30/09/2010

Controlar!!!

Sou de um signo onde significante e significado estão em conflito. Significante este que transparece temperança, como se eu fosse tão sóbria quanto é necessário a uma vida moderada e comedida. Significado que bem lá no fundo me conceitua pelo paradoxo entre o vício da inveja e a intuição conjugada pela eterna neurose da análise. Tratando tudo isso como se fosse um serviço apalpando uma espiritualidade ainda desconfiada.

Sou intestino puro, digerindo tudo ao mesmo tempo e normalmente com dificuldade para absorver aquilo que para mim não é natural e óbvio. Eis o motivo de tanta inconstância no amor! Se não há estabilidade e uma certa previsibilidade, não me organizo, não encontro meu centro. E por isso me dou bem às quartas-feiras – afinal, estão bem no meio da semana.

Carregando um estereótipo fleumático, ainda assim conto com a sorte. Até tenho uma amiga com o nome de Trevo, aquela planta-flor verde que simboliza uma boa “vibe” a caminho ou que teoricamente atrai bons momentos. Meticulosa até pra me cercar de qualquer possibilidade sobrenatural que possa favorecer os resultados esperados. Afinal, não basta deduzir, apesar de este ser um hábito diário em tudo que faço.

Aqui estão minhas qualidades e defeitos, todos girando em torno de uma ansiedade quase genética. Eis o motivo da minha necessidade de controle neste momento: organização é meu lazer. Planos me movem continuamente. Não há possibilidades aos meus olhos se não encontro o caminho a percorrer. Simplesmente seguir, no modo automático, não me satisfaz.

29/09/2010

Corrente em Esmeraldas

Cenas de um domingo diferente...
Olhando pra um mundo diferente...

Com muitos voluntários dispostos a ajudar!

E brinquedos pra tornar o dia inesquecível...

Afinal, esse sorriso é uma benção!

Assim nos lembraremos de que não estamos sozinhos no mundo...

Afinal, os amigos estão sempre ao nosso lado!

27/09/2010

Choveu

A chuva demorou a chegar. Normalmente a chuva aparece no dia do meu aniversário, ou poucos dias depois, isto é, mais de um mês antes de hoje. Estamos na primavera, mas aprendi a me despedir do inverno com algumas gotas de chuva. Era o sinal de que todo o mau tempo, seco e duro, havia passado.

Eis uma explicação climática para dias tão turbulentos. Nunca vivi um mês de setembro tão duro, tão dolorido e ácido. Demorou a chover! Sem água, não dá pra amolecer. Não há pedra que se molde sem força ou sem constância. Já sei há um bom tempo que, no meu caso, só a constância dá um jeito nas coisas.

Não consigo dizer o que me atinge, ou talvez eu saiba: é o simples fato de não saber O QUE me angustia. Porque dói, mesmo que eu não consiga dizer aonde, nem como, nem a origem. Não ter controle sobre esse medo que não pára é como entrar numa onda de pânico, como se tudo estivesse no lugar errado.

Mas só hoje a chuva chegou, fina e sutil, amaciando a terra dura, abaixando toda essa poeira. Espero que esse seja o sinal de que finalmente vou conseguir me “desligar”, me permitir de novo a leveza, uma certa falta de compromisso, uma inconseqüência corajosa. E quem sabe, quando a chuva finalmente penetrar a profundidade necessária, a terra há de se tornar fértil de novo, propícia aos novos planos, solidária aos meus medos constantes.

23/09/2010

Desligando...

Estou sentada no meu sofá. Fecho os olhos e tento ouvir só o mundo lá fora. Como é difícil ordenar os pensamentos! Esvaziar a mente é impossível! Tento extrair somente as idéias que merecem estar ali, encravadas nas minhas sinapses. Mas todas as conexões histéricas permanecem chovendo canivete. Só queria uma mente leve, sem os últimos medos, sem os recentes pânicos. Queria segurança dentro de mim.

Claro, lutas internas são sempre batalhas mais cansativas e duradouras. Só se vence quando a idéia por si só desiste de aterrorizar, não há como tornar um ou outro exército repentinamente mais forte e eficaz. A idéia só se esvai com o bendito tempo, quando as coisas se resolvem por si mesmas, sem que nossas influências possam afetá-las. Quando a luta é contra o próprio pensamento, não existem vitórias que possam ser travadas do lado de fora...

Não basta reunir forças no que já fizemos de bom, na coragem que supostamente tivemos, nas nossas qualidades e muito menos no quanto somos amados (talvez até odiados). Tudo isso parece insignificante quando o que se sente é causado por uma simples falta de prazer, falta de sonhos, falta de querer. Quando não se pode atacar o problema, quando não há o que esperar, toda a falta de propósito cega, porque não sabemos aonde vamos chegar.

Andar, andar, andar, sem rumo, é coisa pra gente insana. E não consigo ser tão leve e desapegada ao ponto de esquecer que estou simplesmente perdendo um tremendo tempo. Falta alguma coisa. Mesmo que eu ainda não saiba o que é. Só sei que não é uma coisa que dependa de outra pessoa, é um buraco negro dentro do que eu mesma esperava ser. E quando se luta contra um mal invisível, que não aparece em exames médicos, que não se concretiza em falhas constantes, muito menos em choro constante, fica difícil convocar o exército certo.


