30/06/2011

Coisas da Vida

Em 2009 iniciei duas correntes: a do Bem e a da Volta ao Mundo. Desde então saio por aí colecionando abraços, conhecendo gente nova, abrindo meu coração ao ato de compartilhar carinho sem cobrança, sem posse. Desde então sei que meus amigos se lembram de mim nos mais diversos momentos, viajando pelo mundo, carregando meu nome como se ele tivesse o poder de levar a minha essência a cada lugar visitado.


Claro, isso tudo pode parecer uma grande idiotice. Sair por aí nessa onda de “free hugs”, sair por aí pedindo fotos aos amigos que estão viajando pelo mundo como se isso mudasse a minha condição de 85% do tempo “enraizada nos meus cafundós”. Sempre colecionei tudo quanto é tipo de coisa, mas descobri que me apegava desnecessariamente a elas. Ainda coleciono abraços, fotos dos amigos pelo mundo, máscaras nas paredes da casa. Ainda tenho mania de ímãs de geladeira, de filmes que gosto, de souvenirs das minhas viagens, de colecionar pessoas de todos os tipos.


Sou uma colecionadora inveterada, manienta, chatinha e fã de uma coleção de troféus e méritos que quase ninguém entende. O que fazer se essa é a minha natureza, contando minha própria história através dos meus tiques e toques? Cada coisinha que tenho é uma pontinha do que sou, desse meu jeitinho torto de seguir uma vida quase sempre meio torta. Talvez seja meu mecanismo de colecionar memórias e bons sentimentos, pois nada do que guardo me deixa em maus bocados.

21/06/2011

Espelho Virtualizado

Nos últimos tempos tenho me aproximado de novas pessoas sem planejar. E o mais estranho: na grande maioria dos casos, virtualmente. Hoje sei mais sobre a vida de alguns amigos quase virtuais do que sobre os acontecimentos na vida de muitas pessoas que passam os dias ao meu lado ou dos meus melhores amigos. Descobri que tudo decorre de um detalhe sutil: os meus melhores amigos eu já conheço de cor e salteado, enquanto os estranhos do outro lado da tela ou escondidos nas linhas de texto são um desafio ao meu jeito de pensar. Em certos termos, são um espelho, refletindo e exercitando minha própria opinião.
 
Talvez seja também um mecanismo de falar sobre algum assunto com alguém ainda isento de opinião, ainda muito distante para me oferecer uma avaliação contaminada ou sentimental dos fatos. Talvez seja a minha busca pessoal por um ponto de vista fora da situação e sem qualquer pingo de compaixão pelos envolvidos. Inclusive eu. Quando desabafo com um amigo que me conhece desde a infância, ele vê todo o meu histórico de vida e assim como eu, pode acabar achando que determinada ação é justificável. Com esses novos amigos eu sou teimosa e pronto. A relatividade não existe e não contamina.
 
Ainda não sei se esta alternativa de processo reflexivo é mais eficiente do que trocar idéias malucas com algum profissional que realmente entenda dessas maluquices da vida. Mas ao menos não pago por isso e me sinto mais confortável por falar com alguém normal (normal?) que tende a falhar como eu. Seria um conforto escavado nos erros alheios? Seria um jeito torto de ver que nem sou tão torta? Comparando o que sou com o que há no mundo? Tem horas que me sinto uma sanguessuga, absurdamente interessada em cuspir meus marimbondos em busca de algum alívio. Em quem quer que seja, desde que eu o considere digno de um bom debate sobre todo tipo de coisa.
 
Mas a questão é: as relações humanas não são mesmo uma questão de interesse? Sexual, econômico, cultural, morfológico, fisiológico, hormonal, emocional, religioso, político, social, qualquer que seja o tipo de interesse? Não estamos sempre com outra pessoa porque nos sentimos incompletos, meio pernetas, meio copo vazio, talvez sozinhos ou deslocados no mundo? Não procuramos no outro aquilo que devia nos bastar em nós mesmos? Eis a questão: busco um espelho, não sei até que ponto ainda busco essa suposta completude. Afinal, durante os últimos tempos descobri que era necessário aprender a curtir a minha própria companhia solitária para só assim não criar expectativas errôneas sobre o que o outro pode me dar. Portanto, na verdade, meus novos amigos “virtualizados” são apenas o outro lado do meu próprio eu, permitindo que a antítese me faça crescer e andar com minhas próprias pernas.
 

