aquário novo para os 12 moradores “imigrados”.


A chuva não deu trégua no dia seguinte. Eis mais um “porém” sobre a Bahia: se não quer errar quanto ao clima, garanta-se em setembro e outubro. Nos demais meses você estará à mercê de um verão quente e úmido, é um risco. Mas acredite: até a chuva pode ser providencial. Topamos um passeio de quadriciclo rumo à praia do Taípe, encarando uma trilha tortuosa durante toda a manhã. Buracos, barro, água, chuva, pedras, pinguelas e marimbondos. Claro, sou a única pessoa que no primeiro dia consegue 5 picadas na cabeça por debaixo do capacete e uma nas costas, graças à minha sutil característica de sempre me meter em improbabilidades. Lembrando que não sei dirigir e que fui picada enquanto dirigia... Enfim, criei coragem e ainda não sei como não caí em nenhum momento, especialmente na pinguela cujo espaço era o exato para o quadriciclo se equilibrar. Tenho um carma com desastres, como já sabem... Mas sobrevivi e no final já estava zuando com a troca de marchas e correndo feito uma louca com minha mãe na garupa (ela se especializou em correr nas retas esburacadas).


O sol ressurgiu na manhã seguinte e aproveitamos para conhecer a Praia do Espelho, uma das mais bonitas do Brasil. Se alguém duvida disso, deve chegar à praia (que demanda um tempo na estrada) e se informar sobre o mirante “clandestino”. Vá antes que a maré o prenda entre as praias do Espelho e Curuípe. Surpreenda-se com uma visão maravilhosa, onde o horizonte se encontra com a Ponta do Corumbau (onde estive no ano passado). Enquanto esperava os nossos guias resgatarem minha mãe perdida ao tentar subir sozinha no mirante, decretei o direito de permanecer muda, estupefata com tantos tons de azul, lilás e verde num único e indivisível mar. Nas águas você sente as correntes frias e quentes alternando, confirmando os milagres da natureza. Ali eu também encontrei uma paisagem única, registrada em uma foto, onde o mar verde se contrapõe a uma nuvem densa, descolada do céu. Uma embarcação simples, ancorada, se intromete no cenário. Caminhe rumo ao rio Espelho, vai ter uma bela surpresa. Os preços são salgados, não se assuste.


À noite, um pulo na Ilha dos Aquários, ambiente típico de grandes festas durante a alta temporada. Mas como o próprio nome já diz, meu objetivo era outro. São 5 ambientes diversificados, de boate a solo de bossa nova, mas só queria mesmo era conhecer os tais aquários. Eram 6, com peixes imponentes, baiacus, arraias, enguias verdes e tubarões lixa. Paguei caro por pouco tempo apenas conhecendo os aquários, mas era só isso que eu realmente queria. Não viajei pra badalar, mas sim pra me dar uma folga das convenções sociais. E com direito a foto sendo carregada por um pirata...


Diariamente confirmávamos a direção do vento para programarmos os mergulhos e o pulo de parapente. Já antecipo que mais uma vez o parapente ficou para uma outra oportunidade. As terminas não atenderam aos nossos pedidos e perdemos a oportunidade de saltar das falésias da praia de Pitinga. Mas agendei o mergulho e navegamos com o mar batendo muito. Mas como diria o comandante, acho que sou mesmo do mar, pois não havia enjôo mesmo enquanto eu estava na proa encarando as ondas e a água revirada. Claro, nem todos têm essa mesma sorte. Desci rumo à minha promessa anual, mas o mar revirado me passou um trote. Vi mais areia do que todo o resto que o mar esconde. Vi pouco do que eu esperava ver, ou melhor, do que sempre espero ver a cada batismo (afinal, sou mesmo cara de pau e não fiz até hoje um curso digno como mergulhadora autônoma). À tarde, me contentei com as ondas da praia do Apaga Fogo, no quintal da nossa pousada.


