11/10/2012

#PADI: Sofri, mas consegui!

Há 10 anos eu me aventuro pelas águas salgadas, cumprindo uma promessa feita para o meu diploma. Se eu não podia ser oceanógrafa, que me realizasse de outra forma, que buscasse minha felicidade em outros caminhos sem perder a ligação com aquele velho sonho. Já se vão 10 anos sempre revisitando o velho amigo, "Omar". Em 2002, meu primeiro mergulho, eu achava que respirar menos debaixo d´água era vantagem. Economizava ar sem saber o risco que corria, só pra ficar mais tempo na água. Mas meu padrinho de mergulho me disse que eu tinha me virado bem, e eu acreditei. De lá pra cá, eu tinha certeza absoluta que já tinha vencido os primeiros obstáculos na água, que o mar nem era tão mau humorado assim. E o histórico de mergulhos se deu na seguinte sequência: 

- 2002 - Morro de São Paulo - Bahia: peixe morcego, aranha do mar, a minha primeira vez.
- 2004 - Maragogi - Alagoas: sargentos, donzelas, peixes esverdeados, a água mais clara de todas e a noite sem dormir de tanta ansiedade (tive até asma).
- 2005 - Fernando de Noronha - Pernambuco: frades, mergulho em caverna, o sobrevôo no naufrágio, os cardumes no mergulho de reboque, o canto dos golfinhos na água, os ouriços brancos, a moréia de chifre.
- 2006 - Itacaré - Bahia: snorkel em Maraú, valendo a citação porque fiquei presa no coral...
- 2007 - Guarapari - Espírito Santo: a linda arraia-manta, muitos peixes diferentes.
- 2008 - Cancun - México: o tanque com os golfinhos e o snorkel em Xel-Ha com vários tipos de peixes.
- 2009 - Abrolhos - Bahia: as baleias jubarte e um mergulho frustrante, que foi facilmente superado pelo snorkel em volta da ilha com direito a perseguir uma tartaruga e ganhar uma cicatriz no punho.
- 2010 - Arraial D´Ajuda - Bahia: um mergulho com visibilidade ruim, um segundo mergulho excelente com lindas fotos e peixes coloridos (o frade cinza e amarelo, peixe porquinho, cirurgiões, budiões) e um snorkel surpreendente, com direito a um caramujo com uma estampa que merecia ser usada num vestido de verão.
- 2011 - Ilha de Páscoa - Chile: conheci Henry Garcia, da equipe de Cousteau, mas não pude mergulhar no ponto do moai naufragado porque não tinha certificação...
- 2011 - Arraial do Cabo - Rio de Janeiro: nas águas cariocas geladas, finalmente consegui ver cavalos-marinhos em seu ambiente natural - uma marrom e um branco, lindos, super pequenos...
- 2012 - Oranjestad - Aruba: o ponto de mergulho de Pos Chiquito levou o meu cavalo marinho que mergulhou por quase todos os pontos acima, mas finalmente consegui a minha certificação Open Dive Water. E é sobre esse episódio que se trata este post... 

Dia 1: O plano inicial era apenas mergulhar uma vez, conhecer o mar de Aruba "do lado debaixo" e marcar mais um ponto na ficha. Busquei informação numa cabana na praia de Palm Beach e me recomendaram a Sea Aruba, que já marcou meu mergulho pra sexta. Na data marcada, a ajudante me buscou, bastante simpática, nativa de Aruba e, como a maioria, falava desde holandês, até espanhol, inglês, papiamento e entendi o meu enrolation em português. Avisou que eu iria mergulhar com um polonês, que todos os instrutores só falavam inglês e assim fui, mais uma vez, com essa cara de pau que Deus me deu. Ele falava um inglês bem fácil de entender, era simpático e tudo correu muito bem, apesar do meu desespero nos exercícios com a máscara já na praia... Afinal, eu tinha que cumprir pelo menos 3 "skills" obrigatórios naquele mergulho... No tira e põe da máscara é que provavelmente fiquei sem meu brinco, no mar mesmo... Mas enfim... Sem o compromisso de ser avaliada, consegui executar os procedimentos e entramos pra água... Fora a minha respiração, que já ferrava com minha flutuabilidade, dentro d´água eu até me viro bem. E daí que achamos uma tartaruga, bem na dela, parada na areia. Cutuquei o polonês, que nem tinha visto a bendita, bati umas fotos até me aproximar bem, passei a câmera pra ele e não perdi a chance. Agarrei a tartaruga e saí nadando com ela, alguns bons segundos... Mansa, tranquila, completamente despreocupada. Vi moréias, bem de perto, um barquinho naufragado que rendeu fotos bem legais, mas nada se compara ao momento com aquela tartaruga, totalmente em paz e sem medo. Parada de 3 minutos em 5 metros por segurança e tudo deu certo, exceto pelo brinco, que só dei falta quando cheguei no hotel... Satisfeita com essa história toda, por ter conseguido me comunicar bem com o polonês gente boa e por não ter feito nenhuma burrada enorme, perguntei: afinal, quanto custa o curso aqui? E quantos dias eu precisaria? Respostas bem mais positivas e animadoras do que eu esperava, saí de lá com aulas agendadas e mais 3 dias da viagem totalmente comprometidos para a certificação. Já era hora. 

