15/12/2010

Sua Rede, Seu Rótulo

Durante toda a vida somos pressionados a fazer parte de algum tipo de “panelinha”. “Final Clubs”. Você precisar treinar vôlei para fazer parte do time de garotas desejáveis, você precisa jogar futebol para fazer parte do time dos fortes, você precisa tirar boas notas para fazer parte da elite intelectual, você precisa ser popular para fazer parte de todas as festas, simplesmente você precisa, precisa, precisa. Não adianta fugir do processo de seleção natural da sociedade – ele vai encontrar você em qualquer buraco.

Somos etiquetados, classificados em categorias, tendemos a conviver com os semelhantes, segmentando a nossa espécie. Somos agrupados em “estigmas sociais”, praticamente condenados por toda uma vida. Reverter seu status e infiltrar em novos grupos é uma tarefa árdua, onde assumimos atitudes nada espontâneas e optamos por idéias que quase sempre conflitam com nossa personalidade sufocada pelas pressões externas. Não basta ser você, pois você precisa ser “alguém”, como se isso já não fosse uma prerrogativa para o simples “ser”.

Quantos adolescentes hoje não são vampirescos, rebeldes ou de qualquer outra corrente que está na moda apenas para se enquadrarem em algum grupo? Somos seres sociais, temos essa necessidade constante de aprovação do outro em relação ao que somos e representamos. Em 70% do tempo agimos mais em função da opinião alheia do que seguindo nossa própria vontade. Somos moldados pelo meio, mas não porque ele nos influencia, como afirmou o sociólogo... Somos moldados pelo meio porque desejamos fazer parte dele e por isso sentimos a necessidade de buscar semelhanças e semelhantes que nos acolham.

Tenho certeza de que todos que assistirem ao filme “A Rede Social” vão perder alguns instantes refletindo sobre o preço que pagamos para nos afirmarmos socialmente. Claro, não somos tipos incomuns como o jovem Mark, criado do Facebook. Talvez sejamos bem mais parecidos com o “Wardo”, Eduardo Saverin (brasileiro?), que foi fiel ao amigo sem se perder nesta onda de marketing pessoal iniciada no mundo universitário. No fundo nós sempre quisemos ir às festas da Phoenix, ou às baladas mais famosas, ou viver em repúblicas renomadas em Ouro Preto, ou vencer vestibulares das federais, ou aparecer em colunas sociais, sem questionarmos o quão vazio pode ser esse rótulo.

Claro, acho que a grande maioria se divertiu com o fracasso dos remadores mimados... (Fracasso? 65 milhões de dólares como indenização é fracasso?) Sim, socialmente falando, pois a idéia foi “aprimorada” e não nasceu das linhas programadas por eles. A estratégia saiu da cabeça do nerd, que no fundo queria apenas o reconhecimento da ex-namorada. “Ele não é um babaca, mas vivia se esforçando pra ser um”. Como o próprio slogan do filme diz, não dá pra sair dessa empreitada sem fazer inimigos. Mark hoje é o mais jovem bilionário do mundo. Mas a qual “final club” ele pertence hoje? E a qual “panela” ele realmente queria pertencer?

Não sei você, mas também não estou imune a tudo isso. Sua turma da escola, sua turma da noitada, seus vizinhos de rua, sua classe da faculdade, sua equipe de trabalho, seus contatos profissionais, o bairro em que você mora, as marcas que te vestem, as tatuagens que você tem, seu perfil no mumificado Orkut, seu perfil no badalado Facebook – cada um desses grupos é uma escolha sua, satisfazendo suas próprias necessidades de aceitação social. Afinal, o que seria do ser humano sem uma posição na colméia comunitária deste mundo globalizado? Não basta fazer parte do todo, é importante fazer parte daquilo que consideramos especial e melhor: espiar onde o outro se enquadra, o quanto ele é aceito.

Quanto ao filme, excelente montagem. Mark tem cabelos de miojo típicos de um nerd e, para quem sabe do que estou falando, bem semelhante a outro cara de sucesso que tem planos de dominar o mundo. Trilha sonora bem caracterizada, mas fomos poupados das músicas do Justin Timberlake, que no filme representa o cara do Napster. As idas e vindas no tempo, bem marcantes no filme, são fundamentais para nos puxar de volta à nossa realidade de simplórios usuários de uma rede social que modificou a vida de muita gente. Você agora é praticamente onipresente e possui amigos na Bélgica, Kuwait, China. Meet me on Facebook.

2 comentários:

  1. Maldita sociedade! Maldito ser (pseudo)sociável! Maldito ser humano que molda (obriga) os futuros seres a serem assim para que a corrente nao seja quebrada. Da-lhe força pra "remar contra" tudo isso!

    Não sou capaz de afirmar que um dia vou sucumbir, mas posse garantir que vou até as forças acabarem! :)

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