10/05/2011

A Polêmica

Sempre adorei crianças. Tive uma infância quase impecável. Apesar da bronquite, do reumatismo, do bullying, da grana curta e de algumas coisinhas que me deixavam chateada por curtos espaços de tempo, fui extremamente feliz quando criança. Adoro a doçura dos 2 anos, a curiosidade dos 4, a petulância dos 6, a mania de grandeza dos 8, a inteligência dos 10.



Citando Thiago Perin: “Ter filhos traz infelicidade. Um estudo da Universidade de Milão analisou casais de 94 países e constatou: as pessoas ficam mais infelizes quando têm filhos. Os pesquisadores atribuíram esse efeito às despesas geradas pelas crianças, que levam ao empobrecimento e à queda na felicidade dos pais. Segundo o estudo, ter filhos só traz felicidade a pessoas ricas ou viúvas.” (Revista Superinteressante)



Mas quem é que disse que todo mundo nasce pra ser mãe? Quem é que disse que todo mundo nasce pra ser pai? Convenhamos: crescei-vos e multiplicai-vos é uma ilusão em massa. O mundo de hoje não exige tamanha taxa de procriação, o mundo de hoje não é um campo pacífico pra se travar a guerra de ter um filho. Nem todo mundo é soldado. Nem todo mundo nasce com o instinto de perpetuar a espécie.



Vi muitas críticas ao tema proposto pela revista nestes últimos dias. Não se trata de discutir a fé, a religiosidade, a beleza da maternidade/paternidade. É lindo, é generoso, mas não é um sentimento pra todo mundo. Não é uma experiência almejada por todo mundo. Eis a vantagem do mundo moderno: você pode escolher. Desde que não exista preconceito em nenhuma das opções. É como uma opção profissional, sexual, religiosa, política, etc.



Será que essa infelicidade, “calculada” neste estudo, é mesmo tão absurda? Talvez ter um filho que te ame e que não te decepcione seja a mesma loteria que se casar e ter um casamento “para sempre”. Quem é que disse que a combinação de genes vai ser sempre a melhor possível, que seu filho vai ser de fato um super herói? Eu, pelo menos, sei que não sou uma filha perfeita. Será que eu gostaria de ter uma filha como eu? Tenho minhas dúvidas.



Além disso, não adianta negar: ser mãe/pai significa abdicar de muitos sonhos e planos. Você se torna eternamente responsável “por quem cativas”. É um laço perpétuo, sem volta, sem reclamação, sem possibilidade de troca do produto recebido. É um risco, como tantos outros que corremos na vida. Mas trocar de marido, trocar de profissão, mudar de vida, tudo isso é possível. Trocar de filho, trocar de pais – não. E se toda a conjectura astrológica te fizer parar na família errada ou com os filhos mais incoerentes possíveis? Dá pra devolver?!



Sou egoísta demais, não é, Clarice? “Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais fortes, dos cafés mais amargos, dos pensamentos mais complexos e dos sentimentos mais intensos. Tenho um apetite feroz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí?... Eu adoro voar!” (Clarice Lispector) E não dá pra voar se eu achar que uma outra pessoa é um peso, e não um parceiro.



Não adianta negar. Sou ainda muito egoísta pra arriscar tudo por quem nem sequer conheço. Por alguém que talvez herde os meus piores defeitos e mais outros dos demais 50% da carga genética. Não dá pra escolher na internet, não dá pra saber como vai ser. Assumo minha covardia, meu receio. Quem disse que eu seria mesmo uma boa mãe? Quem disse que tenho que ter os mesmos sonhos que outras tantas mulheres que nasceram com esse instinto? Quem disse que meu destino não está em terminar a linhagem da minha família, já que sou um funil (neta única, filha única, sobrinha única)? Por que cabe a mim manter um sangue nem tão bom (lúpico, hipocondríaco e virginiano) rodando por aí? Será que não sou uma agente da seleção natural, Darwin? Lamark não me convenceria.

2 comentários:

  1. Adorei! Realista!Verdadeiro! Eu tive um sério problema, porque as pessoas vendem a maternidade, a gravidez de uma maneira que comigo não foi. Não virei a Madre Tereza depois do João, apesar de ter ficado mais de um ano tentando engravidar, quando engravidei eu não ficava conversando com a barriga, nem tirando foto pelada com a barriga.. Mas nunca fui muito mulherzinha não é? Engordei muito, "peidava e arrotava", virei um monstro.. João nasceu. Amo ele acima de qualquer coisa nesse mundo, seu sorriso enche meu coração de alegria. Mas falar que é fácil e natural é mentira. A vida de casada, com o marido muda sim. Sua casa muda inteira para tentar garantir a segurança da criança. Eles estragam tudo! Quando digo tudo é tudo mesmo! rs Dificulta sim a vida profissional. Porque as crianças de hoje tem seus horários, quando adoece tem que ser a mãe, o João por exemplo ficou 3 dias no hospital com bronquite, por mais que o empregador libere e seja um direito previsto no estatuto, vc já sai da mira do chefe quando se tratar de uma promoção. Tem sim que abrir mão de muita coisa e de muitos lugares. Ser mãe é mudar de vida, na verdade é praticamente viver a vida de outra pessoa. Se vale a pena? Vale! Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, faria isso mil vezes. E acho que por você já ter essa visão é uma prova que vc tem sim dom de maternidade. Quem resolve entrar na gravidez como se fosse a "Cinderela" se decepciona e acaba descontando na criança as frustrações! Educar dá trabalho, é um investimento a longo prazo, vou saber se fiz meu trabalho direitinho daqui uns 20 anos, mas vale a pena. Não é fácil. Mas é a melhor coisa do mundo! Bjos e adoro seus textos!

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