28/06/2010

Efeito Copa


Eu tenho um amigo inglês de Liverpool que mora no Recife, um casal de amigos belgas que conheci em Itacaré, um ex-padrasto japonês, dois amigos moçambicanos que eu chamava de “jamaicanos”, uma amiga de minha mãe é chilena, um amigo espanhol que mora na China, um amigo que nasceu na Suíça, morei numa pensão com um alemão que tinha chulé, tenho um casal de amigos de BH que agora mora na grande Londres, uma amiga de Itaú de Minas morando em Andorra, uma amiga itaunense morando em Porto, uma cunhada venezuelana, trabalho com uma peruana loira (que morou na Itália, EUA, Rússia e veio se casar com um brasileiro), trabalho numa empresa que está no ranking das grandes “transnacionais”... Ainda me faltam chineses, australianos, coreanos, senegaleses, russos, egípcios, colombianos, canadenses, irlandeses, eslovacos, etc.

A cada 4 anos sinto falta de conhecer gente de todo o mundo. Sinto que não vai dar tempo de conhecer todos os povos do mundo, de ir a todos os cantos que estão na minha enorme lista, pendurada no armário da cozinha. Sempre que vejo as incríveis imagens da Copa do Mundo, lembro da minha enorme “pequenez”. As torcidas se misturam em completa paz, transformando as arquibancadas num mundo sem fronteiras. Todos vibram por um motivo único, sem preconceitos e sem disputas além daquela que persegue a bola.

Sou uma torcedora chorona. Eu me emociono quando o hino toca, morro de pena quando algum jogador desaba em lágrimas ao ser eliminado, choro quando o Brasil vence uma copa. Sou assim desde que me dou por gente e, quer você acredite ou não, eu me lembro perfeitamente da nossa eliminação na copa de 90. Quando vencemos em 94, naqueles pênaltis sofridos, eu estava no terraço do meu prédio, com todos os amigos da minha mãe reunidos, usando meu segundo patins, ainda tinha meu vira-lata preto e branco (atleticano, claro) e não entendia ainda o que era lança-perfume. Mas lembro-me perfeitamente daquele foguetório, da alegria de todo mundo por um mesmo motivo...

Em 2002, já na faculdade, também me lembro de voltar pra minha cidade natal, num ritual quase absurdo pra evitar a má sorte. O mais engraçado é que me lembro menos do penta do que do tetra... E também me lembro das grandes decepções de 1998 e 2006... De qualquer forma, sempre lá, alternando entre a alegria e a tristeza, como seu fizesse parte do banco de reservas, como se fosse fanática por futebol a cada segundo. A verdade é que o clima de copa nos entorpece, nos deixa fanáticos e até decoramos nomes dos jogadores adversários. Acredite, eu sei o que é um impedimento, quando é pênalti e até xingo o juiz... Que venham os holandeses, com ou sem laranja mecânica!

O que importa é que nesses poucos dias, o mundo se encontra num único lugar, com gente de todo tipo, raça, classe social, time, fé ou humor. Vale a pena sofrer a cada jogo, ganhando ou não, mas pra continuar com a certeza de que ainda podemos nos unir em nome de causas globais, na esperança de que outras forças um dia terão vozes também mundiais: meio ambiente, justiça, igualdade social, amor ao próximo. E falando em amor, não adianta, também não posso negar. Tô numa inveja danada do clima de romance do Maradona com sua equipe, contagiando e motivando seus jogadores. Podem me xingar, mas não dá pra negar: tá dando gosto de ver a garra dos hermanos em campo... Já vou logo avisando: tomara mesmo que a gente não trombe com eles na final, porque no quesito “gente”, o mala do Maradona é imbatível! Tomara que eles destrocem os alemães, porque essa copa é do “antigo Terceiro Mundo”, mas que não nos confrontemos! Não quero um tango na memória!

24/06/2010

Vida Doida

Não, não é estrofe do Rick Martin. É uma constatação. Os fatos se encadeiam de uma forma que foge à minha compreensão. Só consigo explicar através de dois conceitos: destino e fé. Que fique bem claro, por sinal, que normalmente eles não acontecem juntos, mas ambos movem nossos rumos, mesmo que esse domínio escape à nossa percepção.

Há quase 4 anos eu estava fazendo pós-graduação e conhecendo pessoas com quem convivi de novo 2 dias dessa semana. Nesta pós-graduação, fizemos um projeto de curta-metragem e meu amigo hoje tem uma vida dupla, dividindo-se entre analista de sistemas e cineasta. Há 1 mês eu o ajudei fazendo o making of de um clipe. Naquela época eu havia perdido cabelo, hoje estou loira e pensando em lipoaspiração. Há 1 ano e 1 mês eu ainda estava casada, apesar dos meus poucos 26 anos naquela época. Há 3 meses fiz outro curso rápido e já reencontrei meus colegas em 3 situações completamente diferentes. Quantas oportunidades eu provoquei e quantas vieram até mim? Se você ainda pensa que conhece alguém que não conhece outra pessoa que conhece você, acredite, o mundo é um ovo.

Enquanto estou aqui, sentindo frio, em Cuiabá parece verão. Meu irmão está na África, em algum lugar movimentado pela Copa do Mundo. Há 3 semanas eu estava na Argentina e no mesmo dia estive em Buenos Aires e Montevidéu – 2 países separados por um rio que mais parece mar. Enquanto ouço as novidades de Itaúna, minha amiga me chama lá de Andorra, contando sobre as novidades de Barcelona, ali pertinho. E outra ainda me envia um e-mail de Portugal, falando um português paraguaio e deixando a gente com saudade. Fora aqueles que já se foram e já voltaram. Se você ainda pensa que o mundo é grande, acredite, é um ovo de codorna.

