10/06/2010

Desapego e castelos de areia

Comecei a escrever em 28/05...

Hoje parei pra pensar em todos os momentos da minha vida em que senti ódio, daquele que corrói e dói no peito. Mas, felizmente, não foram as situações mais comuns em minha vida - muito pelo contrário. Meus ódios foram infinitamente menores do que minhas glórias. Entretanto, nem por isso foram sutis e carregaram uma intensidade momentaneamente insuportável. Já odiei gente, já me odiei, já odiei pelo outro, já odiei sem e com razão. Odiei com todas as forças, sentindo uma dor por dentro que talvez se compare a uma demolição. Como se a alma se espremesse numa nuvem negra, como se o coração estivesse sufocado numa lata, como se os pulmões só captassem CO2, um sufoco. Senti com toda a minha vontade, desejei todo o mal cabível, mas um dia consegui voltar a dormir.

Descobri que dormir é com uma limpeza de disco. Aos poucos você elimina tudo que não presta e que não te ajuda. Exclui cada memória desnecessária, mantendo somente aquilo que te faz crescer. Afinal, dados desfragmentados não merecem nenhum dos bytes. Aí a gente descobre que a dor do ódio some, se dissolve no tempo. E por mais que nos lembremos racionalmente do momento de ódio, nosso coração tem a maravilhosa capacidade de esquecer esta dor.


Continuei a escrever em 10/06...

Distanciar-se do passado é uma constante busca do desapego. Sei que o passado também pode ser bom, mas ainda assim é passado. Hoje eu disse que "só amo o presente" e de fato é assim que me sinto. Prefiro esperar somente pelas 24 horas de hoje, até que eu me recolha em meus sonhos que se apagam. Não quero castelos, quero apenas planos que podem mudar, se eu quiser. Sei que pareço ter mudado de assunto, fugido da linha principal do meu pensamento, mas no fundo, tudo acaba no mesmo rumo: amor e ódio podem se pulverizar na mesma rapidez, mesmo que possuam a mesma intensidade.

Aquele mesmo ódio que senti hoje é quase pena, quase culpa, quase perdão. Em alguns momentos já é chacota, aprendizado e até lição. Aquele ódio um dia será compaixão, quando eu alcançar o estágio máximo da evolução. Evolução rumo a esse desapego, que mencionei palavras atrás, pois só assim nos libertamos das más lembranças. As boas lembranças, por mais que ainda permaneçam, também não podem nos prender para sempre e muito menos nos impedir de buscarmos lembranças ainda melhores. Se hoje sou feliz, que ótimo, mas espero ser ainda mais amanhã. Se isso acontecer, estou no lucro além das 24 horas previstas.

E se fui triste ontem, se fiquei furiosa há alguns meses, se chorei dias por algo que não valia a pena, hoje estou em paz, imune às antigas fotos, sem sentir saudade, sem me indignar com aquele sentimento que o destino me trouxe. Hoje estou de novo "comigo", sem precisar de algo que me complete constantemente, satisfeita com quem eu mesma sou. Não é ser egocêntrica, nem egoísta - é simplesmente saber que eu me "basto". Isso me permite gostar ainda mais das pessoas, sem cobrar que elas estejam ao meu lado sempre, sem me iludir com o que elas podem me dar em troca, sem criar castelos onde talvez eu só descubra areia.

"Hoje" só quero acordar amanhã e planejar aquilo que só depende de mim. Se alguém quiser fazer parte, estará convidado, será muito bem recebido. Planejo conquistar o mundo, planejo pensar várias maluquices impensadas, planejo sentir e ignorar vários tipos de sentimento, planejo me apegar somente a quem eu sou agora. Talvez eu continue sendo só areia e que também não me transforme em castelo todos os dias. Mas areia vai e vem, com as ondas, sem rumo, sem tédio. Quem é que disse que não sou mesmo um grãozinho desgarrado? Serei apenas o castelo que couber aos meus contos.

Um comentário:

  1. Como é bom ver, sentir, uma pessoa querida dando um "olé" em sentimentos ruins e nas coisas chatas da vida!É de se ficar feliz junto! Escrevi essa frase no blog assim que começou a escrevê-lo( e eu a dar pitacos rsss) mas acho que novamente se encaixa perfeitamente aqui: "Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas." Cazuza

    Bjus :)

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