28/12/2011

2012 - Seja Diferente

Quando o ano novo se aproxima, é hora de refletir sobre o que aprendemos...
2011 foi um ano de muita dor em vários pontos do mundo, mesmo que isso pareça tão distante de nossa realidade.
O que acontece num continente, pode acontecer em qualquer outro ponto do planeta.
A natureza mostrou mais uma vez sua força, mostrou que é capaz de revidar o tratamento que damos ao meio ambiente.
As revoluções foram transmitidas pelos canais de comunicação online, sem cortes, sem censura. E você nem sequer elaborou sua opinião sobre isso.
Os japoneses foram varridos de seu território, e nem foi preciso uma bomba como naquela década de 40.
Mas até mesmo alguns momentos de luxúria da natureza podem nos espantar por sua magnitude e beleza.
 
Mas e aí?
Você viu isso no jornal e deitou para dormir com a consciência leve de um bebê. Eu também.
Não, você não tem que se punir pelo sofrimento alheio, mas tem no mínimo que criar o sentimento de empatia por aqueles que sofrem.
Você tem, no mínimo, que rezar, orar, pedir por eles, para que o sofrimento não seja maior do que o necessário.
Você tem, no mínimo, que rever a sua vida para que seja mais coerente com seus princípios e potencialize o bem que você faz ao próximo.
Você tem, no mínimo, que deixar cair a ficha de que você não é perfeito e que pode, sim, fazer a sua parte pra melhorar o mundo ao seu redor.
Na teoria é fácil, na teoria é tudo muito óbvio.
Mas você não acorda perdoando a má vontade alheia, você não acorda relevando os absurdos falados pelas bocas alheias.
Você não engole a comida pensando que na sua gula, você já é um grande sortudo enquanto milhares passam fome.
Sim, é difícil fazer a nossa parte, é cansativo remar contra a maré.
Mas se você ao menos tentar ser uma pessoa melhor, será menos um fortalecendo a corrente negativa que ainda persiste.
As leis da vida valem para todos, não se julgue mais merecedor por estar vivo hoje do que aqueles que já se foram.
Já dizia o documentário: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”.
 
Que em 2012, você se permita ser uma pessoa melhor e que estimule o que há de melhor naqueles com os quais convive.
Afinal, “gentileza gera gentileza”.
Difícil, eu sei. O sangue talha, o sapo engolido arrebenta, o mundo conspira contra seus sonhos, a vida é uma selva.
Mas tente. Não deixe de tentar, pois este tipo de fracasso não borra uma letra sequer da sua história.
Fracassar tentando ser uma pessoa mais “humana” é o passaporte para aquele sono de bebê, com a consciência limpa.
 
 

22/11/2011

Ilha de Páscoa



Ahu Akivi

Vulcão Rano Raraku


Ahu na vila Hanga Roa


Henry Garcia









Expedição Rapa Nui

Quando você pisa naquela terra, não imagina tudo que está além das milhares de reportagens e documentários que você assiste para se preparar para o paraíso. Nada é como pisar naquela terra, mesmo que você deixe de lado superstições sobre ondas energéticas, extraterrestres ou qualquer teoria afim. Não se trata de uma ilha turística como tantas outras, conhecida por suas praias ou pelo azul do Pacífico. Você não entende a ilha logo de cara... E eu procurava entendimento, de mim, do passado, das pessoas. Mas não pensem que eu encontrei.
 
Na Ilha de Páscoa a única certeza que você tem gira em torno de um binômio: fé e ambição. Uma história que representa claramente qualquer passagem humana pela Terra, revelando nossas fraquezas e vitórias. Nossa eterna mania de aproximação de deuses, enquanto mal sabemos lidar com o próximo, aqui, do nosso lado. Os moais são mais do que a representação dos ancestrais do povo Rapa Nui. São a comprovação do quanto estamos à mercê dos nossos egos. Estávamos pisando no umbigo do mundo e acabamos encontrando nosso próprio umbigo.
 
Assim que chegamos, fomos recebidos com aqueles colares floridos que nos remetem ao Hawaí. Afinal, a Ilha de Páscoa também faz parte do triângulo polinésico e a cultura dos 3 pontos possui semelhanças entre si. Chegamos ao hotel e, acompanhada do meu novo amigo também mineiro, arriscamos nossos primeiros passos. É muito fácil andar por lá, mesmo até os pontos mais distantes. Descobrimos logo de cara que à noite aconteceria o espetáculo Kari Kari, com danças da terra. Claro que compramos o ingresso por 10 mil pesos chilenos...
 
Descobrimos que próximo a Hanga Roa (a vila) estava uma parte do patrimônio histórico da ilha. Encontramos o Tahai, com seus olhos ainda pintados de branco e preto, com seu pukao que remete aos coques nos cabelos dos rapa nui. Não é um chapéu, como dizia o filme. Encontramos também um ahu (plataforma sagrada) e mais outro moai um pouco mais deteriorado, mas ainda assim magnífico. Os penhascos contra o mar completam o cenário que impressiona qualquer um que caminha pelos arredores. Você não pode pisar num ahu, é uma área protegida, mas eu havia me prometido uma foto abraçando um moai verdadeiro... Sim, agora me sinto culpada, mas eu tirei a bendita foto com o moai mais deteriorado... E agora ela está no meu mural. A consciência pesou tanto que não repeti a invasão nos outros dias e me ative aos moais “fake” espalhados pela ilha.
 
No segundo dia, encaramos um passeio contratado. Conhecemos as ruínas de Akahanga, com seus moais tombados pelas guerras entre as tribos rapa nui. Além de disputarem o poder, em determinado momento enfrentaram sua própria fé, derrubando os moais que representavam os ancestrais vangloriados e as homenagens aos deuses. Os pukaos rolaram metros adiante e as ruínas não foram restauradas exatamente para manter viva a lembrança desta parte da história do povo rapa nui, levando ao seu próprio declínio e posterior fragilidade diante dos colonizadores.
 
De Akahanga direto para Rano Raraku, o vulcão onde eram talhados os moais. Você paga uma taxa para entrar neste tipo de parque na ilha e seu bilhete vale para outras áreas protegidas. Pelo caminho você compreende a dimensão dessa história. Um moai tombado, quebrado em vários pedaços, mas totalmente protegido. A ação do tempo também é uma ação histórica. Caminhando pelas trilhas, você descobre um vulcão que já estava inativo antes dos ancestrais do povo rapa nui pisar naquelas terras, mas que ao mesmo tempo é sua base cultural. 400 moais espalhados por todo o terreno, acabados ou não, ainda deitados ou já enfrentando o vento, sendo talhados diretamente na pedra e revelando o trabalho manual necessário para executar obras de tamanha grandeza. Você encontra moais rodeando o lago que restou na cratera e pensa em como tantos moais deixaram de ser transportados devido ao extermínio das árvores na ilha (com o deslocamento dos moais utilizando as toras). A cultura rompida pela própria limitação da consciência ecológica a centenas de anos. E não é que ainda persistimos no mesmo erro?
 
Em seguida chegamos ao ahu Tongariki, restaurado pelos japoneses depois do maremoto de 1960 que derrubou estes moais no maior ahu da ilha. Lembrando que quase todos os moais estão posicionados de costas para o mar, olhando para o interior da ilha como se tomassem conta do seu povo e também os vigiassem. O ahu Tongariki possui apenas um moai com pukao e os demais são comuns, mas o que impressiona é o tamanho dos mesmos, a quantidade alinhada a contraposição ao mar azul. Eles estão olhando para o vulcão Rano Raraku e quando o maremoto aconteceu, foram arrastados pela área. Um deles ainda permanece derrubado, talvez com o objetivo de lembrar o povo rapa nui sobre sua fragilidade. É uma visão extraordinária e ainda mais bucólica quando você descobre os cavalos selvagens que circulam pelas redondezas... Cavalos estes que viraram “piada interna” entre nós (mineiros) e os amigos da Croácia e Sérvia que fizemos ao longo do dia... Dizíamos: “Wild horses” com um sotaque esquisito.
 
No terceiro dia também havíamos contratado mais uma série de passeios. Começamos nosso trajeto pela visita ao Rano Kau, outro vulcão inativo da ilha (são três). O vento era de cortar, frio e úmido como manda a tradição de qualquer “morro uivante”. Do topo podemos avistar a vila de Hanga Roa e vislumbrar o formato da ilha. Mas o que mais me encantou foi a história do lago que hoje está na cratera deste vulcão, povoado pela totora (aquela mesma vegetação flutuante do Lago Titicaca). Ele funciona atualmente como uma caixa d´água da ilha, represando água da chuva e escoando pela rede fluvial para toda a ilha, além de ter sido um reservatório amplamente utilizado pelos rapa nui naqueles tempos. Recentemente, devido às taxas de dengue na ilha, buscaram uma solução ecológica para o problema do lago: introduziram uma pequena espécie de peixe que se alimentava das larvas do mosquito. E assim aquela doença estaria com seus dias contados através de uma medida simples e controlada. Avistamos pela primeira vez o Kari Kari (sim, o mesmo nome do espetáculo), que é a abertura do vulcão onde aconteciam os importantes rituais da ilha. Um enorme precipício encarando o mar...
 
Chegamos a Orongo, território sagrado para o povo rapa nui. Um complexo histórico rodeado de lendas e rituais. 53 casas de rapa nui restauradas, demonstrando o estilo de vida daquele povo. Eram como tocas, com uma entrada pequena para barrar o vento constante, em que os rapa nui sempre se mantinham agachados ou deitados. Eram basicamente seus cômodos para dormir, pois não havia espaço para convivência interna. Do alto avistamos as ilhotas que compunham o ritual do homem-pássaro. Moto Nui e as demais ilhas são excelentes pontos de mergulho e seus únicos habitantes são os pássaros, os mesmos que em agosto chegavam à ilha para seus períodos de reprodução. E por este mesmo motivo o ritual era realizado entre agosto e setembro, uma vez que o objetivo era descer o Kari Kari, nadar até as ilhas, buscar o ovo do pássaro e trazê-lo de volta a Orongo, intacto. Muitos morriam já na descida do Kari Kari, que nada mais é do que um enorme penhasco diante do mar. Aquele que retornava primeiro com o ovo intacto era nomeado rei da ilha por um ano, tendo poder sobre as demais tribos. Além disso, recebia como prêmio a virgem branca, aquela que no filme ficava trancada numa caverna para que sua pele clareasse (não ter a pele bronzeada pelo sol lhe garantia um ar de pureza e santidade). O Kari Kari impressiona por sua beleza e por todos os sacrifícios que ali já foram feitos em nome do poder.
 