Dia 2: Tédio, puro tédio. Vídeos em inglês. Horas a fio numa sala, ou muito quente ou com ar condicionado (odeio!), ouvindo um DVD com termos técnicos que eu tinha que fixar bem os olhos pra adivinhar de qual parte da roupa de mergulho estavam falando, ou de qual lei da física estavam explicando... Tenso! Imersão total no inglês técnico de mergulho, que nunca usei e que graças às imagens do vídeo consegui digerir uns 75%... Entretanto, era informação para se absorver em semanas e eu estava consumindo tudo aquilo em um só dia... Em outra língua... Sem intervalos longos, sem almoço, sem nem sequer colocar o pé no mar azul maravilhoso lá fora. Um dia em Aruba foi totalmente perdido dentro de uma sala de aula. E pra cada um dos 5 módulos de aula, uma série de questões de um livro (em inglês, claro) com 200 e tantas páginas e mais um teste final em cada parte, incluindo questões discursivas. Pensem numa pessoa esgotada? No final da tarde, eu só pensava em desligar a cabeça, que tinha se esforçado em dobro naquele dia. Corri pro Mc Donalds no dia. Tinha que afogar meu cansaço em algo pelo menos mais próximo da minha realidade... Descobri que todo sanduíche lá tem picles. rssss Aff! 

Dia 3: Ela, a professora, holandesa. Nada do polonês bonzinho. Inglês com sotaque puxado pro britânico e já me dando atividades que exigem coordenação motora. Quem me conhece, sabe bem... Se tem uma coisa que não sou boa, é lidar com coisas manuais... rsss Enfim, começou me dando uma sequência de ordens em verbos e conjunções em inglês que eu não entendia, e eu tentava arrancar dela as ações pra que eu pudesse ao menos repetir e assim conseguir me virar. Não foi fácil e foi assim o dia todo. Saudade da aula teórica... Na água, vários exercícios em que ela fazia e eu devia repetir. A questão é que ela me explicava tudo fora d´água e meu receio era: se eu não tiver entendido direito, lá embaixo já era. Eis o problema de se fazer um curso desses em inglês... Onde eu estava com a cabeça? Mas a questão era: onde estava o polonês bonzinho e paciente? rsss Ela era rigorosa, exigente e bem menos paciente, fato. Os holandeses são assim? Tomei muita água lá embaixo, fazendo exercício de limpar a máscara com água dentro, de tirar a máscara debaixo d´água e colocar de volta, limpando até a água toda sair... A garganta já estava queimada de tanto sal, de tanto trocar de regulador, de tanto inflar a jaqueta com a boca, etc. Os exercícios de flutuabilidade nem eram os mais vexamosos, pior era conseguir ficar na vertical sem parecer um balão dentro d´água (e olha que eu tinha mais lastro com vários pesos do que o normal). Ana, you are a balloon! Que ódio! Chamar uma mulher de balão não é justo! rssss E ela me torturou até o último segundo. Depois da aula prática, morta de fome, hora de corrigir os exercícios teóricos. Fiz de 80 a 100% nos testes fechados e os demais nós discutimos. Aí ela descobriu que eu não sabia nada da tabela de cálculo de espaço de tempo entre mergulhos, resíduo de nitrogênio, etc. Claro, isso não estava nos vídeos! Ora, mas tinha um livro na pastinha... É, eu não li. Estava esperando alguém me explicar. Só que aí a paciência dela já era -1. Eu me senti a topeira do século, porque ela definitivamente não conseguia me explicar... Resultado: falei que eu ia estudar em casa e que na prova final eu iria conseguir. Quando pedi pra me deixar em Eagle Beach perto das Divi Divis, ao invés de me deixar no hotel, ela conseguiu me deixar no ponto errado da praia, e tive que tomar um ônibus pro ponto certo. Sacana é apelido. Mas tudo bem, eu não ia desistir. 

