30/12/2010

Retrospectiva

Comecei o ano...

Saindo do olho do furacão. Falando com um baiano com nome de gato. Acreditando que os galãs são mesmo os melhores. Conquistando meu teto. Mudando tudo de lugar. Desfazendo-me de uma mesa grande como um elefante branco. Assumindo novos riscos e contas maiores. Marcando meu território profissional. Enrolando meio mundo masculino. Sendo enrolada por outros. Caindo na gandaia com meus amigos. Conquistando novos amigos. Ficando cada vez mais loira. Pedalando até o inverno chegar. Atravessando o Rio da Prata. Conhecendo a Argentina e o Uruguai. Dormindo em um planetário. Amando o tango com todo o coração. Mudando minha postura em relação a muitas pessoas. Acompanhando uma luta contra o câncer alheio. Batendo de frente com peixe grande. Sentindo medo de encontrar quem eu não queria. Mantendo minha antiga mania de diário. Usando sapato com salto. Segurando a onda do lúpus. Observando o quanto de cabelo eu perdia. Ouvindo Cold Play sem parar. Ficando com raiva por perder a bendita touca. Usando o primeiro relógio caro que comprei. Quebrando barreiras antes intransponíveis. Rompendo paradigmas afetivos. Conhecendo meu irmão. Atualizando minhas vacinas. Dando parabéns para o meu pai. Perdendo a paciência com quem não luta. Evitando quem tenta me colocar pra baixo. Consolidando o poder da Corrente do Bem. Fazendo gente que nunca vi abraçar outros estranhos. Testando meu amadurecimento diante de um antigo amor. Alimentando os peixes virtuais todo santo dia. Conquistando novos flertes. Terminando com os velhos flertes. Fazendo planos audaciosos. Esquecendo dos tempos ruins. Conhecendo o cara supostamente perfeito. Exercitando o desapego. Sendo menos possessiva. Sendo mais objetiva. Sendo menos reflexiva. Sendo mais egoísta. Reencontrando velhos amigos dos tempos de escola. Fazendo o makking of do clipe de uma banda. Reencontrando minha amiga de Fernando de Noronha. Acompanhando as “gravidezes” das minhas amigas. Conhecendo vários estádios de futebol. Ficando fissurada no House. Manipulando caras que não prestam. Escrevendo no blog quando realmente batia a vontade. Voltando às raízes muito de vez em quando. Dando um tempo para tudo que me pressionava. Guardando pra mim só aquilo que me fazia bem. Parando de carregar os pesos do mundo.

Terminei o ano...

Vivendo outro furacão. Mudando os rumos profissionais. Conquistando a confiança da minha equipe. Superando mais uma crise existencial pós-aniversário. Divorciando-me oficialmente. Acumulando umas cinco crises de mau humor feroz. Acumulando várias crises de riso incessante. Registrando muitos momentos toscos em webcams. Falando bobagem pra todo lado. Estranhando menos as estranhezas do mundo. Fazendo o perfil da rede social bombar. Pagando contas intermináveis. Ganhando ímãs pra geladeira. Comprando uma máscara de girafa. Fazendo dois mergulhos em Arraial. Conhecendo o Cristo Redentor. Saltando de parapente. Ralando de parapente... Andando de “carro” em um passeio. Visitando as esquisitices da Lapa. Observando a Praia do Espelho do alto. Fazendo novos amigos. Mantendo os bons amigos de sempre. Perdendo a Maria. Sendo madrinha de um casamento. Sendo penetra em outro casamento. Virando a noite em uma boate. Marcando um zilhão de happy hours. Vivendo uma paixonite platônica. Chorando de raiva ao sair na chuva depois de ir a um pub. Conhecendo um cara bacana através de uma simples foto. Descobrindo que não sou a única que não entende como o amor termina. Conhecendo um verdadeiro autor de livros. Deixando mais uma vez de lado os planos de escrever algo que preste. Perdendo meu avô. Tirando foto de um lindo ipê no cemitério. Rindo das coisas que só acontecem na minha família. Descobrindo uns blogs toscos... Reduzindo pela primeira vez em 10 anos a dosagem do corticóide. Tomando florais e homeopáticos. Experimentando a polêmica caraluma. Pedalando de novo e por mais tempo graças à vida virtual que instaurei. Revirando o velho baú em Itaúna. Encontrando minha coleção de Tazos. Doando outras coleções. Interrompendo os escritos no diário pessoal. Rindo muito. Tirando menos fotos. Demorando mais a revelar as fotos. Lendo Comer, Rezar e Amar. Lendo Beber, Jogar e F@#er. Perdendo antigos pudores. Eliminando antigos rumores. Confirmando que eu não estava totalmente errada. Hospedando minha irmã caçula. Mudando minha alimentação. Ficando bronzeada. Machucando o braço esquerdo. Superando enxaquecas. Sabendo que não sou a pior pessoa do mundo. Planejando novas viagens, quase impossíveis. Ouvindo meu pai dizer que me ama. Recebendo um cartão de Natal dele. Ouvindo minha mãe chorar de alegria e de tristeza pelo telefone. Comprando um HD externo. Assistindo NatGeo. Vivendo momentos indecisos no trabalho. Esperando por tempos melhores. Aguardando a total abstinência de corticóides. Usando óculos. Enxergando melhor quem são realmente meus amigos. Descobrindo que sou a Alice. Acreditando de novo.