Orongo também possui petroglifos que registraram a história deste povo, especialmente do ritual do homem-pássaro. São imagens que retratam os vencedores desta corrida, os símbolos da fertilidade (incluindo as genitálias dos sexos), a chegada do pássaro na primavera. Outros animais são representados, tais como a foca (entendida como um ser divino), os peixes e as tartarugas. A população animal da ilha atualmente é composta especialmente por espécimes trazidos durante a colonização, modificando a ecologia natural da ilha. Os bois e vacas ainda têm chifres, coisas que não vemos mais no Brasil, por exemplo. Os cavalos selvagens estão por todos os lados. Cachorros (a maioria vira-lata) enormes e simpáticos rondam a ilha durante todo o dia. E os gatos estão sempre à espreita, gorduchos (se não vemos ratos, eis a explicação mais provável). Quanto às árvores, são todas recentes e espécimes também importados pelos colonizadores. Afinal, este foi o preço dos moais: as toras para rolar cada estátua para seu ponto de destaque...
 
Saltamos para Vinapu, mais um ponto misterioso da história da ilha. É o único ponto onde encontramos uma construção semelhante ao estilo dos incas do Peru, talhando as pedras para que o encaixe fosse perfeito e bem acabado. Estas são as únicas ruínas com este estilo em toda a ilha e não há elo que comprove uma eventual influência dos incas nesta cultura. O povo rapa nui veio da Polinésia, não há dúvidas sobre isso. Testes genéticos comprovaram as semelhanças com o povo polinésico, mas ainda assim permanece o mistério da relação com o povo dos Andes. Talvez a teoria do centésimo macaco explique esse conhecimento compartilhado. Quem sabe não somos mesmo pontos conectados numa consciência coletiva?
 
Rumo às cavernas que um dia foram utilizadas como abrigo pelo povo rapa nui, inclusive para proteger a plantação dos ventos marinhos. Chegamos a Ana Tepahu. Ana em rapa nui é “caverna”. Esta é uma das maiores cavernas da ilha, com cerca de 150 metros de largura. Caminhamos por lá, encontramos fósseis de coqueiros utilizados para suportar o teto da caverna. As plantações de frutas e outros vegetais na entrada da caverna servia para alimentar o povo e também barrar a entrada do vento cheio de sal. Tudo é muito escuro e eu, já conhecida pela minha falta de jeito e coordenação motora, andei pela caverna às cegas e resmungando que eu não precisava fazer aquilo (risos). Mas vale a pena conhecer e sentir aquele clima de esconderijo que toda caverna tem. Nosso guia contou sobre a dizimação desse povo, que recebeu os pacíficos holandeses (James Cook) mas que depois foram escravizados pelos piratas baleeiros. De 20 mil, entre guerras tribais e colonização, foram reduzidos a 111 rapa nui. Uma história de sobrevivência, dolorosamente humana.
 
Dia longo, não é? Ainda visitamos o ahu Akivi, o meu predileto. Não pela beleza, mas pela simbologia. Representam os 7 navegadores que se aventuraram pelo mar para chegar à ilha. São os verdadeiros colonizadores e ancestrais do povo rapa nui. E exatamente por sua ligação com o mar, é o único ahu que não está voltado para o centro da ilha. Eles observam o mar como todo desbravador das águas faria... Confesso que exatamente pelo encanto que me causaram, pouco ouvi o que o guia nos disse (Cristian, um descendente original do povo rapa nui). De lá fomos à montanha onde era extraída a escória vulcânica utilizada para talhar os pukao (rapa nui não tem plural) que representavam os coques nas cabeças dos nativos (que ainda é moda por lá). A escória vulcânica é vermelha e por isso você nota a coloração diferente daquela percebida nos corpos dos moais (sempre com grandes unhas, que representavam o poder).
 
Nossos amigos nos europeus nos forneceram uma informação que nenhum site de pesquisa relatou. A cadeia da Ilha de Páscoa é aberta à visitação. Os presos fabricam artesanato pela metade do preço que encontramos nas lojas no centro da vila (onde eu já havia gastado milhares de pesos). É uma longa caminhada pela vila, mas vale a pena. A cadeia mais parece um galinheiro em função da segurança precária, porém suficiente. Quem é o preso maluco que fugiria dentro de uma ilha onde ele não tem pra onde ir? Você não pode perguntar sobre os crimes cometidos. Os guardas não são armados, enquanto os presos estão em posse de serras elétricas para cortar a madeira utilizada no trabalho que os ajuda a sustentar suas famílias lá fora. Um modelo bacana, mas que provavelmente só funciona em pequenas cadeias como aquela. Os presos te engolem com os olhos, aconselho a não darem muita trela apesar da curiosidade. Dias depois levei um casal de novos amigos lá também e um dos presos me deu um “regalo” (presente) por eu ter levado novos turistas. Logo em seguida ele me pediu meu telefone. Rita Cadilac da Ilha de Páscoa, esse foi meu apelido no dia. A minha amiga é ativista dos direitos humanos e ficou encantada com o conceito. A vila militar é linda e fica bem ao lado da cadeia. Policiais e presos convivem num espaço compartilhado. Mas a pergunta é: quem é capaz de cometer um crime numa ilha que respira paz? E que tipo de crimes seriam esses? Isso eu não posso responder.
 
Quarto dia. Mergulho na praia de Anakena. Aquele azul deslumbrante, com a vista para o ahu que a equipe do Jacques Cousteau ajudou a descobrir em 1976. E não sei disso pela internet... Sei disso por Henry Garcia, francês, dono da Orca (operadora de mergulho), que fez parte da equipe de Cousteau e acabou se apaixonando pela ilha (e por uma rapa nui, eu acho) e nunca mais abandonou aquela terra. Criou ali o seu sustento baseando-se nos seus eternos princípios de adoração ao mundo marinho. E, claro, eu o conheci. Aliás, eu o irritei durante uns três dias com todas as minhas perguntas a curiosidade para saber mais sobre o meu ídolo Cousteau. Optei por esta operadora (são três na ilha) exatamente para conseguir a chance de ficar perto de alguém que fez parte dos meus sonhos de infância e que realizou as coisas que meu lado oceanógrafa ainda sonha... Quanto ao mergulho, foi bacana. Acabei por apadrinhar meu amigo mineiro, que caiu nas águas com cilindro pela primeira vez. Muitos corais, alguns peixes e aquela eterna sensação do “mundo silencioso”. Cousteau esteve ali, isso é o que me importava (assim como foi no cenote no México). À tarde, fomos até o museu da ilha, onde pudemos ver um dos 6 moais femininos já encontrados.
 
O dia seguinte amanheceu nublado. Mas não me impediu de caminhar e desvendar outros pontos da vila. À tarde me deitei perto do ahu da vila (próximo ao Tahai, o mesmo do primeiro dia) e li um livro. Poético, sim. Fiquei olhando pro mar, pro além, pros moais, pro tempo. Conheci dois chilenos da marinha, muito engraçados, e com meu espanhol improvisado demos boas risadas. Eles eram tão baixinhos que mais pareciam chaveirinhos perto de mim (eles mesmos disseram isso e fizemos umas fotos assim). Foi uma tarde de descanso, de contemplação, de constante espanto com os rumos que tomo na minha vida. De repente eu estava me dizendo: “ainda não acredito que estou aqui”. Mais um item da grande lista realizado. E ainda faltam muitos outros...
 
No último dia, fui à missa. A igreja da vila mistura estilos quase antagônicos. Na parede, um triângulo com um olho pintado. Seria algo da maçonaria? Os pássaros sagrados da cultura rapa nui circulavam as imagens da igreja católica, demonstrando o respeito à religião dos nativos, donos da terra. Quanto ao rito em si, uma coisa de arrepiar. Não sou das mais assíduas às cerimônias religiosas, mas é lindo ver as palavras católicas sendo repetidas ou afirmadas em cânticos rapa nui. Por sorte, sentei-me bem perto do líder da religião rapa nui, que cumprimentava a todos que chegavam e que repetia com a voz firme as expressões de sua religião (como se falassem “amém” a cada item celebrado). Foi uma despedida importante deste cenário tão místico e cheio de histórias...
 
De volta ao continente, observando a neve branca na Cordilheira dos Andes, pouco me restava: o livro pra terminar, as fotos pra rever e a dúvida constante... Eu estive mesmo lá? Eu fui realmente sozinha pra esse lado tão distante do mundo, o ponto mais ermo de qualquer ponto terrestre do mundo? Estou mesmo mais perto do Tahiti do que do Chile? Como o acordar de um sonho, em negação. Era tudo um delírio, mas muito rico em detalhes? Não, não era. Senti o colar que ganhei na despedida pendurado no meu pescoço, com um pequeno moai talhado em madeira. Sim, eu estive lá. E espero que outras expedições como essa permeiem minha vida, me lembrando constantemente da magia que me toca que só o conhecimento de outras culturas permite. Que Deus (seja ele católico, rapa nui ou qualquer outra opção) me dê memória o suficiente pra não me esquecer dessa experiência.
 

21/11/2011

Quem somos nós?


por Jacques Yves Cousteau

“Como todos os seres humanos, nascemos no coração da mãe-terra. Temos braços e pernas. Passamos grande parte da nossa vida na posição vertical, que nos dá uma maior autonomia e um maior conforto na terra. Vistos superficialmente, somos iguais a todos os seres humanos. Mas analisando um pouco mais a fundo, alguma coisa nos faz diferentes. Nascemos com os olhos acostumados ao azul das águas. Temos um corpo que anseia pelo abraço do mar.