Há mais de 12 anos eu fiz um exame de paternidade, cumprindo regras judiciais para comprovar o que todo mundo já sabia, inclusive o dono dos outros 50% de minha pessoa. Ah, mas que fique claro: o DNA mitocondrial é materno. Sou mais minha mãe, inclusive biologicamente. E sim, eu não sou uma hipocondríaca comum: sou uma daquelas que tem até o DNA mapeado. Há mais de 10 anos eu descobri sobre o lúpus, que hoje a maldita Lady Gaga dramatiza (afinal, essa paranóica simplesmente sabe que tem o gene, o que não necessariamente significa que ele um dia sequer será ativado). Se você me perguntar quantos exames, remédios, vacinas e agulhadas tomei nesse período, não terei a menor condição de responder. Só sei que isso não vale pro imposto de renda. E alguém que você conhece é um contador, assim como eu. Se você ainda acha que o mundo muda pra todo mundo, acredite, o mundo é um ovo cru para todos.

Hoje é aniversário do meu pai (biológico, confesso). Eu me lembrei disso ontem e quando minha irmã me ligou hoje, já sabia qual era o propósito dela. Conheço bem esta tática, pois ela fez o mesmo no ano passado no meu aniversário. Enfim, dei parabéns para o meu pai, coisa que nunca havia feito em 27 anos. Aos 16, afinal, ele era apenas alvo do meu rancor. E se eu aprendi algo neste último ano que se passou, foi que tudo passa, que as raivas até se substituem. Jamais me imaginaria dando parabéns e ainda brincando como se tudo fosse mais normal do que realmente é. Culpa da minha irmã, que encontrei pela internet há 16 meses, através do Orkut e por uma prima em comum. Nunca nem havíamos nos falado. E através de um “fake” eu mudei o rumo de uma história, rompendo velhos rancores e vergonhas. Aqui estamos: eu em BH, minha irmã caçula em Lagoa da Prata, meu irmão em algum lugar na África do Sul e minha irmã rabugenta em algum canto em Arcos (ela não sabe o que está perdendo). O mundo, é isso mesmo, é um ovo de peixe, desses que explodem o tempo todo nos meus aquários do Facebook.

No domingo, depois da pancadaria com a Costa do Marfim, fomos a um restaurante japonês que fica no Brasil. Na fila do caixa, encontramos um paquera dos nossos 20 e poucos anos, uma figura pitoresca que sempre fez parte de nossas chacotas, afinal seu apelido de “Minhoca” era pouco diante do fato de que das 4 amigas inseparáveis, 3 já haviam beijado o bendito. E como ele estava feio! E como nós melhoramos! Durante a semana, 1 ex foi detectado no aeroporto, 1 outro ligou pedindo um lugar pra dormir, 1 outro rolo em potencial ofertou um presente do sex-shop em homenagem ao divórcio. Há 7 meses assinei os papéis da separação e ganhei uma etiqueta na minha identidade, que informa o livro e número da página em que o ato foi lavrado. Agora tenho 27 anos, já viajei 2 vezes em menos de 1 ano, voltei pro meu antigo emprego e estou na parcela 5 do meu imóvel próprio. Já tenho 2 viagens programadas. Você já está cansado de saber: o mundo é ridiculamente pouco pra mim.

E agora você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com destino e fé? Ora, você ainda tem coragem de perguntar? Basta conectar cada fato e número acima e se perguntar: até que ponto foi o meu destino que me guiou ou até que ponto foi a fé que me resgatou? Se o mundo é pequeno, o destino acaba dando voltas e a fé não te deixa desistir de seguir adiante. Acredite, a casca do ovo é fina pra você.

21/06/2010

Espetáculos

Incríveis oportunidades de participar e assistir lindos espetáculos. Como se a vida fosse um grande teatro iluminado, às vezes trombei com esses luxos. Agarrei cada chance como se fosse a única, por mais humilde que isso soe. Queria apenas listar aqui alguns momentos fantásticos e fantasiosos que presenciei e que gostaria que todos pudessem um dia vivenciar. Não se restringem aos humanos, claro.

Escolas de Samba – Itaúna/MG/Brasil
Acredite: onde nasci o Carnaval já foi um grande espetáculo, dadas as devidas proporções. Vi muitos anos a “Unidos da Ponte” encarar os “Zulus” com sua bateria popular, nascida das batidas da periferia dessa cidade do interior. Sempre me empolguei da arquibancada, especialmente nos tempos em que minha mãe era destaque da escola.

Pôr-do-sol no Forte – Morro de São Paulo/Bahia/Brasil
Lembro-me que o sol descia em tons alaranjados num mar negro sem fim.

Jogo do Atlético Mineiro – Mineirão - Belo Horizonte/MG/Brasil
Só quem é atleticano sabe como é sentir a arquibancada tremer num gol do Galo.

Golfinhos Livres – Baía dos Porcos – Fernando de Noronha/Pernambuco/Brasil
Noronha sempre foi meu sonho de infância. Eu me senti Jacques Cousteau.

Cardume no Mergulho de Reboque - Fernando de Noronha/Pernambuco/Brasil
Sendo puxada pelo barco, a 50 metros de profundidade, só com meu fôlego e uma máscara aquática. Eu me senti num episódio do Globo Repórter, esparramando os peixes na corrente marinha, seguindo o balé prateado do cardume.