15/12/2010

Sua Rede, Seu Rótulo

Durante toda a vida somos pressionados a fazer parte de algum tipo de “panelinha”. “Final Clubs”. Você precisar treinar vôlei para fazer parte do time de garotas desejáveis, você precisa jogar futebol para fazer parte do time dos fortes, você precisa tirar boas notas para fazer parte da elite intelectual, você precisa ser popular para fazer parte de todas as festas, simplesmente você precisa, precisa, precisa. Não adianta fugir do processo de seleção natural da sociedade – ele vai encontrar você em qualquer buraco.

Somos etiquetados, classificados em categorias, tendemos a conviver com os semelhantes, segmentando a nossa espécie. Somos agrupados em “estigmas sociais”, praticamente condenados por toda uma vida. Reverter seu status e infiltrar em novos grupos é uma tarefa árdua, onde assumimos atitudes nada espontâneas e optamos por idéias que quase sempre conflitam com nossa personalidade sufocada pelas pressões externas. Não basta ser você, pois você precisa ser “alguém”, como se isso já não fosse uma prerrogativa para o simples “ser”.

Quantos adolescentes hoje não são vampirescos, rebeldes ou de qualquer outra corrente que está na moda apenas para se enquadrarem em algum grupo? Somos seres sociais, temos essa necessidade constante de aprovação do outro em relação ao que somos e representamos. Em 70% do tempo agimos mais em função da opinião alheia do que seguindo nossa própria vontade. Somos moldados pelo meio, mas não porque ele nos influencia, como afirmou o sociólogo... Somos moldados pelo meio porque desejamos fazer parte dele e por isso sentimos a necessidade de buscar semelhanças e semelhantes que nos acolham.

Tenho certeza de que todos que assistirem ao filme “A Rede Social” vão perder alguns instantes refletindo sobre o preço que pagamos para nos afirmarmos socialmente. Claro, não somos tipos incomuns como o jovem Mark, criado do Facebook. Talvez sejamos bem mais parecidos com o “Wardo”, Eduardo Saverin (brasileiro?), que foi fiel ao amigo sem se perder nesta onda de marketing pessoal iniciada no mundo universitário. No fundo nós sempre quisemos ir às festas da Phoenix, ou às baladas mais famosas, ou viver em repúblicas renomadas em Ouro Preto, ou vencer vestibulares das federais, ou aparecer em colunas sociais, sem questionarmos o quão vazio pode ser esse rótulo.

Claro, acho que a grande maioria se divertiu com o fracasso dos remadores mimados... (Fracasso? 65 milhões de dólares como indenização é fracasso?) Sim, socialmente falando, pois a idéia foi “aprimorada” e não nasceu das linhas programadas por eles. A estratégia saiu da cabeça do nerd, que no fundo queria apenas o reconhecimento da ex-namorada. “Ele não é um babaca, mas vivia se esforçando pra ser um”. Como o próprio slogan do filme diz, não dá pra sair dessa empreitada sem fazer inimigos. Mark hoje é o mais jovem bilionário do mundo. Mas a qual “final club” ele pertence hoje? E a qual “panela” ele realmente queria pertencer?

Não sei você, mas também não estou imune a tudo isso. Sua turma da escola, sua turma da noitada, seus vizinhos de rua, sua classe da faculdade, sua equipe de trabalho, seus contatos profissionais, o bairro em que você mora, as marcas que te vestem, as tatuagens que você tem, seu perfil no mumificado Orkut, seu perfil no badalado Facebook – cada um desses grupos é uma escolha sua, satisfazendo suas próprias necessidades de aceitação social. Afinal, o que seria do ser humano sem uma posição na colméia comunitária deste mundo globalizado? Não basta fazer parte do todo, é importante fazer parte daquilo que consideramos especial e melhor: espiar onde o outro se enquadra, o quanto ele é aceito.

Quanto ao filme, excelente montagem. Mark tem cabelos de miojo típicos de um nerd e, para quem sabe do que estou falando, bem semelhante a outro cara de sucesso que tem planos de dominar o mundo. Trilha sonora bem caracterizada, mas fomos poupados das músicas do Justin Timberlake, que no filme representa o cara do Napster. As idas e vindas no tempo, bem marcantes no filme, são fundamentais para nos puxar de volta à nossa realidade de simplórios usuários de uma rede social que modificou a vida de muita gente. Você agora é praticamente onipresente e possui amigos na Bélgica, Kuwait, China. Meet me on Facebook.

12/12/2010

Volante


“A vida acontece enquanto estamos ocupados fazendo planos”... Já soltei o volante há um bom tempo, mas infelizmente ainda não aprendi a deixar tudo caminhar sem minhas intervenções... Ainda tenho a mania de insistir para que tudo seja do meu jeito, no meu ritmo. Tudo feito com uma gula quase doentia, um carma para uma mente ansiosa.