Somos homens e mulheres de espírito inquieto. Buscamos na nossa vida mais do que nos foi dado. Passamos por grandes provas para aproximar-nos dos peixes. Transformamos nossos pés em grandes nadadeiras, seguramos o calor do nosso corpo com peles falsas e chegamos até a levar um novo pulmão em nossas costas. E tudo isto para quê? Para podermos satisfazer uma paixão. Um sonho. Porque nós, algum dia, de alguma maneira, fomos apresentados a um mundo novo. Um mundo de silêncio, de calma, de mistério, de respeito e de amizade. E esta calma e este silêncio nos fizeram esquecer da bagunça e da agitação do nosso mundo natal. O mistério envolveu nosso coração sedento de aventura. O respeito que aprendemos a ter pelos verdadeiros habitantes desse mundo, respeito esse que, só depois de ter sentido a inocência de um peixe, a inteligência de um golfinho, a majestade de uma baleia ou mesmo a força de um tubarão, pudemos compreender.


E a amizade? Quando vamos até o fundo do mar, descobrimos que ali jamais poderíamos viver sozinhos. Então levamos mais alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós. Porque além de poder salvar nossa vida, passa a compartilhar tudo o que vimos, tudo o que sentimos. E de duplas, passamos a ter equipes. E estas equipes passam a ser cada vez mais unidas. E assim entendemos que somos todos velhos amigos, mesmo que não nos conheçamos. E esse elo que nos une é maior do que todos os outros que já encontramos. E isso faz de nós mais do que amigos; faz de nós mais do que irmãos. Faz de nós. Mergulhadores".


Jacques Yves Cousteau (11/01/1910 - 25/06/1997)

18/11/2011

O Próximo

Existem duas formas de encarar a vida. Ou você vive esperando pelo amanhã ou você deixa o amanhã esperando por você. Prefiro a segunda opção em quase tudo que faço, claro, considerando aquilo que só depende de atitudes minhas. Agora... depender do próximo, é dureza. Depender do passo alheio me deixa desnorteada, afinal, sou uma eterna controladora dos meus passos. Não sou tão perfeccionista, acreditem, mas sou mesmo obcecada pelo “conhecido”. Esse papo de que o “desconhecido” é mais emocionante não aplica aos meus dias.
 
A gente insiste em achar que o outro vai agir como gostaríamos, ou vai agir como agiríamos. A gente esquece que somos diferentes em detalhes e muitas vezes são esses “mínimos detalhes” que mudam tudo. Seus gostos, seu estilo, seu jeito de ser, sua criação, sua referência, seu caráter. Tudo isso muda de cara pra cara, de gene pra gene. E ainda assim nos decepcionamos. Mania de nos iludirmos com a perfeição alheia, nos gestos, no bom senso e nos sentimentos. Eu insisto em trombar com gente assim, diferente demais de mim, e olha que estou longe de ser a perfeita boa samaritana.
 
Mas não dá, não consigo evitar a avaliação do absurdo, a punição da desonestidade, a descrença na transparência. Poucas vezes na vida eu me vi querendo de fato excluir gente da minha convivência. Normalmente faço isso naturalmente, sem muito esforço e muito menos sem peso na consciência. Mas quando faço porque é preciso, porque o outro me invade, me fere e me decepciona, aí sim fica difícil ser a pessoa pacífica de sempre. Fica difícil ser racional, pois neste tipo de caso, minha cabeça entende (“o ser humano é fraco e corruptível por natureza”), mas meu ego não (“não acredito que permiti que a corrupção se aproximasse de mim com a minha própria permissão”). Meu ego e meu coração, pois é difícil excluir da nossa pessoas em que apostamos e confiamos.
 
Quando o seu amanhã pode ser imprudentemente invadido pelo próximo, aí a coisa fede. Merda no ventilador. Não se deixar atingir pelas ações alheias é um enorme desafio pra mim, pois sou extremamente permeável. Não me separo das realidades alheias como se estivesse em uma bolha. Fagocito o mundo ao meu redor. Vivo em constante osmose quanto ao que gira lá fora. E aí acabo descobrindo que me irrito com uma felicidade criada em cima de um fracasso, me irrito muito mais do que gostaria. E resolvi escrever na esperança de tirar isso do meu pensamento e organizar as idéias, que estão exaustas disso tudo.
 

01/09/2011

Que aprenda!

A Terra pede pra respirar, como nós, mortais, faríamos se estivéssemos com um saco plástico preso na cabeça. Tem vulcão berrando pra todo lado no México, tempestade tropical se disfarçando de Irene, água furando tudo quanto é cano, bomba explodindo em acampamento juvenil, político corrupto sendo solto, petróleo invadindo Abrolhos. E tem hora que bate aquela sensação: puta que pariu, a humanidade não aprende?


Vossa eminência, estou na iminência do pânico. O mundo parece de cabeça pra baixo e continuo não sabendo o que fazer. Como se não bastasse, não consigo interferir no destino de quem amo, pois nem toda decisão parte do meu Facebook. Certas salas aprisionam decisões que mudarão rumos, amigos, salários. Enquanto isso, só falta o vulcão do Chile começar a roncar por volta do dia 19.


Já passei do meu inferno astral, mas o de muita gente ainda persiste. Espero que nenhum Moai tenha signo e que as águas do Pacífico fiquem quentes. Preciso ver as cores por outro ângulo, voltar com a alma translúcida como aquela água quase intocada. Intocável, na iminência de ser desvendada pelos meus planos de dominar o mundo. Não, não é um tabuleiro de War, é um propósito de vida.