Show do “Adão Negro” – Itacaré/Bahia/Brasil
Conheci esta banda em Morro de São Paulo. Sempre me traz boas recordações, especialmente das festas da época da faculdade.

“Alegria” - Cirque Du Soleil – Belo Horizonte/MG/Brasil
Fantástico, monumental. Um clima único. Infelizmente sem chances pra fotos, mesmo sem flash. Música e fantasia puras...

“Natureza” – Circo da China - Belo Horizonte/MG/Brasil
Arte, devoção, dedicação e engenhosidade. Jovens chineses espetaculares. E o melhor de tudo: eu podia fotografar, estava num ângulo perfeito e consegui imagens únicas. Aliás, ainda não sei como eles fizeram macacos-humanos voarem!

Arraia Gigante – Guarapari/Espírito Santo/Brasil
Alguns procuram a bendita no Golfo do México, Caribe, África. Eu vi aqui mesmo, numa praia de mineiros, sem querer. Uma sorte única.

Golfinhos Treinados – Parque Xcaret – Cancun/México
Outro sonho de infância. Viver um momento único, dentro de um enorme tanque onde eu é quem sou a intrusa. Golfinhos enormes, de um cinza-azulado emborrachado, inteligentes e treinados. Seguindo minhas ordens e fazendo charme com suas barrigas brancas pra ganhar carinho. Caro, mas fantástico.

Tubarão Lixa – Isla Mujeres – Cancun/México
Um dólar. Ridículo assim. E entrei num tanque “caseiro”, com um mexicano domador de tubarões segurando uma das feras. Sem força, sei que provavelmente o bicho estava dopado, mas ainda assim, eu segurei um tubarão no meu colo, em torno de 1,5 metros. Sei que os tubarões-lixa são belos banguelos do mar, mas quem é que você conhece que segurou um tubarão por um dólar?

História Maia e Mexicana – Parque Xcaret – Cancun/México
Não posso mentir. Meus olhos encheram de lágrimas várias vezes. A grandiosidade do espetáculo assusta qualquer mortal, especialmente uma turista como eu. Desde os jogos de pelota dos maias, até a chegada dos astecas e a invasão dos espanhóis, culminando em danças típicas de vários estados mexicanos.

Ópera “Aida” (Verdi) – Palácio das Artes – Belo Horizonte/MG/Brasil
Há muitos anos queria assistir uma ópera com todo aquele estilo que os europeus nos ensinam pelos filmes. Naquele cenário egípcio, com vozes fortes e brados retumbantes, assistimos todos os atos sem cansaço e sem tédio. O Egito estava ali.

Baleias Jubarte – Abrolhos/Bahia/Brasil
Outro sonho. Mas o que impressiona é a sutileza de seus movimentos, apesar de todo seu poder e força. São mamíferos enormes, sobrenaturais, porém mais leves que qualquer ser em sua insustentável leveza (Kundera que o diga). Você sabe que são maiores que grande parte dos outros seres no mundo, mas ainda assim não deixam de ser incrivelmente delicadas.

Projeção 360 Graus do River – Estádio Monumental - Buenos Aires/Argentina
Não sei nem explicar porque mexeu tanto comigo. O ambiente, o clima, mais um sonho realizado, mais um plano cumprido. No escuro, ouvindo a história de um time que mal conheço, cuja história é toda narrada em espanhol, pensei em tanta coisa que sinceramente não sei dizer tudo que pensei naqueles minutos. Talvez porque a vida seja uma constante projeção em todos os ângulos possíveis, mesmo que a gente não assista.

Show de Tango – Senhor Tango – Buenos Aires/Argentina
Muitos me disseram que seria “Broadway” demais, mas arriscamos. Sem arrependimento algum! Sou mesmo uma turista assumida, me deixe curtir todas as firulas que montam pra gente. Boa música, bom ambiente, cavalos no palco, gaúchos verdadeiros, flauta indígena (ocarinas, lembram-se?) e muito tango pra esquentar as idéias. Não me levem a mal, mas aposto que Gardel sempre fez amor ouvindo tango.

18/06/2010

Saramagueie


“O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer...” Disse a avó de José Saramago, criadora de porcos sem pérolas, mãe de uma faxineira que um dia matriculou seu filho numa escola técnica. E do mecânico ao equilibrista das palavras, Saramago se descortinou, ainda que tardiamente. "Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas, eu já teria desistido da vida." Escreveu José Saramago (Ensaio Sobre a Cegueira) e hoje reli graças à Natália.

Quando vi Ensaio Sobre a Cegueira nas telas do cinema me senti uma leitora fajuta. Como li pouco Saramago! Como procurei pouco de Saramago! Mas ainda assim saí do cinema catatônica, escrevi o costumeiro comentário sobre o filme (claro, escrevo quando merece). E fiquei imaginando quão intenso deveria ser aquele livro que não li, já que mesmo nas horas resumidas de cinema o mesmo alcançou meu estômago. Saí perplexa com a minha cegueira. Descobri que é preciso "saramaguear", diria Guimarães Rosa, para que talvez um dia alcancemos a compreensão que nos falta.

Não precisamos ler tudo e todos, muito menos conhecer toda a obra literária que a crítica valoriza ou que se transforma em pó. O que importante é pensar - não apenas ler, copiar, citar. Acredito plenamente que todo escritor, de reconhecidas editoras ou de diários escondidos, concorda comigo. Escrever não é um exercício de transcrever pensamentos, mas sim de organizá-los, conhecer a si mesmo, socraticamente, e talvez conseguir que um grão do mundo se transforme em boa obra - não literária, mas humana. Que Saramago descanse em paz, pois suas obras transcenderão sua passagem terrena e ainda alcançarão muitas mentes abertas à constante revolução do pensamento.