Tudo acaba retornando ao caminho original, afinal, eu forcei a construção do percurso tomado. Sou uma idiota persistente sempre tentando moldar o destino que acho melhor pra mim. E quem disse que realmente sei o que é bom pra mim? Olhando para o passado, fiz várias escolhas ruins. Acertei muitas, mas será que não é tudo uma questão de “quase sorte”?

E sou teimosa. Bato a cabeça constantemente no mesmo prego, remoendo as expectativas criadas sem permissão dos envolvidos. Só não quero que este questionamento perdure, mas preciso aprender logo a lição. Melhor encerrar por aqui antes que eu ache mais piolho em testa de careca.

10/12/2010

À espera


Pensamentos obtusos, meio inflamados, algo assim. Estou num dia de “mente macaco”, mas tenho a sensação de que os galhos em que estou me pendurando balançam sem rumo, se é que realmente existem. Acabo me apegando a idéias que não tem fundamento algum, girando em círculos que no final mais parecem elipses. Nada se forma, mas tudo se transforma. Preciso de uma rota e neste momento estou sem, esperando alguma novidade surgir para me empurrar rumo a uma decisão.

Afinal, estava tudo tranqüilo demais, não é mesmo? Não dá pra achar que vai ser sempre assim - uma paz controlada, conflitos trancados em muros. Quando me sinto atracando em porto seguro, descubro que devo abrir os olhos... Qualquer semelhança, mera coincidência. Não há mar algum sem recifes. Não adianta me nortear por um velho astrolábio que já não funciona neste novo cenário. Estou à deriva, à mercê do deslocamento das placas continentais que não vejo. Ah, como era bom ser Pangéia!

Outro dia alguém me perguntou: o que é estar inebriado? É estar assim, sem saber o que pensar, num “zonzeamento” constante, numa nuvem de ilusão perfurada num vôo improvisado. Tudo rebola em bambolês, vagando como bons sonâmbulos taciturnos. “Estou bem, só não sei aonde isso vai dar”. Como se estivesse em uma ponte, onde a outra margem é feita de neblina. Vale a pena atravessar? Mas será que existe escolha? Sim, sou ansiosa por natureza, só quero que tudo se esclareça. Pois não há verdade que fique oculta e não há medo que perdure.

09/12/2010

Desabafos de um Barranco

Não sei aí, mas aqui é chique morar no barranco. Como outro dia ouvi no ônibus (incluindo os erros de português): “Num sei que mania é essa de rico que insiste em morar nus barranco. Os prédio fica tudo dependurado, esperanu pra cair, enquanto pobre só qué morá numa rua reta”. O barranco é chique em Belo Horizonte. Se você mora numa rua dessas que sobe sem fim, ora, você é quase da nata, mesmo que seja só um emergente. Ou você mora num bairro tradicional, daqueles construídos nas ladeiras do “Curral”. Ou você mora num bairro novo, espaço ocupado pela pressão demográfica e comercial. Ou você mora lá, no Mangabeiras, onde reinaram muitos poderosos políticos.

Mas eis que o barranco é mais uma dessas sutilezas que a gente só percebe quando volta pra casa, debaixo de uma chuva daquelas. Haja enxurrada! De ontem sai tanto lixo, tanta água, tanto bueiro com a tampa virada? Quantos carros brotam e engarrafam o trânsito, quantos não passam correndo jogando água em que está lá, esperando pra atravessar e subir o barranco? Não adianta, se você é “belzontino” ou migrou pra cá, não há como escapar de um bom banho de chuva. Mas pense positivo: melhor se molhar quando está chegando na sua casa e torcer para que a energia não falte durante seu banho quente.

Mas tem barranco que não tem solução. Não falo do barranco paulista que ontem engoliu algumas casas numa zona de risco. Não falo de pousadas que a terra carregou numa colina de uma bonita praia carioca, levando uma mineira acostumada com os barrancos daqui. Não falo de outros tantos deslizamentos e deslizes da vida rotineira de milhares de brasileiros. Falo dos barrancos que nós escolhemos, dos barrancos pelos quais pagamos por opção. Afinal, você muitas vezes topa viver num barranco - nem sempre é obrigado a isso.

Tem dias que estou no alto do morro, esperando pra deslizar abaixo. Esperando a água me empurrar, mesmo que eu não saiba onde tudo vai acabar. É um risco, todo santo dia, esperando a minha própria geografia mudar. Só sei todo planalto sonha ser planície, e vice-versa. Mas não dá pra evitar o frio na barriga, o medo de afogar numa poça de 3 cm, o risco de enfiar um pé no bueiro... Texto desconexo, eu sei, mas não consegui evitar este pensamento, que reflete a sutileza de um cotidiano tão dispare. Enquanto uns optam por morar no barranco, outros são levados pelo morro. Não sei se fico com a igualdade pura ou com a desigualdade irônica...