16/08/2011

De Artigas a Vilaró

Se recebemos limões, temos duas opções: limonada ou caipirinha. Só não fique azedo se o destino te prega peças e te impede em alguns momentos de viver plenamente, segundo seus planos. Você pode ficar de fora do vôo, pode não ter teto pra pousar, mas vale a pena ver pelo lado positivo: você tem mais uma cidade na sua rota. Exerce seu direito como cidadã, espera muito tempo por um boletim de ocorrência, mas no final, curte o jantar, tem uma boa noite de sono e no dia seguinte ainda consegue um tempo para fazer uma visita guiada por Porto Alegre.
Dia 01:
Assim começou nossa viagem. Sentindo o vento frio do sul do país chegar do Rio Guaíba, capaz de congelar o nariz e embaraçar qualquer cabelo. Valeu a pena rodar pela capital do Rio Grande do Sul conhecendo seus pontos importantes. Porto Alegre tem prédios incríveis e uma praça que nos prometemos ainda voltar lá. Um conjunto arquitetônico maravilhoso, composto pela catedral, o Palácio do Governo, o Palácio da Justiça, etc. Mas que pena ver a situação da universidade federal, abandonada, mal conservada e em período de greve.
Logo depois do almoço e um chocolate cremoso (conhecem “xindongue”?), uma nova tentativa rumo a Montevidéu. Chegamos ao final da tarde, fizemos o check-in num hotel 3 estrelas que era bem razoável pelo preço que pagamos antecipadamente (Los Angeles). Sem frescuras, um prédio bem antigo na Avenida 18 de Julho, região comercial da Cidade Velha. Decoração dos tempos de colônia, como se estivéssemos congelados nos remotos dias de fundação da cidade. Frio de 13 graus, muito vento e ainda assim ânimo pra rodar a Praça da Independência. Estamos no ano do bicentenário do Uruguai (2011) e isso só corrobora nossa opinião: como pode uma cidade parecer ser muito mais antiga, mesmo sendo tão jovem? Envelhecimento precoce?
O velho hotel que representa a região central da “Ciudad Veja” contra o sol naquele fim de tarde era um grande golpe de sorte, já que no ano passado encontrei a cidade num dia nublado e chuvoso. Artigas representado em monumento, imponente e solitário em seu cavalo. O prédio da Presidência da República em estilo moderno, conflitando com a arquitetura local e criando o contraste típico dos modelos de governo sul-americanos em relação ao seu passado. É uma praça bonita e neste dia, parecia desabitada. Nunca vi um ponto turístico tão vazio, mas isso não impediu que um “papagaio de pirata” ainda assim participasse com convite de uma foto minha com o hotel ao fundo.
Andamos até a Rambla, avenida “beira-rio” que delineia toda a cidade. A magnitude do Rio da Prata em ondas, como se fosse um verdadeiro mar. Afinal, o Uruguai deve sua razão de existir a Solís, descobridor deste rio que se transformou em riqueza nos tempos do comércio entre impérios. Uruguai que já foi território brasileiro! Mas que tem uma capital construída no estilo de Buenos Aires. Belas construções, por sinal, que estão abandonadas e que se deterioram com o passar do tempo... História que se perde por falta de incentivo e atenção por parte do seu governo, que não foi bem julgado pelo nosso amigo taxista. Paramos numa confeitaria e, claro, eu pedi uma medialuna (nosso “croassaint”, porém melhor), enquanto minha amiga Renata pediu um tipo de brioche com o famoso doce de leite uruguaio.
Rumo ao hotel naquele sábado congelante, passamos por várias bancas de comerciantes e pelas vitrines das lojas da Avenida 18 de Julho, que é referência pelo seu comércio. Mas um aviso aos navegantes: nenhum preço milagroso, nenhum produto diferenciado. Não ande por lá esperando comprar tudo pela metade do preço nas lojas que mais lembram o centro de Belo Horizonte. Os vendedores de rua podem até oferecer luvas, toucas e cumbucas de chimarrão a um bom preço, mas pára por aí o consumismo. Aliás, o mate faz sucesso por lá como eu nunca tinha visto! Lembre-se que na atual conjuntura, um real equivale a dez pesos uruguaios. Trocar a moeda nas casas de câmbio do Uruguai atualmente é melhor opção do que trocar no Brasil.
À noite retornamos à Praça da Independência e descobrimos um beco em frente ao Teatro Solís. Encontramos uma tradicional “parrilla” e não hesitamos. Era hora de comer dignamente depois de tanto caminhar. Frio de 9 graus de endurecer as canelas, mas a calefação é mesmo um recurso fundamental nessas horas. Pedimos um cabernet sauvingnon uruguaio, da marca Don Pascual, e me surpreendi. Como gosto de vinhos brancos e leves (especialmente frisantes), finalmente provei um cabernet que não me deixa com a língua azeda (coisa típica de quem não entende de vinhos e reclama de barriga cheia). Pedimos o “bife ancho”, segundo Renata, um patrimônio imaterial do Uruguai, assim como o pão de queijo em Minas. De sobremesa, creme brullé, uma dessas frescuras feitas com ovo, leite e sei lá mais o quê. Alma aquecida, fome satisfeita e riso frouxo. Hora de voltar para o hotel. Aliás, o taxi é mesmo muito barato. Já no hotel, uma tentativa de uma cambalhota no corredor, algumas fotos pitorescas no sofá que também deve estar fazendo 200 anos. E um sono merecido!
Dia 02:
Acordamos cedo, empolgadas com os planos para o dia. Como perdemos o primeiro dia de viagem, desistimos da ida à Colônia de Sacramento, cidade histórica uruguaia. Optamos por ir à Casa Pueblo, rumo a Punta Del Leste. Tomamos um taxi para o terminal Tres Cruxes e de lá um ônibus convencional rumo a Puertozuelo. Passamos por um nevoeiro interminável, que só se dissipou quando nos aproximamos da região costeira. Descemos na rodovia mesmo. O trocador balbuciou algumas instruções e só entendi que precisávamos descer. Encontramos uma placa e seguimos por uma estrada... Avistamos Punta Del Leste depois de muito caminhar... Passamos por um condomínio de bonitas casas (mansões que devem bombar no verão) e muito tempo depois chegamos à entrada da Casa Pueblo.
Visitamos o museu da Casa Pueblo, na Punta Ballena, recinto dedicado às obras de Carlos Vilaró, uruguaio que valoriza o sol de sua bandeira em muitas obras de sua coleção. Muitas cores, formas geométricas lembrando Romero Britto. Muitas referências a Van Gogh e Picasso. Mas o que impressiona mesmo é a construção em si, toda pintada de um branco intocável. Formas arredondas intercaladas por extremidades pontiagudas, cravadas na montanha à beira-mar. Você praticamente se imagina nas construções brancas que também existem na Grécia, Santtorini, países árabes, etc. É intimidante... Ficaria com medo se eu ainda por cima conseguisse avistar baleias dali naquela época do ano, razão do nome daquela ponta de terra em direção ao mar.
A Casa Pueblo ganhou mais espaço com a construção do hotel de luxo ao seu redor, seguindo o mesmo modelo arquitetônico. A estrutura como um todo tem uma proporção que não se percebe olhando pela varanda do museu. Renata recebeu a dica de uma amiga sobre o restaurante do hotel e corremos até lá. Éramos só nós duas tomando um elevador no rumo contrário: descendo 9 andares referentes ao espaço do hotel incrustado na montanha. Quando chegamos ao restaurante, nos deparamos com uma vista magnífica que ainda assim deve equivaler a 1/5 do conjunto arquitetônico completo. O vento cortante não nos impediu de fazermos várias fotos do lugar. Almocei um belo peixe local com um purê de batata meio sem tempero. Renata pediu uma massa com queijo gruyere. Não é barato, mas vale a pena. Era hora de voltar, refazer o percurso e tomar o ônibus de volta à capital uruguaia. Esses momentos de deslocamento eram nossa oportunidade de algum descanso.
Já em Montevidéu, mais uma caminhada longa pelos trechos da Avenida 18 de Julho que ainda não havíamos passado. Bonitos prédios e manifestações populares em plena atividade. Ainda não sei dizer como, mas tenho mesmo um carma com essas manifestações... Aconteceu a mesma coisa na Argentina! Caminhamos até uma lanchonete, mas não tínhamos fome o suficiente pra encarar um “chivito”, que é o nome dado aos hambúrgueres uruguaios. Adivinhem o que comi? Medialuna! E Renata encarou uma panqueca adivinha de que? Doce de leite! Fomos para o hotel e nem conseguimos sair à noite. Planejávamos um jantar no restaurante do Teatro Solís, mas estávamos exaustas.
Dia 03:
Madrugamos pra aproveitar a manhã que nos restava. O café da manhã do hotel era bem esquisito e já sabíamos que precisaríamos de um lanche intermediário. Fomos direto para a Rambla, na altura do Museu Zoológico e Oceanográfico na Playa Del Buceo. Como pode ventar tanto numa cidade, ao ponto de transformar o rio em um mar de altas ondas? Gaivotas e pombos disputavam a areia e as pedras da praia. O museu infelizmente estava fechado, mas sua arquitetura exótica valia a pena. Ano passado eu achei que era uma mesquita. Só conseguimos avistar o esqueleto de uma girafa pela porta e de lá caminhamos pela Rambla até um bondoso taxista finalmente nos resgatar.
Rumo ao Mercado Del Puerto, ouvimos mais histórias. Fato é que ficamos amigas de todos os taxistas, extraindo deles a percepção popular que não consta nos guias de viagem. Passamos pelo porto e reconheci o prédio que avistei ano passado ao descer do ferryboat (Buquebus). O mercado ainda estava fechado, preparando-se para receber as pessoas no horário do almoço. É basicamente um espaço gastronômico, com poucas opções de souvenirs e artesanato. Mas traduz completamente a tradição uruguaia quanto aos cortes de carnes, parrillas, vinhos e gula. Encontramos uma lanchonete com as tradicionais empanadas. Nome: “Empanadas Carolina”. Foto, claro. Completamos nosso café da manhã e fomos caminhar pelo bairro.
A região do porto também abriga das instituições financeiras da capital. Muitos bancos, muitos órgãos financeiros e prédios muito antigos. Volto a falar: se Montevidéu estivesse preservada, seria de uma beleza espantosa. O destino nos levou a belas igrejas e prédios com grandes colunas em estilo greco-romano. Monumentos, algumas cantadas dos uruguaios portuários e muitas galerias de arte. Podíamos passar horas entrando em cada uma delas, se soubéssemos disso antes! Voltamos ao mercado e optamos por nos sentarmos na Cabana Verônica, com uma enorme referência ao sol de Vilaró. Experimentamos o vinho Tannat, que só existe nesta região e em alguns trechos da França. Optamos novamente pelo Dom Pascual. Forte, e eu diria ainda: ele é primo do nosso vinho Chapinha! Vale a pena experimentar.
Era hora de partir. Já estávamos dentro do prazo limite para retornarmos ao hotel e buscarmos nossas malas. É importante lembrar que os taxis pretos e amarelos são muito mais baratos do que os brancos e na volta pro aeroporto confirmamos isso: metade do valor que gastamos na chegada. No aeroporto, um Free Shop de dar medo. Segurem os bolsos, porque o que você não gastou nas andanças, pode evaporar nesse momento! De volta pra casa, de volta ao mundo real. Mais uma máscara na parede, mais três ímãs na geladeira e muitas fotos pra contar o que vi com meus próprios olhos...
Fotos no próximo post...
 

09/08/2011

Antes de Partir

Estou naquele instantezinho do tempo em que me sinto dividida quanto à espera: é bom ter o que esperar, é bom saber que um dia vai estar lá, mesmo que isso te roube o sono e te deixe ansiosa. Vivo de esperas, e talvez eu sempre espere muito, especialmente de mim mesma. Quero passos largos, quero planos a curto ou longo prazo. Não é à toa que tenho uma lista do que ainda quero fazer...


Hoje estou beirando meus 29. Aos 16, que se não me engano foram ontem, eu fazia planos para o que sou hoje. Agora faço planos para minha terceira década. “Haja hoje para tanto ontem”, frase supostamente roubada de Leminski. Estamos em agosto, aquele bendito mês em que o vento uiva, os ipês florescem e se vão, quando eu descubro que tenho menos um ano para cumprir tantos planos. Por mais alvissareira que minha vida seja, será que vou realizar tudo que pretendo?


Não interessa. Esperar, fazer as malas, me permitir idas e vindas – isso me move, isso me mantém de pé. Disse Clarice Lispector hoje, através do seu correio eletrônico direto do céu: “Que medo alegre, o de te esperar”... A expectativa de romper distâncias enormes, de estar num túnel do tempo e do espaço, como se não houvesse limites quando se tem um bom propósito. Mas diriam os outros: “de bons propósitos o inferno está cheio”...


Propósitos estes que provavelmente só eu entendo, pois só cabem ao meu coração. Mas se for necessário encarar o outro lado da esfera sozinha, que assim seja. Desde que eu sempre atravesse os meridianos com a sensação de sonho realizado. Sonhos estes que encorpam um único desejo: o de ver tudo com meus próprios olhos.


Quero muito ir, sempre ir, e de vez em quando voltar. Voltar quando a saudade for sincera, quando o cansaço bater, quando eu descobrir que pertenço (ou não) àquele lugar. Sacrifícios são feitos, mas tornam-se irrisórios quando mensuramos o impacto do trajeto percorrido em nossas modestas almas. Não que quem vá que volte do mesmo jeito que foi.










26/07/2011

Quem tem um olho é rei?

Escrevi sobre o filme Ensaio sobre a Cegueira em 18 de setembro de 2008. Estou desenterrando alguns textos aqui!
 
Cada um só enxerga aquilo que quer realmente ver. É um ditado? Sabedoria popular? Instinto? O que importa é o fato de que nós, seres humanos, cegos ou não, só enxergamos aquilo que desejamos, ou seja, vamos sempre nos guiar pela ignorância enquanto esta nos for mais agradável.
 
O que vi neste filme é aquilo que vemos em poucos: nossa fragilidade. A maioria dos filmes nos trata como deuses, como símbolos de força, como criaturas perfeitas. Nesta oportunidade única somos expostos aos nossos maiores medos e defeitos: a realidade crua faz todos se contorcerem nas poltronas, seja por incômodo, por nojo, por agonia.
 
O que vi neste filme foi exatamente aquilo que poucos percebem: as imagens são claras e fúnebres como o próprio tema, representando a nossa cegueira como seres conscientes do nosso papel social. Não conseguimos escapar daquele mundo cinza onde mergulhamos em nossas primeiras necessidades, aquelas que suprimos como meros animais guiados pelo instinto. Somos reféns das nossas próprias loucuras.
 