16/06/2010

Saudadite

Tem dia que eu sinto uma saudade danada de tudo que fui. Não que eu tenha me perdido nesse caminho - ainda curto quando se olha para o final, porém já bem vivido quando penso em quando aprendi a andar. Faz tempo que aprendi a falar, a escrever, a arriscar. E ainda me falta tempo para falar, escrever, arriscar.

Sinto saudade até dos velhos dramas de adolescente, quando eu ainda me permitia amar mais o próximo do que eu mesma. Hoje sou mais egoísta, olho mais pro meu metro quadrado. Antes eu dormia chorando no travesseiro porque não era correspondida, plena idade do amor platônico e devotado. Chorava porque tinha canelas finas, chorava por ele gostava da minha melhor amiga. Só me restava mandar cartas, escrever sobre o amor que eu sentia, eterno em sua momentaneidade.

Tempos depois passei a chorar por me sentir sozinha, por me sentir peixe fora d´água, típico patinho feio e uma simples nerd aos 15 anos. Deslocada no meu mundo amadurecido precocemente, já pensando nos meus planos para dominar a minha própria vida, porém ainda presa às limitações típicas da idade: acorda, garota, você ainda é uma pirralha.

Quando as possibilidades começaram a surgir diante dos meus olhos, precisava me conhecer melhor pra saber onde me enquadrava. Reconhecimento do terreno e das oportunidades disponíveis, quase testando meu juízo e bom senso. Acho que até me controlei bem, diante de tanta besteira que temos chance de fazer nessa mudança hormonal e social que a vida nos impõe dos 16 aos 21 anos. Segurei minha onda e com juízo priorizei os meus planos de conquistar o mundo...

Mesmo que o mundo não fosse só meu, mas o “meu” mundo. As minhas vontades, os meus planos, meus ideais de vida. Buscar minha solidez como pessoa, concretizar minha independência, definir as minhas metas, percorrer o caminho que é só meu. Ainda falta muito pra conquistar, as oportunidades continuam borbulhando, continuo exposta às tentações e à falta de juízo. Escolha por escolha continuo galgando os degraus que só pertencem a mim. Hoje choro quando tenho raiva ou alegria, mas aprendi a não perder tempo do meu sagrado sono chorando no travesseiro.

Sei que tudo que falei se parece exatamente com sua história, sei que a semelhança é simplória e de certa forma engraçada. Aposto que você sentiu tudo de um jeito bem parecido e que sabe bem o que é correr atrás do seu destino. E se ainda não sentiu, um dia ainda sentirá... Essa mistura de saudosismo com um processo quase inflamatório, uma “ite” dessas que tampa a respiração de vez em quando e faz a gente lembrar que é de carne e osso, que tem sentimentos, que às vezes dói e sufoca, mas que é bom quando a gente volta a respirar. Quando nos permitimos a entrada de novos ares em nossos pulmões, mesmo que a “saudadite” um dia tome conta.

Não é simplesmente sentir falta. É querer revisitar aquilo que já vivemos, claro, a parte boa. Como se pudéssemos entrar no túnel do tempo, escolher um ano, clicar numa foto e viver aquele mesmo momento por alguns instantes. Porém, sem abrir mão do que já temos hoje. Não basta ver a memória, não se trata de ver as fotos ou filmagens. Mas de podermos experimentar aquele mesmo sentimento que um dia foi importante, que nos modificou e nos guiou até o aqui e agora.

Se eu pudesse entrar nesse túnel, separaria 15 minutos todo santo dia para escolher um bom momento e reviver tudo que foi bom, que me moveu e me moldou. Escolheria coisas simples, que na época talvez não fizesse sentido e nem tivesse tanta importância, mas que hoje sei que fazem parte do que sou. Escolheria a bolinha de gude na rua, o pique-esconde, os meus diários, o terceiro beijo, as fantasias de super-heróis, as festas, o sorvete com os amigos, o sonho de ser oceanógrafa, a escola, até mesmo os momentos em que eu fazia os meus planos de vida, numa esperança inquestionável. Só pra chegar aqui, de volta, em 2010, e dizer que muito do que quis, eu estou conseguindo. E olha que ainda quero muito mais...

Túnel do Tempo no "Monumental" (Estádio do River, Buenos Aires / Argentina)

10/06/2010

Desapego e castelos de areia

Comecei a escrever em 28/05...

Hoje parei pra pensar em todos os momentos da minha vida em que senti ódio, daquele que corrói e dói no peito. Mas, felizmente, não foram as situações mais comuns em minha vida - muito pelo contrário. Meus ódios foram infinitamente menores do que minhas glórias. Entretanto, nem por isso foram sutis e carregaram uma intensidade momentaneamente insuportável. Já odiei gente, já me odiei, já odiei pelo outro, já odiei sem e com razão. Odiei com todas as forças, sentindo uma dor por dentro que talvez se compare a uma demolição. Como se a alma se espremesse numa nuvem negra, como se o coração estivesse sufocado numa lata, como se os pulmões só captassem CO2, um sufoco. Senti com toda a minha vontade, desejei todo o mal cabível, mas um dia consegui voltar a dormir.

Descobri que dormir é com uma limpeza de disco. Aos poucos você elimina tudo que não presta e que não te ajuda. Exclui cada memória desnecessária, mantendo somente aquilo que te faz crescer. Afinal, dados desfragmentados não merecem nenhum dos bytes. Aí a gente descobre que a dor do ódio some, se dissolve no tempo. E por mais que nos lembremos racionalmente do momento de ódio, nosso coração tem a maravilhosa capacidade de esquecer esta dor.


