03/04/2012

Do que se fala

Quando sua cabeça não responde mais naquela velocidade habitual, você se pergunta se precisa mesmo estar sempre a mil por hora ou se estava apenas habituada a conseguir fazer mais do que a média dos seres comuns. Não é uma questão de se supervalorizar, de se achar mais produtivo do que a média. Fato é que talvez me sentir assim, nessa nuvem invisível, nesse ritmo de gelatina, me deixa meio sem norte. Não estou acostumada a deixar que tudo ande mais devagar, ou que tudo ande num ritmo saudável. Depende do que você considera saudável.

Talvez meu organismo de um modo geral entendesse que eu precisava de um freio... E que as enxaquecas nada mais fossem do que um sinal de que era hora de parar, de vez. Apesar de minha cabeça dizer, querer e sempre pensar ao contrário: posso mais, quero mais, dá pra fazer mais. Mesmo que o corpo não suportasse o mesmo ritmo. Maldita cabeça que corre mais que o tempo, mais que o sangue, mais que a própria alma.

Fato é que deixei de ser um pouco eu. E olha que muitos ainda se espantam com meus surtos de eletricidade... Ah, se me conhecessem nos meus verdadeiros momentos elétricos quase constantes... Agora tenho poucos flashes, que preciso esgotar enquanto duram antes que se evaporem. Antes eu era movida por estas ondas magnéticas malucas, sempre ligada naquela tomada, e talvez por isso o organismo tenha dito: pare, porque não adianta correr. Mas a questão é que correr me deixa feliz, me motiva, me satisfaz. E ficar assim, morninha, mosquinha morta, paradinha, me transforma em mais uma: uma qualquer.

Difícil aceitar essa onda de mesmice. Difícil também reconhecer que não sou modesta assim, tão descaradamente. Não estou acostumada com esse ritmo ditado pela vida. Sempre ditei a música que tocou... E agora me resta dançar o que estiver tocando... O problema é que a sensação que eu tenho é que se tocar um rock, não vou estar pronta. Vou estar tão acostumada com a música lenta que vou esquecer como é que se dança... E vou me acostumar a ficar assim, sem sal, sem graça, palerma, desconectada.

Não sou eu, resumindo. Tem um prazo pra tudo isso acabar, teoricamente. Mas será que quando o remédio for embora, vou mesmo voltar ao meu normal ou vou ter me habituado a ser assim? Vou ter remodelado minhas conexões neurais, desentopindo as glias cheias de cálcio e agora entopindo dessa preguicite aguda que me deixa enjoada de mim mesma? Quem sou eu sem o meu acúmulo de cálcio distorcendo meu jeito de ser? Será que tudo vai mudar tanto ou que pelo menos vou recuperar minha energia?

Eu me preocupo, claro. Pois não se trata apenas da energia para trabalhar, para cair na farra, pra agir, pra querer algo. Trata-se da energia pra ser eu mesma, pra me irritar, pra me motivar, pra me tirar na inércia, pra me fazer reagir às rupturas que sempre mudam meu rumo. É a minha energia que me assegura meu poder de sobreviver, de reagir, de tomar uma atitude. A questão em jogo é o meu instinto. A questão é a minha espécie.

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