O que vi nesta seqüência de personagens tão realistas é exatamente aquilo nos recusamos a imaginar: um mundo onde perdemos este controle que hoje insistimos em caracterizar como nossa grande realização no mundo, ou seja, perdemos a humildade diante de nossa natural fragilidade como seres vivos. Cada passo rumo à cegueira mundial, descobrimos mais sobre nós mesmos, deixamos transparecer tudo aquilo que escondemos diariamente graças à nossa razão.
 
O que vi diz mais respeito ao que senti do que às imagens propriamente ditas. A condição humana se deteriora em tão pouco tempo e daí: o que seria do nosso mundo se não pudéssemos sequer mantê-lo em um estado saudável e limpo? As disputas crescem proporcionais ao desespero e daí: a que ponto podemos chegar ao perdermos a razão que nos caracteriza diariamente e que controla nossos impulsos mais íntimos? Tudo aquilo que postulamos em filosofias ao longo de milênios se quebra como cristal e daí: será que podemos mesmo sempre garantir o controle de nossos desejos? Numa cidade onde a luta diária já nos torna competitivos por natureza, somos obrigados a brigar por aquilo que nos é mais fundamental: a dignidade.
 
O que importa é nos colocarmos numa situação semelhante, seja na posição dos cegos bonzinhos, dos cegos cruéis, dos cegos reais ou daquela que por algum motivo se manteve imune. Aliás, que imunidade é esta, concedida ao personagem da Julianne Moore, que lhe dá a condição de liberdade almejada por todos? Até que ponto esta liberdade, esta autonomia não lhe faz sofrer mais do que todos aqueles que não estão enxergando com os próprios olhos a desolação humana e a perversidade descarada? Até que ponto você realmente gostaria de ser um dos únicos providos do direito de ver tudo aquilo que todos iriam preferir desprezar? Este personagem apenas nos faz enxergar que a maioria de nós poderia se acovardar facilmente diante da visão de um mundo terrivelmente abandonado e que carregar um mundo cego em suas costas torna-se um fardo que poucos poderiam suportar com nobreza.
 
Sim, meu estômago embrulhou em várias cenas de violência durante a permanência dos infectados no hospital abandonado. Embrulhou inúmeras vezes em cada cena onde as condições sanitárias nos mostravam a discrepância em relação à nossa rotina. Embrulhou mesmo, o tempo todo. Embaçou a minha própria visão do que somos, a todo instante. Enfim, de onde surgiu a cegueira é o que menos importa. Nesta versão cinza do mundo, quem tinha um olho podia realmente ajudar, mas ninguém jamais almejaria reinar uma terra onde a esperança não consegue iluminar nossas almas.
 

7 Dramas do Telefone

Escrito em 29 de abril de 2009.
 
 
Boa tarde. Meu desabafo hoje gira em torno do meu pânico de atender telefone.
 
Número 1: Insistência.
Toca o telefone. Toca enquanto você não atender ou enquanto a pessoa não desistir. Saímos da insistência ao grau máximo da chatice. Que não se confunda com persistência, pois persistir é lutar, não incomodar.
 
Número 2: Desistência.
O ódio maior surge quando o insistente de repente se acovarda. Adivinhando, alguém do outro lado simplesmente desiste exatamente quando você toma coragem e ânimo pra atender. Neste momento, sua garganta trava, a boca seca e a raiva toma conta dos seus pensamentos: - Quem foi o panaca que desistiu da ligação? Ou... – Sabia, era só eu levantar pra atender que ia mesmo desligar.
 
Daí que você começa a achar que todo mundo te liga só pra desligar.
 
Número 3: Neurose
Você tem certeza de que está sendo espionado. Alguém estaria te vigiando, confirmando se você está disponível pra simplesmente pegar o gancho do telefone e desligar na sua cara? Quem seriam os suspeitos? Quem teria este prazer, de suplantar o ódio em sua alma apenas pra fazer hora com sua cara?
 
Número 4: Psicose
Certezas à parte, um psicopata não mede seus impulsos. Quando o telefone toca de novo, você o fuzila com um olhar, como se sua mente fosse controlar a pessoa que está telefonando pra você. De repente, você imagina um “vudu” em ação, espetando a pessoa até que ela desista de te ligar. Sem opção, você atende. Solta um “alô” tenso, carregado, já avisando que não está pra muito papo.
 
Número 5: Indiferença
Depois do “alô” inevitável, você já está dominado pelo estresse. A outra pessoa ainda pergunta “quem fala?” e a sua vontade de responder é “fala quem vc queria que falasse quando ligou pra este número”. Você sente uma vontade enorme de dizer “não me interessa se você ficou magoado”. A pessoa do outro lado acha que você está à disposição e que você pode ligar quando quiser. Mas não é bem assim que funciona.
 
Número 6: Egoísmo
Quando uma pessoa te liga, ela automaticamente considera que se você atender, você está disponível. Mas normalmente não está! A pessoa acha que seu tempo é o tempo dela, que ela pode te interromper sempre que quiser! Normalmente o telefone toca exatamente quando você está: a) dormindo, b) concentrado, c) discutindo a relação, d) vendo seu programa predileto na TV a cabo, e) com preguiça de falar com qualquer um no mundo. Se você não se encaixa em nenhuma das opções anteriores, você nem sequer é humano.
 
Número 7: Pânico
Daí que nessa loucura toda, só atendo agora por obrigação (exemplo: trabalho). Meus amigos irão me entender. Sabem que respondo por e-mail, comunidades virtuais, mensagens e às vezes até ligo de volta (mais pra descontar a raiva e me vingar do que pra saber o assunto). Minha mãe já sabe do meu pânico e ligo de volta assim que estou no meu tempo, ou seja, quando estou realmente disponível para telefonar. Sem interromper a minha vida porque os outros decidiram assim. Isso é liberdade! Graham Bell, a revolução começa aqui.
 
Obs: Estamos em 2011 e continuo com a mesma opinião sobre o bendito telefone.
 

Anjos, Demônios e Humanos

Escrevi este texto em Maio de 2009. Acho que vale a pena deixar aqui no blog.
 
 
Anjos, Demônios e Humanos
 
 
Ao sair do cinema, uma reação quase imediata: questionamento. Não vou entrar no mérito quanto à verdadeira história da Igreja Católica (esta tarefa fica para meu amigo historiador que sempre estraga o prazer da ficção), muito menos sobre os “Iluminatti”. O debate em si pode ser muito mais rico e transcender aos fatos armados pelo autor do livro que inspirou o filme. Afinal, a grande maioria não conhece Roma e não sabe se de fato todas aquelas estátuas sempre apontam para algum lugar. 
 
O debate religioso será sempre polêmico. Cada um defende a sua fé, tomando como verdade aquilo em que acredita. A natureza humana instintivamente busca suas raízes, se identifica com crenças e seleciona alguns recursos que minimizem sua solidão. Acreditar em algo superior conforta e confiar na punição divina talvez torne o mundo menos injusto. Afinal, só assim não estamos completamente sozinhos, nem quando dormimos, nem nos momentos de grande angústia ou desespero. A fé é, antes de mais nada, uma lei social que impõe regras “invisíveis”, as quais nos tornam mais racionais e possibilitam uma convivência mais digna.
 
Daí que talvez eu tenha mesmo algo em comum com o professor Robert Langdon - talvez seja muito “acadêmica” para conseguir explicar a fé e muito “insignificante” para ter o dom desta certeza. O filme fala de uma conspiração fictícia, portanto não busque defeitos ou confirmações na realidade. Mas vale pensar em tudo que a humanidade já escondeu, em como somos perversos e ao mesmo tempo tão inocentes para acreditarmos em falsos heróis. Se algum dia realmente tivéssemos certeza do fim dos tempos, agiríamos naturalmente ou tentaríamos ser santos apenas por medo e instinto de sobrevivência? Até que ponto seríamos mesmo honestos? E de que adiantaria ser lobo em pele de cordeiro, se Ele conhece as profundezas de nosso coração?
 
Fé é um tema que quanto mais se discute, mais se ofende. E definitivamente esta não é a minha intenção. Também acredito em “algo” que não consigo explicar, muito menos provar. Afinal, “acreditar” nos torna mais humanos, nos aproxima dos anjos e nos afasta dos demônios diários que enfrentamos. “Acreditar” talvez simplesmente signifique ter esperança. “Esperar” por algo melhor e “fazer” o nosso melhor pode ser a nossa real salvação.
 
Sinopse do Filme
O assassinato de um cientista faz com que o professor Robert Langdon (Tom Hanks) e Dra. Victoria Vetra (Ayelet Zurer), envolvam-se com uma trama da sociedade secreta dos Illuminati. Ciência e religião se refletem no mistério da anti-matéria. O Vaticano convoca a dupla (um simbologista e uma física), buscando a solução para uma conspiração envolvendo o assassinato de cardeais, às vésperas da eleição do novo Papa, que coloca Roma em perigo.
 
Obs: Meu irmão é maçom.
 
 

25/07/2011

Eu, Social

Fazemos parte hoje da década da “mídia social”. A geração que nasce agora vai encarar um mundo onde ter o seu “avatar” na internet é mais do que natural: vem de berço. Estamos na rede, conectados por usuários, contas, e-mails, números e senhas. Hoje somos completamente rastreáveis, desde que estejamos conectados na mesma realidade. Estatísticas podem falar sobre isso melhor do que eu (http://www.youtube.com/watch?v=gIDB9qB1DN8). Você é um código de banco, um CPF, um registro de identidade, um CEP, um índice cadastral, um IP, um usuário em cada site, um login na rede, ou seja, você é uma pista pra si mesmo. Estamos nos tornando itens do patrimônio globalizado. Melhor estar catalogado do que viver à margem da modernidade? Eis a questão.
 