22/09/2010

Desligar, controlar e retomar

Não se trata de uma decisão mal humorada, muito menos de uma onda qualquer. Trata-se da minha redoma, de me resguardar de todo o desgaste ao qual venho me expondo todos esses meses, talvez anos. “Aquele era o momento para eu procurar o tipo de cura e de paz que só podem vir da solidão.” Sou tipicamente atirada, falo pelos cotovelos e consigo me aproximar até daqueles que mais parecem jaulas. Mas hoje só quero a minha própria gaiola.

Venho sofrendo de um mal - velho conhecido. Sinto aquela “(...) a desoladora incapacidade de sustentar o contentamento.” Como se tudo fosse tão volátil e inflamável como álcool, sem deixar sequer vestígios da intensa alegria momentânea. E, convenhamos, isso deixa qualquer um decepcionado com sua própria capacidade de se manter auto-motivado, ativo, altivo, vivo.

“O que sei é o seguinte: estou exausta com as conseqüências cumulativas de uma vida de escolhas apressadas e paixões caóticas.” Escolhas feitas por pressão, outras pelo destino, outras por minha própria ansiedade. Não dá pra esconder de mim mesma como gostaria de ter aquele controle remoto que pula o que incomoda, o que pesa, o que desgasta. E colocar em câmera lenta aquilo que é bom e que nos completa verdadeiramente. O caos e a pressa me esgotaram, preciso de um tempo pra voltar a velha rotina de ser quem sou, ou talvez quem todos esperam que eu seja...

“Bhagavad Gita – aquele antigo texto iogue indiano – diz que é melhor viver o seu próprio destino de forma imperfeita do que viver a imitação da vida de outra pessoa com perfeição.” Entretanto todos podem julgar tudo isso como angustiante, ou como ingratidão, sem pensar na carga de responsabilidade que carrego todos os dias. Ser sempre a amiga presente, ser sempre a racional a quem recorrer, ser sempre a companheira de conversas frívolas ou profundas. Ser sempre o que o outro espera. Não consigo mais estar em tudo e com todos.

Claro que não consigo viver sozinha... “Mas sou inteiramente tragada pela pessoa que amo. Sou como uma membrana permeável. Se eu amo você, lhe dou tudo que tenho. (...) protegerei você de sua própria insegurança.” E lá vem o peso de novo! A culpa é toda minha, eu acho. Sempre estive aqui, o tempo todo, pra todo mundo. Fato é que também tive todos ao meu lado quando precisei, sem pestanejar, mas ainda preciso de um tempo na minha redoma, no meu castigo pessoal.

“Como a maior parte dos humanóides, carrego o fardo daquilo que os budistas chamam de ‘mente macaco’ – pensamentos que pulam de galho em galho.” Preciso organizar minhas idéias, aliviar a pressão, evitar que o coração aperte. E quanto mais absorvo do mundo lá fora, mais macaco me sinto. E estou cansada de pular de galho em galho. Não se trata de insatisfação, trata-se de uma viagem sozinha, rumo a um lugar que espera por mim, só por mim...

Preciso exercitar meu coração, endurecido arduamente nos últimos tempos. “A flexibilidade é tão essencial para a divindade quanto a disciplina.” Preciso vigiar meus vícios, minhas fraquezas, ao mesmo tempo que devo me permitir ser leve e desapegada. Talvez assim eu de fato aceite que tudo passa e “(...) que toda a tristeza e dificuldade deste mundo é causada por pessoas infelizes.”

As frases entre aspas são do livro de Elizabeth Gilbert.

11/09/2010

Onde

Não pertenço ao lugar em que estou agora. Essa minha súbita inércia poderia ter sido prevista, quando o que realmente me move vai além do que está ao meu redor. Sim, alcancei inúmeras conquistas, mas o que fazer com um espírito inquieto que não conhece satisfação plena e vive de pequenos vícios sem freio? Não se pode lutar contra sua essência, especialmente se você se obriga a prioridades que não nascem no seu sangue.

A sensação que tenho é de que por algum motivo estou perdendo um tempo enorme, afinal, o mundo é muito grande. Mas essa mania astrológica de ser planejada, realista e concreta me impede de fazer coisas que talvez realmente satisfizessem meu lado pisciano. Claro, o lado virginiano acha tudo um máximo. Mas e o mundo? Quem sou eu aqui, estática, congelada, entediada, sem planos a curto prazo? Longo prazo - o que é isso?

Não quero viver presa às mediocridades, tenho andado mais calada para talvez ser menos medíocre. Sim, sou uma boba falante, que espirra os sonhos pelos cotovelos. Trago pra mim a inveja alheia, acabo ouvindo opiniões desnecessárias. E por fim desabafo numa realidade também criada para ser meu esconderijo: mas, claro, não posso me esconder do mundo, ainda assim falo mais do que deveria.