Continuei a escrever em 10/06...

Distanciar-se do passado é uma constante busca do desapego. Sei que o passado também pode ser bom, mas ainda assim é passado. Hoje eu disse que "só amo o presente" e de fato é assim que me sinto. Prefiro esperar somente pelas 24 horas de hoje, até que eu me recolha em meus sonhos que se apagam. Não quero castelos, quero apenas planos que podem mudar, se eu quiser. Sei que pareço ter mudado de assunto, fugido da linha principal do meu pensamento, mas no fundo, tudo acaba no mesmo rumo: amor e ódio podem se pulverizar na mesma rapidez, mesmo que possuam a mesma intensidade.

Aquele mesmo ódio que senti hoje é quase pena, quase culpa, quase perdão. Em alguns momentos já é chacota, aprendizado e até lição. Aquele ódio um dia será compaixão, quando eu alcançar o estágio máximo da evolução. Evolução rumo a esse desapego, que mencionei palavras atrás, pois só assim nos libertamos das más lembranças. As boas lembranças, por mais que ainda permaneçam, também não podem nos prender para sempre e muito menos nos impedir de buscarmos lembranças ainda melhores. Se hoje sou feliz, que ótimo, mas espero ser ainda mais amanhã. Se isso acontecer, estou no lucro além das 24 horas previstas.

E se fui triste ontem, se fiquei furiosa há alguns meses, se chorei dias por algo que não valia a pena, hoje estou em paz, imune às antigas fotos, sem sentir saudade, sem me indignar com aquele sentimento que o destino me trouxe. Hoje estou de novo "comigo", sem precisar de algo que me complete constantemente, satisfeita com quem eu mesma sou. Não é ser egocêntrica, nem egoísta - é simplesmente saber que eu me "basto". Isso me permite gostar ainda mais das pessoas, sem cobrar que elas estejam ao meu lado sempre, sem me iludir com o que elas podem me dar em troca, sem criar castelos onde talvez eu só descubra areia.

"Hoje" só quero acordar amanhã e planejar aquilo que só depende de mim. Se alguém quiser fazer parte, estará convidado, será muito bem recebido. Planejo conquistar o mundo, planejo pensar várias maluquices impensadas, planejo sentir e ignorar vários tipos de sentimento, planejo me apegar somente a quem eu sou agora. Talvez eu continue sendo só areia e que também não me transforme em castelo todos os dias. Mas areia vai e vem, com as ondas, sem rumo, sem tédio. Quem é que disse que não sou mesmo um grãozinho desgarrado? Serei apenas o castelo que couber aos meus contos.

07/06/2010

Na terra de Che

O mundo está se contraindo. Voar e estar completamente distante de onde se partiu continua sendo para mim o grande desafio da lei da física, a grande sacada pra enganar o tempo e pra sugar as possibilidades da vida. Se hoje estou em Belo Horizonte, horas depois estou em Buenos Aires e no dia seguinte em Montevidéu. Não duvide. O mundo é pequeno pra quem falta um parafuso e sonha sem dormir.

Primeiro Dia
Chegamos já na hora do almoço. Eu e dois amigos, ambos do signo de Escorpião. Como virginiana que se preza, tudo já está muito bem anotado, com endereços e preços, além de uma seqüência proposta para os passeios. Claro, que não se cumpriu. Nos hospedamos na Parera com Alvear, ao som do “holla, que tal?” todo o tempo. Demos uma bela caminhada pela Alvear, passeando pelas galerias e até um protótipo de mangue onde atolamos os pés. Adiante, um típico café argentino, onde o Fred pediu um “submarino” sem nem saber o que era. Quando chegou o leite quente, ele mordeu o chocolate. Só depois perguntou ao garçom e ele explicou que era pra afundar o chocolate no leite, ou seja, o motivo do nome. Passeadores com um aglomerado de cães para todo lado, a 250 pesos por mês para cada cachorro. Lembrei muito de minha mãe. Andamos até uma feira de artesanatos, claro, onde já me perdi no meu vício. Conhecemos o Claustro da Nossa Senhora do Pilar, igreja mais antiga de Buenos Aires, mas que não chega aos pés de nossas relíquias barrocas. Andamos até a imponente Faculdade de Direito, com suas pilastras enormes e uma única cor em todo o prédio. Adiante, Floralis Genérica, uma flor de aço desenhada por um arquiteto e feita em homenagem à cidade. Não consegui convencer ninguém a entrar no Museu de Belas Artes, mas deve valer a pena. Depois do dia de reconhecimento do terreno, fomos direto ao Hard Rock Café, bem típico da marca. No taxi, Fred fechou meus dedos na porta, 4 dedos presos. Só faltava eu quebrar os dedos logo no primeiro dia (o que realmente é bem típico da minha pessoa desastrada), mas deu tudo certo e sobrevivi à delicadeza com a qual ele fecha a porta do carro. Perdi as fotos dessa noite de alguma forma, nem me lembrem disso. Do Hard Rock para o hotel. Frio? Razoável.