Mas não adianta negar: realmente tudo isso beira à loucura para alguém que, como eu, quase aos 30 hoje,  ficou deslumbrada quando descobriu o telefone sem fio, a TV a cabo com desenhos sem legenda, o computador com DOS, o celular ainda com antena, o wireless ainda cheio de estranhamento, o MP3 minúsculo, o Ipod que ainda me dá uma surra, etc. Com quantas tecnologias você tromba todo santo dia e se assusta? Graham Bell que me perdoe, mas eu ainda nem digeri a invenção dele, o que direi das demais!? Há alguns anos atrás perdia horas discutindo este tipo de assunto no sofá da república estudantil da qual fiz parte e cheguei a uma conclusão: a modernidade é um assunto que só bêbado entende. Continuo sem entender como temos fotos de galáxias, como o sinal da televisão chega na minha casa com imagens, como a voz viaja pelo rádio, como o DNA define o que somos, como somos feitos de aminoácidos pensantes, como nasce uma pessoa. Pois a vida humana é a suprema tecnologia da natureza, em seu estado puro...
 
Nos últimos dias corri contra o ponteiro do tempo. Pelo pouco que sei, já fico espantada com as teorias físicas que surgem no mundo moderno. Cordas, dobras, buracos de minhoca, buracos negros, água em Marte. E daí vem a conclusão de que de fato o tempo é elástico, acompanhando o quanto exigimos dele. Você pode fazer milagres do “quase” tele transporte, saltando de um país para outro em horas se tiver os recursos certos. Quando é que os colonizadores famintos pelo ouro por volta de 1500 imaginariam que suas navegações históricas e o genocídio de civilizações inteiras, seriam substituídos pela informação que não se limita ao tempo e espaço? Você literalmente viaja sem sair do lugar, apesar as limitações da vivência virtualizada. Hoje você é uma peça na tal Sociedade do Conhecimento, essa bendita de quem ouço falar desde os meus tempos da faculdade, como uma teoria de pensadores malucos. Você vive múltiplas realidades, mesmo que não se possa estar lá de corpo presente.
 
Não dá pra fugir dessa tsunami de informação, convívio e sociabilidade. Você pode resistir, mas vai aos poucos se sentir perdido e contra a maré. Guetos virtuais existirão, representando a sociedade concreta, mas a nova mídia permitirá que seu alcance e seus relacionamentos cresçam exponencialmente. Antes você era X, agora você é X ao quadrado quando se trata da capacidade de comunicar e alcançar mentes alheias. Você agora é mais do que um microfone. Você é um megafone. Formador de opinião, ou “desinformador” de qualquer outra coisa. Polêmico superficial, ou observador contingencial. Não importa, você simplesmente faz parte. Você pode resistir, mas acredite: tem onda que vale a pena surfar. Se quiser, volte pra terra firme. A história prova que resistir às mudanças ou encará-las como um desafio definem as espécies que sobrevivem. 
 
 

14/07/2011

Como corre uma solteira

Se você pensou que entrar num curso para procurar um marido era uma estratégia inusitada, acredite: existem muitas outras formas malucas de procurar a bendita agulha no palheiro. Como se não bastasse se tornar uma profissional especialista, coisa chique no mercado, ela também estava decidida a ser uma atleta... Mas a corrida era outra: correndo atrás de um cara que talvez valha a pena. Como é que chegamos a esse ponto?
 
Simples. Ela o conheceu. Parecia um cara agradável, bem apessoado, buscando formação numa pós-graduação. Caiu a ficha? Sim, ele era aluno do curso em que ela se matriculou. Digamos que havia uma possibilidade da tal estratégia inusitada dar certo. Eles se aproximaram, trocavam idéias sobre auditorias, gestão, indicadores. Papo de adulto descolado, quase “Cult” (se entraram no assunto Cinema e Livros, eu não sei). Ele era de outra cidade, estava se enturmando numa cidade grande (menor que a sua, no entanto) e nada melhor do que a “relações públicas” do mundo dos solteiros para fazer sala.
 
Marcaram uma corrida, novo programa que virou mania na cidade. Agora ninguém chama mais pra caminhar: você tem que correr. Você já corre o maldito dia inteiro: no trânsito, no trabalho, em casa. E ainda tem que correr por aí, porque agora é moda e faz bem pra sua imagem. Foram até uma dessas avenidas em que os supostos atletas balançam seus quadris. Uns em forma, outros nem tanto. Fato é que toda a encenação se divide entre: 1) os desesperados pra emagrecer, 2) os que foram esculachados pelo médico por causa do colesterol, 3) os que querem se exibir e, agora, 4) aqueles que usam a corrida pra se sociabilizar.
 
Ele decidiu apertar o passo, ela ficou aos galopes. Por quando não se corre, tudo parece mais um trote. Ele tomou uma distância considerável e ela acabou vencida, derrubada na calçada. Quanto o avistava, levantava-se imediatamente, fingia uma respiração ofegante e corria em sua direção. Ele, sem entender como ela corria tanto, mas ainda estava tão atrás, perguntava: “Ué, não te vi passando!” Em uma sinapse imediata, ele retrucou: “É que dei a volta na praça, por isso você não me viu”. Ela “paga de atleta” e ele de “pateta”. Afinal, o que importa é a propaganda, pois o produto não é nada sem um bom marketing.
 
Dão mais algumas voltas, apenas caminhando, como dois colegas de corrida. Falam sobre a vida e aí voltamos àquele bendito questionário que se faz quando um pretendente é localizado: De que signo ele é? Ela pensa: “Se for aquariano, melhor nem tentar...” Qual a relação dele com a mãe? Ela conclui: “Será que ela é uma boa sogra?” Será que ele corre porque é complexado? Ela questiona: “Ai, meu Deus, complexo de quê?” Será que ele tem um bom fôlego? Ela ri: “Melhor que tenha, ninguém merece um homem mais ou menos.” Será que ele vale a pena? Ela desiste: “Coitado.” E cada um vai pra sua casa. Chega da novela por hoje.
 

12/07/2011

A vida de uma solteira

Quando ela me contou, não acreditei. Ela decidiu se matricular numa pós-graduação caríssima pelo último objetivo que eu imaginaria: ela queria um namorado, futuro marido em 2012. Estávamos no carro, rindo das coisas da vida, até que ela me soltou essa bomba. A que ponto o mundo chegou? O professor da pós seria algum tipo de cupido moderno que eu desconheço? Acredite, essa estratégia pode parecer absurda, mas você já restringe seu público alvo e classe social. Não é uma má idéia descabida. Talvez seja um diploma que a certifique na disciplina de mazelas da vida moderna de uma mulher solteira: falta homem no mercado.
 
Não é fácil, amiga, concordo com você. Mas não deixa de ser engraçado imaginando você se inscrevendo e se apertando financeiramente pra achar um marido, e não ter como primeiro objetivo a sua própria graduação. Sigam meu desenho do processo: ela entra numa instituição renomada, no seu salto alto, dirige-se até a secretaria da instituição. Ela é independente, tem cabelos curtos, olhos esverdeados e todo um estilo lady de ser. Pede um formulário de inscrição, analisa as parcelas, verifica o planejamento do conteúdo do curso. Aí vem o problema.
 
No formulário, diz: “qual a sua expectativa quanto ao curso”? Resposta: conseguir um bom casamento. “Da formação em gestão de negócios, enumere conforme o grau de interesse”. Resposta: 1) Casar 2) Não me divorciar 3) Ter um filho. Ela pensa: “Shi, eles não têm a opção de comprar um apartamento”... Não se trata de um programa focado em negócios, mas sim na sua árdua negociação nesse mundo de pressão que cerca as solteiras. Não é fácil, minha gente, estar bela, depilada, ser inteligente, simpática, ter um bom emprego, estudar e ainda por cima arranjar uma brecha na agenda pra procurar uma agulha no palheiro.
 
Ela está fazendo o curso, já assumiu o posto de “baladeira” da turma, pois vive tentando marcar eventos para reunir a turma e de uma certa forma montar seu processo de seleção criterioso. Se fosse uma empresa de Recursos Humanos, seria uma “caçadora de cabeças” nata. Das unhas cortadas à cor da gravata, do “menas” ao “gentil demais”. Do careca ao bem dotado. Não é fácil e só pra complicar, não existe currículo que fale sempre a verdade.
 
Caso 1: Se ela marca um churrasco, já avalia a adequação ao escopo. Se ele for de boné, que não seja um boné de propaganda, mesmo que seu pai seja dono da empresa. Se ele for de bermuda, que não ouse ir de chinelos. Se ele for com uma camisa pólo, que não exagere colocando ela pra dentro da bermuda e que a gola não esteja frouxa de tão velha. Se ele for do tipo mais descolado, que não confunda falta de higiene como estilo: corte o cabelo, meu filho! Apare especialmente aqueles pêlos que pulam do nariz e orelha, pois não há mulher que suporte!
 
Caso 2: Se ela marca um happy hour, já avalia outras variáveis pra saber se o projeto vale o investimento. Se ele for de carro e encher a cara, é um irresponsável. Não seria bom marido, bom pai de família. Se ele for de taxi e aproveitar para encher a cara, fique atenta aos vexames. Homem que começa a dançar balançando demais os braços ou que começa a cantar a música em voz alta, não tem estrutura psicológica confiável. Se ele for de taxi e não beber muito, pode ser que ele tenha uma chance, portanto passe ao quesito vestimentas e bebidas que ele toma. Se ele for no carro dele, não beber muito e te oferecer carona, sem levar outras pessoas também, garota, é a sorte grande! Mas também exige a avaliação de outros quesitos: o quanto ele é cheiroso, onde ele trabalha, como ele se relaciona com a família, quando foi a última namorada e por que terminou, se ele é bonito o bastante.
 
Acredite, outros inúmeros casos poderiam ser enumerados quando se trata do processo de escolha de uma mulher solteira nesse mercado onde sobram poucas opções. Falta homem, fato. Mas o pior é falta homem bom, fato ainda mais assustador. Eles acabam, na maioria das vezes, se encaixando num esterótipo doloroso: ou são galinhas, ou são feios demais, ou são preguiçosos, ou são gays enrustidos, ou gays assumidos. Atenção, eu disse “na maioria das vezes”. Não sei onde você encontrou o seu, mas acho mesmo que a busca na pós graduação não é tão absurda assim. Aguardem cenas dos próximos capítulos.
 