Trancoso... Fácil de chegar, não se prenda aos guias turísticos. Apenas se informe sobre os horários em que as vans vão e voltam, especialmente aos domingos, cujo horário de transporte é reduzido. Conheça o Quadrado, resista às lojas e boutiques. O melhor mesmo é a vista da praia dos Nativos e dos Coqueiros. Se tiver tempo, ande pelas duas. Passamos o dia na praia dos Coqueiros, incluindo visões da prática de “kitesurf”. Afinal, o vento do parapente não chegou, mas era suficiente para esta modalidade... Que raiva! A praia é linda, principalmente se você topar andar pra bem longe das barracas... Caminhe rumo ao sul, rumo a Corumbau, e encontre praias com ondas boas para o surf. Um aviso: é uma praia cheia de corais e pedras, portanto, graças ao meu carma, não curti tanto o mar para me prevenir de alguns acidentes. Delicie-se com um belo peixe vermelho, típico da região. Os preços são bem parecidos com os das barracas em Arraial. Antes de partir, separe um tempo para curtir os mangues da região.


Por que tudo que é bom dura pouco? Além disso, como eu poderia ir embora tão contrariada com meu mergulho? Precisava das bênçãos do mar e por isso embarquei de novo, dessa vez no Miss Aritta, sem minha mãe e já conhecida da tripulação. O mar batia bem menos a caminho dos Recifes de Fora. Eu me sentia velha conhecida da equipe de mergulho, sendo confundida pelos demais turistas como membro da equipe porque eu vestia a camisa da operadora. Caí na água por último, com direito a mais um tempo submersa. Lagostas, frades azuis e cinzas, cirurgiões, donzelinhas, corais e um mero! Finalmente satisfeita, sentimento de promessa cumprida. Perdoei o primeiro mergulho e aliviei a tensão de ir embora para casa sem de fato me reencontrar.


Já dizia o gênio: uma mente que se abre nunca mais retorna ao tamanho inicial. A cada viagem volto mais rebelde, mais inquieta, com mais vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Não sou onipresente, caro amigo baiano... Mas tenho uma bela vocação!


09/11/2010

Viaje, mas volte

Viaje, mas volte.

Viaje carregando tudo de que se lembra naturalmente, mas volte esquecendo tudo de que não precisa para seguir adiante. Viaje carregando tudo que lhe é vital, mas volte trazendo tudo aquilo que jamais sonhava conhecer. Viaje com seus medos e incertezas, mas volte com problemas de memória, como se recomeçasse a cada dia. Viaje pro mundo lá fora e também para dentro de si, mas volte entendendo como o mundo é bem maior do que as limitações cotidianas. Viaje para lugares que te surpreendam, mas sempre volte para seu porto seguro sem arrependimentos.

Pois não há viagem que não te modifique, não há ida que não te faça revirar a alma antes da volta. Permitir-se ser moldado pelo mundo, flexivelmente como a argila, dói bem menos do que manter-se como o recife contra o mar. A mudança virá, permita você ou não. Afinal, deslocar-se no espaço é quase tão eficiente quanto o tempo para curar e renovar. Qualquer rota tomada vai de encontro a si mesmo, resgatando o foco, a segurança e a coragem. Viaje, reencontre-se.





01/11/2010

Freud disse...


“No inconsciente, não existe o conceito de tempo, de certo e errado e não há contradição.” Eis que me falta um certo período inconsciente, quase inconsequente. Dói ser tão impulsiva, assusta não ter paciência pra esperar que tudo ocorra de forma natural. Mas me sinto aliviada quando cuspo meus marimbondos e saio atropelando tudo que me cerca. Eis o problema: talvez eu seja movida a adrenalina e nenhum outro jeito de ser realmente me sustente.

Gosto de tudo bem planejado, esclarecido, transparente. Por isso falo na cara, por isso aparento tamanha coragem, no limite da loucura. Cara de pau, para ser mais precisa. A questão é que não suporto a idéia de perder tempo com joguinhos, com frescuras e convenções sociais, com a guerra de egos que o mundo inteiro simula e dissimula. Não dá pra mudar, se não vejo isso como uma atitude indevida. Volto ao inconsciente, onde não há esse julgamento...

Sim, aí também mora a contradição... Se gosto de fazer planos, como posso ser espontânea e assumir iniciativas malucas, quase suicidas? A questão é que ter um cenário e personagens é fundamental à construção de castelos imaginários, que se confundem constantemente com meus planos mirabolantes. Sim, hoje quero me casar com um príncipe, mas me basta acordar amanhã do mesmo jeito que estou hoje. Sim, quero rodar o mundo sozinha, sem rumo, mas vale também se eu ainda acordar na minha cama e no dia seguinte estiver na Bahia. Eis que a contradição pode se sustentar por um dia, ou um pouco mais, pois não ameaça a essência.