09/08/2010

A Origem


Estou provavelmente no segundo nível dos meus sonhos. Provavelmente já ultrapassei a primeira camada e agora estou numa nova transposição, um sonho dentro de um sonho. Tudo ao meu redor é inesperado, com um toque de labirinto, mas com um Q de desafio. Não sei dizer com exatidão como fui capaz de percorrer estes caminhos, como se a seqüência dos fatos me parecesse impossível se fosse planejada. Cada milímetro que percorro hoje é completamente diferente do que rondava minhas pretensões.

Não acredito que eu esteja conectada em alguma máquina num outro mundo, compartilhando de um sedativo que me mantém presa em uma realidade criada pelo meu subconsciente. Mas tamanha engenhosidade do destino não poderia ser somente pensada por um ser naturalmente humano? E não seria mais óbvio este ser humano ser eu mesma, a própria arquiteta da minha realidade? Mas quem disse que eu iria desenhar o mundo assim, do jeito que é?

Quando assisti “A Origem”, não busquei o galã de Titanic, nem a adolescente grávida de Juno, mas vi a lei da gravidade se distorcer. Não esperei muito, muito menos um filme monótono, simplório e previsível. Mas daí a sair de lá com a mesma sensação de “Matrix”, é bem diferente! Nunca imaginei que essa idéia se repetiria novamente dentro da minha cabeça, cheia de neblinas e trovões. O eterno questionamento sobre vivermos numa realidade ilusória, que beira à nossa compreensão de fé e da existência de um possível paraíso do lado de lá, onde talvez tudo seja feito de um suposto composto real.

Quisera eu entender 0,1% da mente humana, talvez para simplesmente encontrar a razão nos fatos. Quisera eu ter certeza de que eu sou dona do meu destino, mesmo quando tudo parece conspirar rumo a um futuro que eu não esperancei. Porém, continuamente, passo a passo, tenho certeza de que por mais que eu me esforce, por mais que eu defina a minha existência em uma vida previsível, nada está em minhas mãos, como se eu fizesse parte daquele velho tabuleiro da vida, que talvez Lya Luft tenha descrito com maior delicadeza em “As Parceiras”. Somos peões, meros peões, assim me sinto hoje.

E o que fazer para retomar as rédeas da vida que se origina em nossos íntimos sonhos, elaborados religiosamente a cada noite mal adormecida? Como recobrar os sentidos entorpecidos por uma realidade que nos empurra, sem nos dar tempo para refletir se estamos no caminho certo ou no caminho que um dia projetamos como nosso futuro encantado? Não tenho solução, não espere por uma resposta milagrosa. “Eu sempre quis compreender: porque não entendo, escrevo. Como jamais entenderei, até o fim da vida tentarei expressar em palavras, linhas e entrelinhas, essa inquietação”. Lya Luft, “Em Outras Palavras”.

2 comentários:

  1. A "unica" coisa que agente tem controle são nas escolhas. A escolha é sua. Sobre isso você (certo) poder. Agora quanto ao resto que influencia no rumo que a vida toma, realmente nao temos controle e aprender a aceitar isso é complicado... pelo menos pra mim.

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  2. Todo dia várias coisas têm me apontado pras idéias do filme. Parece até destino!

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