30/06/2011

Coisas da Vida

Em 2009 iniciei duas correntes: a do Bem e a da Volta ao Mundo. Desde então saio por aí colecionando abraços, conhecendo gente nova, abrindo meu coração ao ato de compartilhar carinho sem cobrança, sem posse. Desde então sei que meus amigos se lembram de mim nos mais diversos momentos, viajando pelo mundo, carregando meu nome como se ele tivesse o poder de levar a minha essência a cada lugar visitado.


Claro, isso tudo pode parecer uma grande idiotice. Sair por aí nessa onda de “free hugs”, sair por aí pedindo fotos aos amigos que estão viajando pelo mundo como se isso mudasse a minha condição de 85% do tempo “enraizada nos meus cafundós”. Sempre colecionei tudo quanto é tipo de coisa, mas descobri que me apegava desnecessariamente a elas. Ainda coleciono abraços, fotos dos amigos pelo mundo, máscaras nas paredes da casa. Ainda tenho mania de ímãs de geladeira, de filmes que gosto, de souvenirs das minhas viagens, de colecionar pessoas de todos os tipos.


Sou uma colecionadora inveterada, manienta, chatinha e fã de uma coleção de troféus e méritos que quase ninguém entende. O que fazer se essa é a minha natureza, contando minha própria história através dos meus tiques e toques? Cada coisinha que tenho é uma pontinha do que sou, desse meu jeitinho torto de seguir uma vida quase sempre meio torta. Talvez seja meu mecanismo de colecionar memórias e bons sentimentos, pois nada do que guardo me deixa em maus bocados.

21/06/2011

Espelho Virtualizado

Nos últimos tempos tenho me aproximado de novas pessoas sem planejar. E o mais estranho: na grande maioria dos casos, virtualmente. Hoje sei mais sobre a vida de alguns amigos quase virtuais do que sobre os acontecimentos na vida de muitas pessoas que passam os dias ao meu lado ou dos meus melhores amigos. Descobri que tudo decorre de um detalhe sutil: os meus melhores amigos eu já conheço de cor e salteado, enquanto os estranhos do outro lado da tela ou escondidos nas linhas de texto são um desafio ao meu jeito de pensar. Em certos termos, são um espelho, refletindo e exercitando minha própria opinião.
 
Talvez seja também um mecanismo de falar sobre algum assunto com alguém ainda isento de opinião, ainda muito distante para me oferecer uma avaliação contaminada ou sentimental dos fatos. Talvez seja a minha busca pessoal por um ponto de vista fora da situação e sem qualquer pingo de compaixão pelos envolvidos. Inclusive eu. Quando desabafo com um amigo que me conhece desde a infância, ele vê todo o meu histórico de vida e assim como eu, pode acabar achando que determinada ação é justificável. Com esses novos amigos eu sou teimosa e pronto. A relatividade não existe e não contamina.
 
Ainda não sei se esta alternativa de processo reflexivo é mais eficiente do que trocar idéias malucas com algum profissional que realmente entenda dessas maluquices da vida. Mas ao menos não pago por isso e me sinto mais confortável por falar com alguém normal (normal?) que tende a falhar como eu. Seria um conforto escavado nos erros alheios? Seria um jeito torto de ver que nem sou tão torta? Comparando o que sou com o que há no mundo? Tem horas que me sinto uma sanguessuga, absurdamente interessada em cuspir meus marimbondos em busca de algum alívio. Em quem quer que seja, desde que eu o considere digno de um bom debate sobre todo tipo de coisa.
 
Mas a questão é: as relações humanas não são mesmo uma questão de interesse? Sexual, econômico, cultural, morfológico, fisiológico, hormonal, emocional, religioso, político, social, qualquer que seja o tipo de interesse? Não estamos sempre com outra pessoa porque nos sentimos incompletos, meio pernetas, meio copo vazio, talvez sozinhos ou deslocados no mundo? Não procuramos no outro aquilo que devia nos bastar em nós mesmos? Eis a questão: busco um espelho, não sei até que ponto ainda busco essa suposta completude. Afinal, durante os últimos tempos descobri que era necessário aprender a curtir a minha própria companhia solitária para só assim não criar expectativas errôneas sobre o que o outro pode me dar. Portanto, na verdade, meus novos amigos “virtualizados” são apenas o outro lado do meu próprio eu, permitindo que a antítese me faça crescer e andar com minhas próprias pernas.
 

03/06/2011

Madeira sem Verniz

Estive ausente. Talvez menos carente em 29 dias, mas muito carente num desses domingos da vida.  Um chororô desenfreado, mas daqueles que te deixam aliviada no dia seguinte. Você até vai trabalhar de olhos inchados, mas finge que dormiu mal e pronto. Você resmunga durante toda a madrugada sem saber o motivo, sofre como se o peito estivesse sendo espremido por uma bigorna. Mas não há bigorna que pese por mais de 24 horas quando você está simplesmente “equilibrada”. Não há lobo nesta estepe. Não há madeira brilhante quando só se é tronco de árvore.
 
Nestes poucos dias de minha ausência no ano, eu me permiti sensações diversas. Ouvi música celta, com violino, sapateado, gaita de fole e roupas dos anos 80. Frenéticos, cativantes, energizantes. Você sem querer bate os pés junto, sente os tornozelos girando ou balança a cabeça na mesma cadência forte da música irlandesa com timbres de bruxa e tabernas medievais. Não adianta: você se transporta, você se contagia. Celtic Legends me permitiu, de uma certa forma, cumprir a minha promessa de ver de perto os passos malucos do Lords of The Dance.
 
Também assisti a um espetáculo de dança moderna, com bailarinos com pés presos em esquis de neve em pleno palco. Atletas da trupe italiana que misturam esporte, dança e limites físicos. Nada se compara aos 4 malucos com roupa de esquiar, mas o espetáculo é no geral uma prova de que sabemos muito pouco sobre o limite dos nossos próprios corpos de carne e osso. Katakló é a prova de que podemos ir além da lei da gravidade, desde que não a contrariemos.
 
Caminhando nessa seqüência Cult, vi Jack Jonhson tocar umas 18 músicas para um público jovem que nada tem de ambientalista como o cantor. Muito menos do espírito surfista, contemplador da natureza. Mas todos estavam ali em paz, ouvindo músicas leves e felizes, falando sobre coisas da vida de qualquer um de nós. Sobre ter esperança, sobre estar sozinho, sobre como é bom compartilhar, sobre panquecas de banana. Não tocou o repertório predileto da minha mãe, mas confesso que pra mim foi ótimo descobrir músicas como: “You and Your Heart”, “Hope”, “To the Sea”, “The Sharing Song”. Quando estávamos indo embora, passamos pelo transporte da banda e o pianista Zack estava com o nariz pregado na janela da van, fazendo graça para o público. E não é assim que a vida tem que ser?
 
Direto de Bravura Indômita, descobri que “eu não envernizo minhas opiniões” como a jovem de 14 anos, Mattie, de tranças e chapéu. Não tenho alma de pistoleira, se é que me entendem, mas costumo ser certeira nas balas que atiro com a língua. Língua difícil de comandar, pois me falta controle pra filtrar o que penso e não falar o que falo. Não amacio o que penso e acabo atirando duros raciocínios a quem não tem capacidade de absorver a sinceridade e a objetividade neles contidas. Mas como posso ser diferente de como eu acho certo ser?
 
Contei tudo pra Edwiges, e ela não é uma amiga invisível. Ela simplesmente me ouve e sofre junto comigo. Ela me fornece aquelas santas fórmulas homeopáticas que, acreditem, seguram a minha onda. E a onda é grande, quase sempre é de afogar qualquer um sem salva-vidas. Ela me disse: “A consciência é falada, não é mesmo”? E daí percebi que sim, porque só quando nos expressamos é que nos comprometemos com nosso posicionamento diante dos fatos. Sabe o que ela me receitou: “Quero que você fale ainda mais, mas sem sofrer por isso”. E aqui estou com meus 4 vidros de bolinhas doces com uma programação apertada. Vou sonhar colorido, dormir bem, gripar menos, falar mais sem morrer por isso. Um milagre!
 
E hoje? Hoje estou assim, normal, com a cabeça no lugar (em cima do pescoço) e prestes a mais um final de semana daqueles bem intensos. Um final de semana no passo de um sapateado irlandês, com as cores de um cenário teatral, com a alegria sutil das ondas do mar e com segredos homeopáticos me espiando de longe. Como se fosse outra de mim, sugada do momento real e transportada para um mundo paralelo, saltando cordas e buracos negros. Simples é nascer. Simplesmente é viver. Difícil é viver envernizada. Dificilmente vou segurar o que penso.
 

10/05/2011

A Polêmica

Sempre adorei crianças. Tive uma infância quase impecável. Apesar da bronquite, do reumatismo, do bullying, da grana curta e de algumas coisinhas que me deixavam chateada por curtos espaços de tempo, fui extremamente feliz quando criança. Adoro a doçura dos 2 anos, a curiosidade dos 4, a petulância dos 6, a mania de grandeza dos 8, a inteligência dos 10.



Citando Thiago Perin: “Ter filhos traz infelicidade. Um estudo da Universidade de Milão analisou casais de 94 países e constatou: as pessoas ficam mais infelizes quando têm filhos. Os pesquisadores atribuíram esse efeito às despesas geradas pelas crianças, que levam ao empobrecimento e à queda na felicidade dos pais. Segundo o estudo, ter filhos só traz felicidade a pessoas ricas ou viúvas.” (Revista Superinteressante)



Mas quem é que disse que todo mundo nasce pra ser mãe? Quem é que disse que todo mundo nasce pra ser pai? Convenhamos: crescei-vos e multiplicai-vos é uma ilusão em massa. O mundo de hoje não exige tamanha taxa de procriação, o mundo de hoje não é um campo pacífico pra se travar a guerra de ter um filho. Nem todo mundo é soldado. Nem todo mundo nasce com o instinto de perpetuar a espécie.