03/06/2011

Madeira sem Verniz

Estive ausente. Talvez menos carente em 29 dias, mas muito carente num desses domingos da vida.  Um chororô desenfreado, mas daqueles que te deixam aliviada no dia seguinte. Você até vai trabalhar de olhos inchados, mas finge que dormiu mal e pronto. Você resmunga durante toda a madrugada sem saber o motivo, sofre como se o peito estivesse sendo espremido por uma bigorna. Mas não há bigorna que pese por mais de 24 horas quando você está simplesmente “equilibrada”. Não há lobo nesta estepe. Não há madeira brilhante quando só se é tronco de árvore.
 
Nestes poucos dias de minha ausência no ano, eu me permiti sensações diversas. Ouvi música celta, com violino, sapateado, gaita de fole e roupas dos anos 80. Frenéticos, cativantes, energizantes. Você sem querer bate os pés junto, sente os tornozelos girando ou balança a cabeça na mesma cadência forte da música irlandesa com timbres de bruxa e tabernas medievais. Não adianta: você se transporta, você se contagia. Celtic Legends me permitiu, de uma certa forma, cumprir a minha promessa de ver de perto os passos malucos do Lords of The Dance.
 
Também assisti a um espetáculo de dança moderna, com bailarinos com pés presos em esquis de neve em pleno palco. Atletas da trupe italiana que misturam esporte, dança e limites físicos. Nada se compara aos 4 malucos com roupa de esquiar, mas o espetáculo é no geral uma prova de que sabemos muito pouco sobre o limite dos nossos próprios corpos de carne e osso. Katakló é a prova de que podemos ir além da lei da gravidade, desde que não a contrariemos.
 
Caminhando nessa seqüência Cult, vi Jack Jonhson tocar umas 18 músicas para um público jovem que nada tem de ambientalista como o cantor. Muito menos do espírito surfista, contemplador da natureza. Mas todos estavam ali em paz, ouvindo músicas leves e felizes, falando sobre coisas da vida de qualquer um de nós. Sobre ter esperança, sobre estar sozinho, sobre como é bom compartilhar, sobre panquecas de banana. Não tocou o repertório predileto da minha mãe, mas confesso que pra mim foi ótimo descobrir músicas como: “You and Your Heart”, “Hope”, “To the Sea”, “The Sharing Song”. Quando estávamos indo embora, passamos pelo transporte da banda e o pianista Zack estava com o nariz pregado na janela da van, fazendo graça para o público. E não é assim que a vida tem que ser?
 
Direto de Bravura Indômita, descobri que “eu não envernizo minhas opiniões” como a jovem de 14 anos, Mattie, de tranças e chapéu. Não tenho alma de pistoleira, se é que me entendem, mas costumo ser certeira nas balas que atiro com a língua. Língua difícil de comandar, pois me falta controle pra filtrar o que penso e não falar o que falo. Não amacio o que penso e acabo atirando duros raciocínios a quem não tem capacidade de absorver a sinceridade e a objetividade neles contidas. Mas como posso ser diferente de como eu acho certo ser?
 
Contei tudo pra Edwiges, e ela não é uma amiga invisível. Ela simplesmente me ouve e sofre junto comigo. Ela me fornece aquelas santas fórmulas homeopáticas que, acreditem, seguram a minha onda. E a onda é grande, quase sempre é de afogar qualquer um sem salva-vidas. Ela me disse: “A consciência é falada, não é mesmo”? E daí percebi que sim, porque só quando nos expressamos é que nos comprometemos com nosso posicionamento diante dos fatos. Sabe o que ela me receitou: “Quero que você fale ainda mais, mas sem sofrer por isso”. E aqui estou com meus 4 vidros de bolinhas doces com uma programação apertada. Vou sonhar colorido, dormir bem, gripar menos, falar mais sem morrer por isso. Um milagre!
 
E hoje? Hoje estou assim, normal, com a cabeça no lugar (em cima do pescoço) e prestes a mais um final de semana daqueles bem intensos. Um final de semana no passo de um sapateado irlandês, com as cores de um cenário teatral, com a alegria sutil das ondas do mar e com segredos homeopáticos me espiando de longe. Como se fosse outra de mim, sugada do momento real e transportada para um mundo paralelo, saltando cordas e buracos negros. Simples é nascer. Simplesmente é viver. Difícil é viver envernizada. Dificilmente vou segurar o que penso.