Segundo Dia
City tour com a operadora de turismo. Ao rever as fotos do dia anterior, foi nesse momento que perdi as fotos do Hard Rock. Imaginem uma pessoa emburrada? Euzinha. Enfim, passou quando me lembrei que tinha feito um “meio backup” na noite anterior, mas ainda assim fiquei traumatizada. Decidi nem sequer rever fotos mais na máquina durante toda as viagem. Rodamos de ônibus por toda a cidade, passando por lindos pontos e ouvindo explicações que não lembro mais. Mas uma me marcou muito: a explicação da ausência de negros na cidade. Há muitos anos uma febre amarela aniquilou 2/3 da população da cidade e, claro, os negros eram aqueles com menos recursos de saúde à disposição. Assim a cidade tem uma variação mínima de biotipos, bem diferente de nosso Brasil cheio de misturas. Almoçamos num restaurante e encaramos logo de cara do tal bife de chorizo. Fred, como sempre liderando o ranking dos momentos hilários, decidiu pedir um bife inteiro. Enquanto isso, Victor e eu nos recolhemos ao nosso meio bife pra não arriscar. Claro, atrasados pra entrar no ônibus de volta... Como escolhemos porções, Fred recuou, pediu meio também. Quando o tal meio bife chegou, caímos na gargalhada: era enorme! Nem o Fred conseguiria tamanha façanha! Engolimos e fomos ao tour de compras (mas acreditem, os meninos estavam bem mais sensíveis a isso do que eu). Rodamos um bocado nos benditos outlets, os quais saltam aos olhos especialmente pra quem gosta de material esportivo. Fred olho tudo, não comprou quase nada. Victor era o mais disposto a gastar. Eu comprei uma touca linda (guardem esse episódio), o meu “achado” da viagem. Fechamos o dia com uma ida ao Sr. Tango, um espetáculo literalmente cinematográfico que apresenta a tradição do tango argentino com um toque de Broadway. Muita música, muitos dançarinos, alguns músicos tocando flautas tradicionais, uma orquestra com 700 anos (somando a idade dos músicos), jantar, vinho e uma estrutura armada pra suportar até cavalos no palco. Eu adorei!

Terceiro Dia
Começamos pelo Cemitério da Recoleta. Acredite: pra mim é quase impossível pensar no lado fúnebre de cada obra de arte que ali se encontra. Um dos túmulos (são feitos na vertical) estava aberto. Entrei, não resisti. 4 caixões, velas, um altar, tudo ali, sem nome, sem vida, história interrompida. Existe uma crença de que os gatos são guardiões do caminho entre vida e morte, que eles enxergam espíritos, etc. Eu só se que tinha muito gato naquele lugar. E, claro, para completar o clima sinistro, trombamos com um gato preto. A verdade é que nem demoramos muito lá depois disso (risos). Visitamos o túmulo de Evita Perón, que não é o mais bonito, do presidente Sarmiento (imponente como sua história militar) e outros tantos túmulos que são realmente magníficos. De lá, tomamos um taxi para o bairro La Boca (nas margens do Riachuelo, onde está o primeiro porto da cidade), conhecido por não ser dos mais tranqüilos. Corremos na direção do La Bombonera, estádio do Boca Juniors, time do Maradona. Em seu azul e amarelo reside um lado atleticano: um time popular, fundamentado na paixão pelo futebol. Conhecemos o museu, fizemos a visita guiada (eu estava com minha querida touca), encenamos um pulo na grade do campo, etc. Passamos pelo Caminito com calma, comprei os alfajores que prometi aos amigos, espiei mais um monte de artesanatos (claro, com os pesos já sumindo do meu bolso). Acabei comprando um poncho. Quando é que na vida eu vou ter coragem de usar aquilo? Não sei, só sei que era lindo e o jeito era usar lá na Argentina, enquanto eu podia me disfarçar de turista (risos). Um desenhista fez uma caricatura minha, mas quem é que disse que se parece comigo? Victor topou a idéia e ficou ainda mais invocado com a caricatura que não era dele! Enquanto os meninos mais uma vez rodavam em busca de camisas de futebol e outros bagulhos, corri até o Museu de Benito Quinquela Martin sozinha, paguei míseros 2 pesos (um real) e entrei. Nunca subi tantas escadas pra chegar num suposto segundo piso. Quadros lindos que refletem especialmente a vida dos navegantes, suas famílias, a economia portuária. Uma história de fé no trabalho expressa em óleos coloridos e vibrantes. Um grande achado! Reencontrei os meninos e embarcamos rumo ao Monumental, estádio do River em Palermo. Do outro lado da cidade. E uma grande surpresa em seu vermelho e branco: uma estrutura enorme, muito bem cuidada, que seria mais o estilo elitizado dos cruzeirenses. Um museu interessantíssimo, com direito a uma simulação de viagem no tempo (relacionando os títulos do clube e a década em que aconteceram) e a uma projeção 360 graus que contava como surgiu o clube. Depois disso, mais um submarino e as queridas “medialunas” (croassaints) que me sustentaram durante uma semana. Andamos pelo bairro até a avenida Libertador, conseguimos finalmente ligar para casa e tomamos um taxi. À noite jantamos no Siga La Vaca, que pelo custo benefício valia mesmo a pena. Mas a parte bacana foi encontrar com um médico aposentado viajando com sua esposa e filho, rodando a Argentina há 64 dias. Ele nos contou histórias incríveis de seu moto-home. É isso que quero pra mim... Seu Neri, dona Sílvia e Thiago, que nos indicaram uma visita a Lugano, a 60 km de Buenos Aires, mas que não fomos... Fica pra próxima. Bom, vinho à parte, rimos muito, especialmente na hora da brincadeira de verdade ou conseqüência... Revelações cômicas, surpreendentes e talvez até esclarecedoras, enfim, um pacto de amizade renovado para dar conta de nossas pequenas chatices... Diversão garantida, com direito a fotos muito engraçadas, mesmo no vento frio... Dormimos bem leves!

