21/06/2011

Espelho Virtualizado

Nos últimos tempos tenho me aproximado de novas pessoas sem planejar. E o mais estranho: na grande maioria dos casos, virtualmente. Hoje sei mais sobre a vida de alguns amigos quase virtuais do que sobre os acontecimentos na vida de muitas pessoas que passam os dias ao meu lado ou dos meus melhores amigos. Descobri que tudo decorre de um detalhe sutil: os meus melhores amigos eu já conheço de cor e salteado, enquanto os estranhos do outro lado da tela ou escondidos nas linhas de texto são um desafio ao meu jeito de pensar. Em certos termos, são um espelho, refletindo e exercitando minha própria opinião.
 
Talvez seja também um mecanismo de falar sobre algum assunto com alguém ainda isento de opinião, ainda muito distante para me oferecer uma avaliação contaminada ou sentimental dos fatos. Talvez seja a minha busca pessoal por um ponto de vista fora da situação e sem qualquer pingo de compaixão pelos envolvidos. Inclusive eu. Quando desabafo com um amigo que me conhece desde a infância, ele vê todo o meu histórico de vida e assim como eu, pode acabar achando que determinada ação é justificável. Com esses novos amigos eu sou teimosa e pronto. A relatividade não existe e não contamina.
 
Ainda não sei se esta alternativa de processo reflexivo é mais eficiente do que trocar idéias malucas com algum profissional que realmente entenda dessas maluquices da vida. Mas ao menos não pago por isso e me sinto mais confortável por falar com alguém normal (normal?) que tende a falhar como eu. Seria um conforto escavado nos erros alheios? Seria um jeito torto de ver que nem sou tão torta? Comparando o que sou com o que há no mundo? Tem horas que me sinto uma sanguessuga, absurdamente interessada em cuspir meus marimbondos em busca de algum alívio. Em quem quer que seja, desde que eu o considere digno de um bom debate sobre todo tipo de coisa.
 
Mas a questão é: as relações humanas não são mesmo uma questão de interesse? Sexual, econômico, cultural, morfológico, fisiológico, hormonal, emocional, religioso, político, social, qualquer que seja o tipo de interesse? Não estamos sempre com outra pessoa porque nos sentimos incompletos, meio pernetas, meio copo vazio, talvez sozinhos ou deslocados no mundo? Não procuramos no outro aquilo que devia nos bastar em nós mesmos? Eis a questão: busco um espelho, não sei até que ponto ainda busco essa suposta completude. Afinal, durante os últimos tempos descobri que era necessário aprender a curtir a minha própria companhia solitária para só assim não criar expectativas errôneas sobre o que o outro pode me dar. Portanto, na verdade, meus novos amigos “virtualizados” são apenas o outro lado do meu próprio eu, permitindo que a antítese me faça crescer e andar com minhas próprias pernas.
 

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