Dia 4: Programação do dia: saída de barco (risco de enjoar), dois mergulhos práticos de avaliação (não sabia quais seriam os exercícios, mas o lance de tirar a máscara é sempre obrigatório) e prova teórica depois. Pra começar, atrasaram pra me buscar no hotel. Quando cheguei no barco, estavam todos me olhando como se eu fosse a "palerma" do ano. Que beleza! Eu era a única sem certificação, só tinha tiozão ninja, megaequipado... Um divemaster iria descer também comigo e minha avaliadora holandesa mau humorada (que às vezes fazia uma piadinha pra tentar amenizar minha cara de velório) para ajudar no procedimento. Ele seria meu companheiro de mergulho, uma regra da certificação - jamais mergulhar sozinho e sempre "olhar pelo outro". O primeiro mergulho sempre é o mais profundo e claro, nada de levar máquina fotográfica... Nem a bruaca podia levar pra me fotografar? Não, segundo ela, tinha que nos observar, e não pode fazer isso em processo de certificação. Ah, mas o polonês faria! Ela avisou quais seriam os exercícios de avaliação: máscara, flutuabilidade, inflar a jaqueta com a boca, trocar o regulador pelo alternativo com o companheiro e fazer o procedimento de ficar com o tanque sem ar, fechado. Pânico total, isso a 18 ou 20 metros. Pra começar o divemaster já caiu na água vomitando... E eu lá, de boa... Tensa!!!! Tomei água na máscara, esqueci de apertar o BCD  pra inflar a jaqueta, mas até que tudo saiu do jeito que tinha que ser... Mas minha respiração, ah, ela é uma merda! Como eu preciso das minhas aulas de yoga!!! Exhaile, Ana, exhaile!!!! 4 segundos inspirando e uns 10 expirando, se possível, para não parecer um balão dentro d´água e descer, sem problemas! Demorou, mas entendi... Mas quando batia o cansaço, eu só queria respirar normal, e dava mesmo era vontade de subir pra superfície... Aí a máscara começou a embaçar e quando percebi, eu mesma já estava deixando a água entrar na máscara pra dar uma limpada na visão, logo eu, que odiava limpar a máscara!!! Quando notei, estava ao lado de um maravilhoso naufrágio de um navio, enorme, cheio de corais e muita vida, mas que nem curti tanto porque estava mesmo era exausta e prestando atenção na avaliadora pra saber o que tínhamos que fazer em seguida. A verdade é que estive lá só pra ser avaliada, mas meu coração ficou em casa! E o pior: não tenho fotos pra dar uma mãozinha na memória de uma pessoa em momento de estresse... Subimos (nem vou comentar a luta pra subir no barco), um tempo no barco e segundo mergulho... O polonês perguntou por que eu não estava rindo... E eu disse o nome da avaliadora, indicando que ela era a causa do problema... Ele disse que me entendia. O segundo mergulho foi literalmente pra cumprir tabela. Foi num ponto onde eu já tinha feito snorkel no dia anterior, era mais raso e não tinha aquele navio lindo. Novamente o exercício da máscara e dessa vez eu nem sofri tanto. Fui muito bem no exercício da navegação pelo aparelho (relógio de pulso com pólo magnético e a "Lummer Line" para ir e voltar no mesmo sentido mesmo sem visibilidade), acertando milagrosamente de primeira - logo eu, que sou a mais sem rumo, como todo mundo sabe - afinal, nem carteira de motorista tenho... Fiz um exercício patético de flutuabilidade na posição de Buda - não ficava reta nem a porrete... Era cômico... E acho que a venci pelo cansaço... E depois ficamos nadando em vão... E foi quando bateu o cansaço mesmo... Bem no finalzinho, quase chutei o balde... Estava sem ar, sem paciência, perdendo a flutuabilidade, nervosa, e não tinha como gritar. Essa é a única desvantagem do mar: você não pode gritar, ninguém pode te ouvir. E naquele instante a única coisa que consegui fazer foi rezar um "Pai Nosso", desesperadamente. Até que eu conseguisse recobrar a consciência do esforço que já tinha feito até ali... Consegui finalmente recuperar o ritmo da respiração, aos trancos e barrancos, e fizemos mais um exercício de nado com uso do regulador de emergência do companheiro de mergulho, até o ponto de parada de segurança, onde milagrosamente conseguimos ficar parados com a flutuabilidade certa... De volta pro barco, morta, quase não consegui subir no barco. Estava exausta. Não tinha forças e definitivamente cheguei à conclusão de que não tenho mesmo musculatura alguma pra essa parte pesada do serviço. Se ouvi parabéns, claro que não, só o divemaster puxou papo comigo, falou que meu inglês era bom, eu nem queria mesmo conversar... Ainda faltava a prova teórica com 50 questões... incluindo aquelas malditas questões sobre a tabela... E lá fui eu... A avaliadora me entregou um tipo de apostila e mandou eu fazer o Exame A. Não vi que tinha diferença entre Exame A e Exame Final A, mas em inglês tinha... rsss... Resultado: fiz umas 10 questões a mais e óbvio, rasurei o gabarito. A avaliadora logo disse: se quer passar, tem que fazer pelo menos a prova certa. Nada sutil, nada gente boa. Mas ao menos se despediu e foi embora, me deixando em paz pra fazer a prova sozinha. Demorei, fiz a prova toda, aprontei a maior confusão nas questões da tabela quando vi que estava em metros e não em pés. Eu tinha aprendido a tabela imperial, em pés, e de repente a prova era em metros? Saí convertendo tudo, desesperada, e nenhuma resposta batia... Chamei o meu amigo Jack, o senhor que ajudava na operadora, e pedi ajuda... Ele descobriu que mais a frente estavam as questões em pés e daí que lá fui eu recalcular tudo de novo... Bom, pelo menos eu descobri que sabia mesmo fazer as contas e usar a tabela... Só não sei é converter metros em pés, pelo visto. Fim da prova, chamei o outro professor pra corrigir, tudo na lata, na hora... Detalhe: marido dela. E ele foi corrigindo... E de repente começou a marcar um monte de erros. Eu falei: opa, não está olhando o gabarito errado? Ele voltou e conferiu, e estava mesmo... Saiu corrigindo tudo de novo e fiz 86% da prova. Ufa! Acabou o sofrimento assim, com novela até o fim! 