No Cemitério da Recoleta, uma bela frase de Santo Agostinho:
oh vosotros que nos llorais
no os dejeis abatir por el dolor
mirad la vida que comienza
y no la que que ha concluido


Quarto Dia
Ninguém de ressaca, isso era muito importante. Dia de ir a Puerto Madero, inclusive para espiar o preço da maluquice de irmos ao Uruguai via BuqueBus, navegando pelo Rio da Prata, que é mesmo um mar... Seguindo a tradição, eu estava vestindo uma camisa do Che. Em Puerto Madero, entramos na Corveta Uruguai, um dos navios museus ancorados nesse segundo porto de Buenos Aires que atualmente só recebe pequenas embarcações turísticas. A Corveta e suas histórias, as viagens, a casa de máquinas, o peso de tudo, lembranças eternizadas para que estranhos abram os olhos para o passado. Depois de um lanche, a Fragata Sarmiento, um grande barco, que até possui o cachorro do capitão empalhado. Andamos pela casa de máquinas, encontrei máscaras de samurais e até um lindo escafandro. Mais uma viagem no tempo, dessas que sempre me deixam encucada... Quantas pessoas não viveram ali momentos de tormenta e de glória, enquanto eu passeio tranquilamente como seu tudo fosse paz? Claro, com direito a fotos no estilo Titanic, que ficaram hilárias... Encontramos um lindo ponto para fotografar a Ponte da Mulher. Puerto Madero é uma homenagem às mulheres, segundo contam. A ponte moderna contrasta em relação aos prédios antigos, estaleiros, barcos, guindastes desativados. Um belo cenário que conecta passado e presente. Como se não bastasse, finalmente conseguimos moedas para tomarmos um ônibus até Palermo. Moeda é realmente difícil naquele lugar e o caixa automático do ônibus só aceita moedas... E cobra proporcionalmente pela distância percorrida! Segundo a indicação do motorista, descemos e ele nos disse que bastava andarmos 3 quadras até o Planetário (claro, idéia minha). 3 quadras = 3 quilômetros de bosques... Uma quadra era o zoológico, que nem me atraiu muito. Andamos sem parar e também procuramos pelo tal primeiro museu do Che Guevara, que ninguém sabia onde era... Bosques lindos, árvores, gente curtindo o parque, muito verde, vários monumentos. Especialmente o monumento que reúne os 4 cantos da Argentina: os Andes, os Pampas, o Rio a Prata e o Chaco, unificando o território. Cada região representada por uma imagem personificada e simbólica, contrastando com o branco do monumento central, cheio de anjos. Não sei onde tirei tanta paixão por fotografar esses monumentos e quinas de prédios contra o céu... Enfim, assim que o Planetário abriu (depois de incomodarmos os patos no lago), entramos na primeira projeção. Victor dormiu, Fred dormiu e roncou e eu dei uma leve “pescada” debaixo daquela abóboda estrelada... Quentinho, escurinho e mortos de cansaço de tanto andar, como podíamos resistir? Voltamos pra casa de taxi e à noite ainda iríamos na Ásia de Cuba, uma boate de Puerto Madero. Chegamos lá tarde e descobrimos que era uma festa fechada, fomos barrados no baile. Optamos imediatamente por uma volta no Cassino, que na verdade é em um navio, já que o jogo é proibido em território argentino. Vimos um coroa perder uns 20 mil na roleta americana, eu fiquei acompanhando cada jogada dele, sempre no número 8 e seus arredores... Impressionante! Fred jogou umas partidas de Black Jack (nosso velho 21) e não saiu no prejuízo e nem ganhou. Até quatro da manhã e nada do cassino sequer esvaziar!

Quinto Dia
Alforria! Como eu já sabia que os meninos não iam topar o passeio de barco pelo Tigre até San Isidro, eu agendei o passeio e eles aproveitaram o dia para fazer adivinhem o que? Mais compras! Eu acordei e fui sozinha encarar a navegação pelo Rio da Prata e seus afluentes. Tigre na verdade está na província de Buenos Aires, é uma comunidade que vive à beira dos rios, em casas tradicionais, cada uma com seu porto, onde o transporte comum é o barco. São madeireiros ou “veranistas”, com suas casas chiques num território muito tradicional e cheio de charme... Árvores coloridas de verde e marrom, escolas locais, posto e supermercado flutuantes. Aproveitei pra usar o meu poncho, me disfarçando de turista na Argentina... Desembarcamos e tomamos um trem para San Isidro, uma pequena cidade que fica no fim da avenida Libertador, aquela mesma que começa em Buenos Aires... Uma linda catedral e um jardim charmoso, além de pouco tempo pra procurar mais artesanatos... Mas ainda assim muito tempo para fotos e novos amigos brasileiros, em sua maioria casais. Almocei num restaurante em Puetro Madero (uma boa massa, pois não dava mais pra encarar o chorizo, haja intestino!) e já estava preocupada com o desencontro com os meninos. Rodei atrás de um telefone público e nada! Andei muito! Voltei pro restaurante e consegui ligar pro hotel. Os meninos nem tinham chegado lá! Pois é... Mas eu não tinha pesos pro taxi... Daí veio a brilhante idéia de pagar no cartão de crédito e arrumar uns pesos pra pelo menos chegar no hotel. Deu certo, mas deu trabalho! Na andança passei pelo momento de Cristóvão Colombo e, claro, arrumei uma argentina pra bater uma foto. Posso estar no sufoco, mas a foto eu não renego! Subi na direção da Casa Rosada pra encontrar um taxi no rumo da Recoleta e quando cheguei na Plaza de Mayo, uma manifestação... Tudo cercado, cheio de policiais, viaturas e manifestantes. Onde eu havia me metido!!! E quando cheguei, os meninos nem estavam preocupados com o meu atraso porque também tinham se atrasado! Em minutos saímos de novo e fomos andar pelas ruas comerciais, claro, mais compras dos meninos. Quem era mesmo a mulher da viagem? Até visitamos a unidade da empresa em que trabalhamos que fica na Santa Fé. Encontrei uma itaunense (vamos dominar o mundo). Andamos muito, encontrei mais artesanatos, inclusive uns colares lindos que comprei pra minha mãe e tias, que não tinha visto em lugar algum de Buenos Aires. Conheci as Galerias Pacífico... Mas o que me envenena mesmo é artesanato, o resto eu até consigo controlar... Só que eu nem sequer tinha pesos mais!!! Ou seja, lá vem cartão de crédito!!! Enfim, esgotada, só me restava esperar o comércio fechar e aí fomos embora. Não tínhamos forças pra sair à noite, fizemos no máximo um lanche e capotamos... Exaustos!

