01/09/2010

Pólos e Tango em Cores

Quisera eu conseguir expressar em palavras aquilo que só a arte é capaz de tornar corpóreo, palpável e visível aos olhos do coração. Certas imagens são indivisíveis do próprio conceito, portanto, como seria possível representar em palavras aquilo que só se sente com os olhos e coração? Da ópera ao teatro, do balé ao cinema, dos meus rabiscos aos escritos que realmente merecem atenção, todo tipo de representação artística nos torna mais humanos e em alguns momentos quase sobrenaturais.



Quando se trata do corpo, esquecemos dos limites que superamos continuamente: no palco, nas tarefas diárias, nos padrões de estética impostos pela sociedade, nos campos de concentração, nos campos minados de guerras civis, nas fronteiras esquecidas de um país. A força que nasce em músculos, percorrendo mentes e alcançando o que um dia foi impossível, sobrepondo leis da física e criando movimentos passíveis de reconhecimento: é um ímã, não parece o pouso de um pássaro, não são grilos ensaiados, não seria tango?




O que a dança nos permite transcende o fato de ver o outro se movimentar num ritmo inteligível. Não é apenas reconhecer novos limites do próprio corpo e da compreensão autorizada por uma nova leitura do que somos. Não somos apenas fisicamente fortes e capazes – somos dotados do poder de criação de formas de expressão sem limites, porém compreendidas independente de religião, classe social, política, sexo, raça, profissão. O que a dança permite é reconhecer-se, sempre de uma forma completamente diferente de quem está na poltrona ao seu lado.


Reconheci cores, fotografias, ritmos, gente que transforma objetos inanimados em ação. Enquanto outros reconheceram balé clássico ou moderno, movimentos que simbolizam a relação humana, tules, melodias e diferentes tipos de tango. Eis a beleza da arte: o seu olhar é sempre um novo resultado, sempre uma experiência única, particular e indivisível. A arte é sempre só sua, só minha.

Quisera eu entender todo tipo de arte na profundidade que ela de fato me permite. A questão é que para muitas artes serei leiga eternamente, pois nem tudo atinge meu entendimento e nem tudo me remexe da mesma forma que acontece com outros milhões de pessoas. O que me sacode não é necessariamente o que sacode você, e vice-versa. O que vale é treinar-se à percepção, nos transformando em seres mais humanos, menos ímãs, mais próximos da inconstância de um tango.

Imagens dos Espetáculos "Ímã" e "Lecuona" do Grupo Corpo.

Obs: Ju Mayrink, obrigada!

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