Vi muitas críticas ao tema proposto pela revista nestes últimos dias. Não se trata de discutir a fé, a religiosidade, a beleza da maternidade/paternidade. É lindo, é generoso, mas não é um sentimento pra todo mundo. Não é uma experiência almejada por todo mundo. Eis a vantagem do mundo moderno: você pode escolher. Desde que não exista preconceito em nenhuma das opções. É como uma opção profissional, sexual, religiosa, política, etc.



Será que essa infelicidade, “calculada” neste estudo, é mesmo tão absurda? Talvez ter um filho que te ame e que não te decepcione seja a mesma loteria que se casar e ter um casamento “para sempre”. Quem é que disse que a combinação de genes vai ser sempre a melhor possível, que seu filho vai ser de fato um super herói? Eu, pelo menos, sei que não sou uma filha perfeita. Será que eu gostaria de ter uma filha como eu? Tenho minhas dúvidas.



Além disso, não adianta negar: ser mãe/pai significa abdicar de muitos sonhos e planos. Você se torna eternamente responsável “por quem cativas”. É um laço perpétuo, sem volta, sem reclamação, sem possibilidade de troca do produto recebido. É um risco, como tantos outros que corremos na vida. Mas trocar de marido, trocar de profissão, mudar de vida, tudo isso é possível. Trocar de filho, trocar de pais – não. E se toda a conjectura astrológica te fizer parar na família errada ou com os filhos mais incoerentes possíveis? Dá pra devolver?!



Sou egoísta demais, não é, Clarice? “Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais fortes, dos cafés mais amargos, dos pensamentos mais complexos e dos sentimentos mais intensos. Tenho um apetite feroz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí?... Eu adoro voar!” (Clarice Lispector) E não dá pra voar se eu achar que uma outra pessoa é um peso, e não um parceiro.



Não adianta negar. Sou ainda muito egoísta pra arriscar tudo por quem nem sequer conheço. Por alguém que talvez herde os meus piores defeitos e mais outros dos demais 50% da carga genética. Não dá pra escolher na internet, não dá pra saber como vai ser. Assumo minha covardia, meu receio. Quem disse que eu seria mesmo uma boa mãe? Quem disse que tenho que ter os mesmos sonhos que outras tantas mulheres que nasceram com esse instinto? Quem disse que meu destino não está em terminar a linhagem da minha família, já que sou um funil (neta única, filha única, sobrinha única)? Por que cabe a mim manter um sangue nem tão bom (lúpico, hipocondríaco e virginiano) rodando por aí? Será que não sou uma agente da seleção natural, Darwin? Lamark não me convenceria.

25/04/2011

A Grande Lista

Coisas que ainda quero fazer nessa vida e nesse mundão!
 
  • Conhecer a Ilha de Páscoa
  • Mergulhar no Oceano Pacífico
  • Nadar com tubarões na África
  • Conhecer Cartagena de las Indias - Colômbia
  • Conhecer as florestas canadenses
  • Conhecer o Grand Canyon
  • Ir a um espetáculo do Lords oh the Dance
  • Mergulhar no Mar Morto
  • Voltar a Cancun pra mergulhar em Cozumel
  • Conhecer as pirâmides e museus do Egito
  • Passear pelas ruas de Bali e me hospedar num bangalô
  • Voar de dirigível (existe ainda?)
  • Conhecer Roatan e fazer um mergulho nas montanhas submersas de Colombo
  • Saltar de pára-quedas
  • Ter um aquário gigante em casa
  • Conhecer a China, entrar na Cidade Proibida e andar na Grande Muralha
  • Conhecer os jardins de Viena
  • Viajar sem pressa pela Espanha
  • Conhecer Moscou
  • Velejar (fazer uma longa viagem de barco)
  • Voar de asa delta da Pedra da Gávea
  • Fazer um curso profissional de fotografia
  • Mergulhar nos corais australianos
  • Conhecer Galápagos
  • Visitar a Patagônia
  • Fazer um safári na África
  • Curtir as praias da Polinésia Francesa
  • Fazer uma grande viagem pelo Peru (incluindo Paracas e Machu Picchu)
  • Fazer um cruzeiro pelo Caribe
  • Conhecer os pontos por onde Che Guevara passou de motocicleta
  • Nadar com o boto na Amazônia
  • Encarar um parasail
  • Andar de trem bala (Japão ou Inglaterra)
  • Pisar num iceberg ou numa placa de gelo no mar
  • Ver uma colônia gigantes de pingüins
  • Entrar no Taj Mahal
  • Participar de uma cerimônia budista
  • Passar uns dias num ashram
  • Entrar num foguete espacial no Cabo Canaveral
  • Conhecer um museu diferente em cada viagem
  • Conhecer uma pessoa em cada país
  • Ir aos shows: U2, Madonna, Manu Chao, Cold Play e Jean Michel Jarre
  • Assistir a um desfile de carnaval no Rio de Janeiro
  • Participar de um carnaval em Salvador
  • Fazer um mochilão pela Europa (Madrid, Barcelona, Ibiza, Mônaco, Roma, Zurique, Paris, Amsterdã e Londres)
  • Visitar Nova Iorque no Natal
  • Conhecer vários castelos medievais
  • Mergulhar num cenote mexicano
  • Conhecer o Mont Saint Michel 
  • Passear de submarino
  • Publicar um livro meu
  • Fazer uma exposição das fotos da minha vida
  • Ver uma baleia beluga e uma orca de perto
  • Ir a uma apresentação na Broadway
  • Conhecer o Tibet, o Himalaia e o Dalai Lama
  • Fazer o curso de biologia
  • Assistir a um jogo do Brasil numa Copa do Mundo no estádio
  • Ir a uma olimpíada
  • Pisar em um deserto
  • Passear num camelo ou dromedário
  • Conhecer o território da Mongólia
  • Fazer um mergulho de escafandro
  • Alguém fotografar meu velório
 
Coisas fantásticas que já consegui realizar!
 
  • Conhecer Fernando de Noronha
  • Conhecer Abrolhos
  • Ver baleias jubarte de perto
  • Conhecer Chichen Itza
  • Conhecer uma boate gigante (Coco Bongo – Cancun)
  • Nadar com golfinhos
  • Carregar um tubarão vivo
  • Pular de um farol numa tirolesa
  • Fazer teatro
  • Rafting (concretizei no Rio das Contas)
  • Pilotar um quadriciclo
  • Patinar numa rodovia
  • Mergulhar ao menos uma vez por ano
  • Ir ao Circo de Solei
  • Ir a um espetáculo do Momix
  • Ir ao Circo da China (duas vezes)
  • Mergulhar de jeitos inusitados (reboque, cilindro e amador)
  • Nadar em alto mar sem salva-vidas
  • Encarar um carnaval de rua (Olinda e Recife)
  • Conhecer cidades históricas mineiras
  • Conhecer o Pelourinho
  • Visitar as unidades do Projeto Tamar / ICMBIO
  • Fazer carinho num filhote de leão
  • Andar de caminhão de lixo
  • Andar na caçamba de um caminhão pipa
  • Montar num elefante
  • Mergulhar onde Jacques Cousteau já tenha mergulhado
  • Fazer um curso de astronomia
  • Ver uma arraia-manta livre na natureza
  • Criar um projeto voluntário (Corrente do Bem)
  • Conhecer o maior número possível de praias bonitas na Bahia (em andamento)
  • Subir até o Cristo Redentor
  • Entrar no estádio do Boca
  • Saltar de parapente
  • Voar de balão
 
"As pessoas não fazem viagens, são as viagens que fazem as pessoas."
 
 
 

20/04/2011

18/04/2011

Minha Novela

Que minha vida é uma novela, todo mundo já sabe. Já passei por umas cenas que só acredito porque eu mesma presenciei. Se eu não estivesse lá, com certeza duvidaria. Não é um simples dramalhão. Acho que comédia combina mais. Pois quando a situação chega neste ponto, de beirar o ridículo, é porque o angu tem caroço ou porque o pudim passou do ponto. Já era, honey, já era. Dói só um pedacinho pensar que tudo chegou na hora errada, tomando uma decisão num tempo em que já não faz mais diferença. Chegou tarde, docinho, chegou tarde.
 
Talvez por isso eu sempre tenha me mantido alinhada ao meu próprio tempo. Nunca deixei de falar nada quando queria, sempre corri atrás de ter certeza do que eu sentia ou ao menos de tentar enquanto ainda era possível mudar alguma coisa. Tentar depois, me arrepender, perceber o tempo que perdi? Nada disso combina comigo. Não espero o tempo, não espero o outro, não espero que tudo se ajeite. Eu me ajeito, ou tu se ajeitas. Só não me peça pra ser paciente, porque a indecisão não cabe em minha vida. Prefiro que entre sem pedir, que tome atitude, mas não muito tarde. Pois o amor também tem prazo de validade.
 
Sim, sou impulsiva em 85% das atitudes que tomo, mas posso me gabar que na grande maioria das vezes valeu a pena correr o risco. Nem sempre me dei bem, já me ferrei feio. Mas considerando a média geral, aprendi a lucrar consideravelmente, sem esperar por uma vida idealizada. Sou o meu próprio tempo: ou você me acompanha ou me vê passar nas fotos no Facebook. Ou você entra no meu passo, ou vai sempre se perguntar: por que eu não estava ali? E quando se perguntar, pode ser tarde demais, pois tenho uma lista enorme de coisas a fazer. Não dá pra ficar repetindo idéias, vontades e planos.
 
E se algum dia você chegar e disser que bateu um baita arrependimento, talvez você me encontre imersa em compaixão, ou sublime em minha serenidade, ou puta da vida por você ter desperdiçado uma boa oportunidade. Não sei qual dessas opções dói mais em você. Mas as três rodam na minha cabeça, com uma enorme vontade de berrar na sua fuça: perdeu, playboy. Não sou mais a “Joana, A Virgem” há anos, muito menos a usurpadora “Paola Bracho”. Não sou estrela de novela das nove pra ficar esperando sempre por um grande momento, afinal, se depender do outro, sempre chega tarde demais. Prefiro que todos sejam bregas e “novelescos” de imediato, pra garantir que tudo que é bom será sorvido no devido prazo.