Se eu pudesse me teletransportar, não estaria aqui e nem em algum lugar já conhecido. Estaria provavelmente em um cenário completamente estranho aos meus olhos, me permitindo a minha verdadeira vocação: a descoberta, a aventura. Afinal, eis o motivo do nome deste blog, motivo este que se desviou ao longo destes últimos meses onde tive que ser um pouco menos “eu”.

Não se assuste com essa vontade supostamente repentina de fugir, chutar o balde, perder a noção. Ela passa. Um dia passa. Não sei se (in)felizmente. Só sei que meu coração está inquieto porque sinto que cada vez mais estou presa às definições sociais e prioridades que não são naturalmente minhas, apesar de amplamente reconhecidas como cruciais à minha sobrevivência neste mundo capitalista. Eis que o que me dói não é não ter me transformado numa oceanógrafa, nem numa jornalista a correr o mundo. O que me dói é não saber pra onde vou em breve, muito menos se conseguirei um dia estar em todos os lugares com os quais tanto sonhei.

Ilha de Páscoa

06/09/2010

You Can't

You Can't Always Get What You Want
Rolling Stones
Composição: Keith Richards / Mick Jagger

You Can't Always Get What You Want
I saw her today at the reception
A glass of wine in her hand.
I knew she was gonna meet her connection,
At her feet was a footloose man.

And you can't always get what you want,
Honey, you can't always get what you want.
You can't always get what you want
But if you try sometimes, yeah,
You just might find you get what you need!

I went down to the demonstration
To get our fair share of abuse,
Singing, "We gonna vent our frustration."
If we don't we're gonna blow a fifty amp fuse.
So, I went to the Chelsea Drugstore
To get your prescription filled.
I was standing in line with my friend, Mr. Jimmy.
And man, did he look pretty ill.
We decided that we would have a soda,
My favorite flavour was cherry red.
I sing this song to my friend, Jimmy,
And he said one word to me and that was "dead."
And I said to him

And you can't always get what you want, honey.
You can't always get what you want.
You can't always get what you want.
But if you try sometimes, yeah,
You just might find you get what you need!

I saw her today at the reception.
In her glass was a bleeding man.
She was practiced at the art of deception;
I could tell by her blood-stained hands.

And you can't always get what you want, honey.
You can't always get what you want.
You can't always get what you want,
But if you try sometimes, yeah,
You just might find you get what you need!

And you can't always get what you want, honey,
You can't always get what you want,
You cant always get what you want,
But if you try sometimes, yeah,
You just might find you get what you need


A vida é assim...
Você não pode ter sempre o que quer
Querida, você não pode ter sempre o que quer
Você não pode ter sempre o que quer
Mas se você tentar às vezes, sim
Você vai encontrar o que precisa

01/09/2010

Pólos e Tango em Cores

Quisera eu conseguir expressar em palavras aquilo que só a arte é capaz de tornar corpóreo, palpável e visível aos olhos do coração. Certas imagens são indivisíveis do próprio conceito, portanto, como seria possível representar em palavras aquilo que só se sente com os olhos e coração? Da ópera ao teatro, do balé ao cinema, dos meus rabiscos aos escritos que realmente merecem atenção, todo tipo de representação artística nos torna mais humanos e em alguns momentos quase sobrenaturais.



Quando se trata do corpo, esquecemos dos limites que superamos continuamente: no palco, nas tarefas diárias, nos padrões de estética impostos pela sociedade, nos campos de concentração, nos campos minados de guerras civis, nas fronteiras esquecidas de um país. A força que nasce em músculos, percorrendo mentes e alcançando o que um dia foi impossível, sobrepondo leis da física e criando movimentos passíveis de reconhecimento: é um ímã, não parece o pouso de um pássaro, não são grilos ensaiados, não seria tango?




O que a dança nos permite transcende o fato de ver o outro se movimentar num ritmo inteligível. Não é apenas reconhecer novos limites do próprio corpo e da compreensão autorizada por uma nova leitura do que somos. Não somos apenas fisicamente fortes e capazes – somos dotados do poder de criação de formas de expressão sem limites, porém compreendidas independente de religião, classe social, política, sexo, raça, profissão. O que a dança permite é reconhecer-se, sempre de uma forma completamente diferente de quem está na poltrona ao seu lado.


Reconheci cores, fotografias, ritmos, gente que transforma objetos inanimados em ação. Enquanto outros reconheceram balé clássico ou moderno, movimentos que simbolizam a relação humana, tules, melodias e diferentes tipos de tango. Eis a beleza da arte: o seu olhar é sempre um novo resultado, sempre uma experiência única, particular e indivisível. A arte é sempre só sua, só minha.

Quisera eu entender todo tipo de arte na profundidade que ela de fato me permite. A questão é que para muitas artes serei leiga eternamente, pois nem tudo atinge meu entendimento e nem tudo me remexe da mesma forma que acontece com outros milhões de pessoas. O que me sacode não é necessariamente o que sacode você, e vice-versa. O que vale é treinar-se à percepção, nos transformando em seres mais humanos, menos ímãs, mais próximos da inconstância de um tango.

Imagens dos Espetáculos "Ímã" e "Lecuona" do Grupo Corpo.

Obs: Ju Mayrink, obrigada!