Sexto Dia
Acordamos cedo, ainda doloridos da andança do dia anterior. Nos preparamos pra encarar o frio do Rio da Prata, tomamos coragem de conhecer o Uruguai num passeio não muito barato, porém uma oportunidade única. A embarcação da BuqueBus nos navegou por 3 horas pelo Rio da Prata, um verdadeiro mar de água doce. A estrutura da balsa “fechada” era impressionante, de um conforto incrível e até com um free shop lá dentro. Descobri uma sala de jogos e os meninos se divertiram no videogame. Desembarcamos no porto de Montevidéu com um tempo frio e céu nublado, porém firme. Encaramos o city tour, descemos na Praça da Independência e conhecemos Artigas, o San Martin do Uruguai. Conhecemos o prédio da Presidência da República, o Teatro Solís, o cartão postal de Montevidéu que hoje é um prédio privado. Claro, encontramos amigos nossos em plena praça uruguaia... Lindas bandeiras asteadas. O Uruguai tem cerca de 3,5 milhões de habitantes, que é praticamente a população de Buenos Aires sozinha! É um país muito tradicional, avesso ao fumo. Assistimos a troca da guarda e partimos pro almoço... Pedi um peixe assado, com um bom vinho, enquanto os meninos comiam mais uma vez carne! Ai, que saudade da comida japonesa, do feijão, do pão de sal murcho, da água mineral que mata a sede! Continuamos o passeio, passamos pelo congresso uruguaio, pelo monumento aos índios charruas e por um bairro charmoso e tradicional chamado “Prado”. Vimos as moradas dos embaixadores, pelo estádio “Centenário”, por monumentos de guerra e pela Plaza de La Armada. Dali tivemos mais uma vez noção da imensidão do Rio da Prata, um rio com praias que imitam a nossa Copacabana. Depois tivemos um tempo livre num shopping, onde Victor e eu pedimos uma panqueca italiana (entendemos que seria massa, queijo, tomate e orégano). Recebemos uma massa assada com sorvete e calda de chocolate. Enfim, mais uma pra aprender! Enquanto isso, Fred estava perdido nas vitrines e só nos encontramos no ônibus. Outras 3 horas para retornar a Buenos Aires (os meninos não me deixaram cochilar) e uma banda de músicos improvisou um som. Um momento realmente particular. Chegamos e nos aprontamos pra ir pra uma boate perto do Aeroparque (o aeroporto doméstico) – Pacha. A noitada dos argentinos começa muito tarde e mesmo chegando uma da manhã naquele frio imenso, a boate nem estava aberta ainda. Não aceitavam cartão de crédito, pra piorar, e graças a um bondoso casal de brasileiros, trocamos reais por pesos ali na fila mesmo, o suficiente pra entrarmos na boate. Não é bonita, mas a música eletrônica é das boas. Conhecemos mais duas mineiras, que também não ficaram até muito tarde. Enfim, por volta das 4:30 fomos embora, mais uma vez exaustos.

Sétimo e Último Dia
Acordamos cedo, razoavelmente. Descobrimos que o cartão de crédito não funcionava no hotel. Achamos que tinha sido bloqueado porque o usamos no Uruguai. Conseguimos falar com o banco no Brasil, só o meu cartão ainda sobreviveu. O problema era o limite de crédito dos meninos mesmo! Afinal, compraram meio mundo... E o pior é que a minha mala é que voltou com 10 quilos de excesso de bagagem... Nem imagino como... Risos... Passeamos pela 9 de Julho, espiamos o Teatro Colón, reinaugurado recentemente. Fotos com o Obelisco tradicional, mais umas voltas na Córdoba e Florida. Estávamos só esperando pra conhecer a Casa Rosada por dentro, toda reformada para o bicentenário da revolução de maio de 1810. Lindos retratos, fotos com a guarda do governo, Che, Tiradentes e Getúlio Vargas. Andamos pelos cômodos da Casa, conhecemos todas as salas e o lindo jardim escondido no prédio. Foi nosso último momento de imersão na cultura argentina. A propósito, a Casa Rosada é toda amarela por dentro. Voltamos bem em cima da hora pro hotel e já pegamos nossas malas para irmos ao aeroporto. No caminho, correria em free shops, risos no avião, roncos e situações cômicas com o excesso de bagagem. Enfim, brasileiros muambeiros em apuros... E aqui estou. Holla, que tal?