Esse post é um recado pra quem ainda não tomou coragem de se certificar... Eu resolvi fazer tudo do jeito mais difícil, mas não precisa ser assim pra todo mundo: ninguém precisa fazer os exercícios logo de cara na correnteza do mar, nem aturar uma Diana da vida, nem ficar frustrado por não poder fotografar um mergulho bonito... Ninguém precisa ficar angustiado por não ter certeza se entendeu o procedimento direito por estar fazendo o curso numa outra língua! As operadoras de mergulho espalhadas pelo Brasil já têm o material traduzido há anos e ninguém precisa ficar sofrendo 3 dias pra entender uma loira mau humorada pra conseguir o mesmo que eu consegui. Eu só paguei o meu pecado por demorar tanto a me certificar naquilo que eu já devia estar escolada faz tempo. Mergulhar com segurança, conhecendo mais sobre os procedimentos e entendendo como tudo funciona, além de melhorar a respiração, ajuda bastante! A minha lição principal foi: respiração, Ana, respiração! 

Obs: Talvez eu precise de uma nova aula pra saber os nomes reais das coisas, porque decorei em inglês mas não arrumei ainda um tradutor pra tudo... rsss Qualquer erro no inglês nas poucas palavras escritas acima, favor desconsiderar, já tá ótimo! :)




Cara de feliz no primeiro dia... Nos outros dias, "no photos, Ana"! 

Um comentário:

  1. Agradecimento especial ao padrinho de mergulho, Mário Mercadante... E aos companheiros de mergulho: Leo Ranna, João Tozzato, Pawel (polonês), Felinto Neto, Ivam Merino, Carol Tolomelli, Henry Garcia, Wilton Lage, outros que já esqueci o nome, infelizmente...

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