24/06/2010

Vida Doida

Não, não é estrofe do Rick Martin. É uma constatação. Os fatos se encadeiam de uma forma que foge à minha compreensão. Só consigo explicar através de dois conceitos: destino e fé. Que fique bem claro, por sinal, que normalmente eles não acontecem juntos, mas ambos movem nossos rumos, mesmo que esse domínio escape à nossa percepção.

Há quase 4 anos eu estava fazendo pós-graduação e conhecendo pessoas com quem convivi de novo 2 dias dessa semana. Nesta pós-graduação, fizemos um projeto de curta-metragem e meu amigo hoje tem uma vida dupla, dividindo-se entre analista de sistemas e cineasta. Há 1 mês eu o ajudei fazendo o making of de um clipe. Naquela época eu havia perdido cabelo, hoje estou loira e pensando em lipoaspiração. Há 1 ano e 1 mês eu ainda estava casada, apesar dos meus poucos 26 anos naquela época. Há 3 meses fiz outro curso rápido e já reencontrei meus colegas em 3 situações completamente diferentes. Quantas oportunidades eu provoquei e quantas vieram até mim? Se você ainda pensa que conhece alguém que não conhece outra pessoa que conhece você, acredite, o mundo é um ovo.

Enquanto estou aqui, sentindo frio, em Cuiabá parece verão. Meu irmão está na África, em algum lugar movimentado pela Copa do Mundo. Há 3 semanas eu estava na Argentina e no mesmo dia estive em Buenos Aires e Montevidéu – 2 países separados por um rio que mais parece mar. Enquanto ouço as novidades de Itaúna, minha amiga me chama lá de Andorra, contando sobre as novidades de Barcelona, ali pertinho. E outra ainda me envia um e-mail de Portugal, falando um português paraguaio e deixando a gente com saudade. Fora aqueles que já se foram e já voltaram. Se você ainda pensa que o mundo é grande, acredite, é um ovo de codorna.

Há mais de 12 anos eu fiz um exame de paternidade, cumprindo regras judiciais para comprovar o que todo mundo já sabia, inclusive o dono dos outros 50% de minha pessoa. Ah, mas que fique claro: o DNA mitocondrial é materno. Sou mais minha mãe, inclusive biologicamente. E sim, eu não sou uma hipocondríaca comum: sou uma daquelas que tem até o DNA mapeado. Há mais de 10 anos eu descobri sobre o lúpus, que hoje a maldita Lady Gaga dramatiza (afinal, essa paranóica simplesmente sabe que tem o gene, o que não necessariamente significa que ele um dia sequer será ativado). Se você me perguntar quantos exames, remédios, vacinas e agulhadas tomei nesse período, não terei a menor condição de responder. Só sei que isso não vale pro imposto de renda. E alguém que você conhece é um contador, assim como eu. Se você ainda acha que o mundo muda pra todo mundo, acredite, o mundo é um ovo cru para todos.

Hoje é aniversário do meu pai (biológico, confesso). Eu me lembrei disso ontem e quando minha irmã me ligou hoje, já sabia qual era o propósito dela. Conheço bem esta tática, pois ela fez o mesmo no ano passado no meu aniversário. Enfim, dei parabéns para o meu pai, coisa que nunca havia feito em 27 anos. Aos 16, afinal, ele era apenas alvo do meu rancor. E se eu aprendi algo neste último ano que se passou, foi que tudo passa, que as raivas até se substituem. Jamais me imaginaria dando parabéns e ainda brincando como se tudo fosse mais normal do que realmente é. Culpa da minha irmã, que encontrei pela internet há 16 meses, através do Orkut e por uma prima em comum. Nunca nem havíamos nos falado. E através de um “fake” eu mudei o rumo de uma história, rompendo velhos rancores e vergonhas. Aqui estamos: eu em BH, minha irmã caçula em Lagoa da Prata, meu irmão em algum lugar na África do Sul e minha irmã rabugenta em algum canto em Arcos (ela não sabe o que está perdendo). O mundo, é isso mesmo, é um ovo de peixe, desses que explodem o tempo todo nos meus aquários do Facebook.

No domingo, depois da pancadaria com a Costa do Marfim, fomos a um restaurante japonês que fica no Brasil. Na fila do caixa, encontramos um paquera dos nossos 20 e poucos anos, uma figura pitoresca que sempre fez parte de nossas chacotas, afinal seu apelido de “Minhoca” era pouco diante do fato de que das 4 amigas inseparáveis, 3 já haviam beijado o bendito. E como ele estava feio! E como nós melhoramos! Durante a semana, 1 ex foi detectado no aeroporto, 1 outro ligou pedindo um lugar pra dormir, 1 outro rolo em potencial ofertou um presente do sex-shop em homenagem ao divórcio. Há 7 meses assinei os papéis da separação e ganhei uma etiqueta na minha identidade, que informa o livro e número da página em que o ato foi lavrado. Agora tenho 27 anos, já viajei 2 vezes em menos de 1 ano, voltei pro meu antigo emprego e estou na parcela 5 do meu imóvel próprio. Já tenho 2 viagens programadas. Você já está cansado de saber: o mundo é ridiculamente pouco pra mim.

E agora você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com destino e fé? Ora, você ainda tem coragem de perguntar? Basta conectar cada fato e número acima e se perguntar: até que ponto foi o meu destino que me guiou ou até que ponto foi a fé que me resgatou? Se o mundo é pequeno, o destino acaba dando voltas e a fé não te deixa desistir de seguir adiante. Acredite, a casca do ovo é fina pra você.

2 comentários:

  1. Pra variar.............muito bacana o texto viu Ana???
    Muita paz no coração!!!
    Grande abraço,
    Charles Galvani
    (o da banda do making of) rssss

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  2. Só um recado pra "Com Cara de Nova". Não adianta sabotar!

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