09/01/2012

Sua trança

A vida é um emaranhado de universos paralelos. Segundo Rayssa Constancio, talvez uma trança, com pelo menos 3 caminhos... Eu já acho que temos muito mais opções ao nosso dispor. A gente escolhe o que quer dentre mil possibilidades. Algumas delas te empurram um pouco pra trás, outras te trazem um atalho. Talvez você se depare com um único caminho lá no fim, e descubra que de qualquer jeito, tinha que chegar lá. Ou pode ser que você aprenda a escolher não o caminho certo, perante a lógica, mas sim o caminho que te faz mais feliz. Desejo que você tenha essa sorte.
Eu SEMPRE me deparei com essa constatação.
Quando era criança, assisti um filme em que uma mulher tinha uma doença misteriosa, com uma mancha em forma de borboleta. Não me lembro do nome do filme, nem em que ano foi. Fato é que na infância, sofri anos por causa do reumatismo infantil. Anos depois, descobrimos que era uma outra doença, mascarada pelo organismo ainda em desenvolvimento. Os hormônios e o estresse chegaram, trazendo o lúpus cutâneo. E daí? Daí que o primeiro sinal é a ferida / mancha em forma de borboleta no nariz e bochechas. Quando era criança, lia reportagens sobre o sistema imunológico do tubarão. Quer apostar que a cura do lúpus vai ter algo a ver com os grandes tubarões?
Quando eu era criança, escrevia jornais diários pra minha mãe. Li cada um deles como se fosse uma apresentadora... Escrevia sem parar... Anos depois, tentei Comunicação Social no vestibular... Não passei. Achou que a lei do destino tinha falhado? Pois te digo... No colégio, no último ano, me deparei com a propaganda de um novo curso. Ciência da Informação, o profissional do futuro, multidisciplinar. Fui fisgada. E foi este o curso que fiz. Meu primeiro estágio? 3 anos numa assessoria de imprensa... E o que descobri? Que seria uma jornalista frustrada: alguém cortando os meus textos? Desaforo!!! Não sei se seria mesmo o melhor caminho pra mim.
Quando era criança, via vários antigos programas do Jacques Cousteau. Queria ser oceanógrafa. Eu me desfiz desse plano por dois motivos: lúpus (avesso ao sol) e medo (coisas da idade de mudanças, receio de ir pra longe). Acabei caindo nas duas opções citadas acima. E quando me formei, fiz a minha primeira promessa para a vida toda: que todo ano eu estaria no mar, de qualquer jeito, de preferência mergulhando, em contato com aquele mundo azul e silencioso do Jacques. Promessa cumprida desde 2003. E sabe o que aconteceu? Estive em vários lugares que Cousteau também esteve: no cenote maia no México, no mar da Ilha de Páscoa, nas águas de Noronha e Arraial do Cabo. Falta muito, mas quando é que eu imaginaria que viveria essa realidade?
Quando eu era mais nova, imaginava como seriam meus irmãos. Não sabia como chegar até eles, inclusive sem me obrigar a uma convivência com meu pai. Na época, isso não era assunto discutido pra mim. Anos depois, via rede social, uma prima me ajudou a encontrar minha irmã. Por sorte (jura que é sorte?) eu adicionei a caçula, aberta, sem desconfiança, sem ciúmes e leonina. Se eu tivesse adicionado a mais velha (depois de mim), teria dado com a cara na parede e não teria resolvido esse dilema de tantos anos. Se tivesse adicionado meu irmão, teria rido do seu jeito caladão e pode ser que eu recuasse intimidada. Mas eu tropecei na pessoa certa e aqui estamos, ganhando espaço uma na vida da outra. E resolvendo velhos remorsos...
Eu bem que tentei estudar na Espanha, por volta de 2004. Era um mestrado de Gestão do Conhecimento e Comunicação Corporativa na PUC de Salamanca. Passei em todos os processos seletivos, mesmo sem saber nada de espanhol. Mas não consegui a bolsa do programa europeu. Porém, se eu tivesse aqueles 6 mil euros, teria feito o mestrado e seguido meu lado nerd de vez. Não tinha, claro. Mas eu tentei. E nunca deixei de gostar do tema... Anos depois, peguei um projeto chamado "Banco de Projetos" na empresa e tentei realizar um pouco do meu sonho... Criamos uma logomarca com o olho de Hórus, aquele que tudo vê. O projeto morreu na praia, mas eu coloquei a mão na massa. Mais uns anos e aqui estou eu participando de um projeto de uma rede social corporativa. Quais são os temas recorrentes? Gestão do conhecimento e comunicação corporativa. Destino? Não, bebê!
Se eu tivesse feito oceanografia, seria uma ambientalista frustrada diante do caos ambiental de hoje. Estaria em depressão pelo que fazem com nossos mares e florestas. Provavelmente estaria dedicada a alguma ONG, fissurada em golfinhos, baleias ou algo do tipo. Não teria muito dinheiro, pois o mundo capitalista é cruel. Quem se doa, não recebe tudo de volta. Não logo de cara. E daí, meu caro, que eu vim parar no lugar certo. Conheço 3 unidades do ICMBio. Mergulhei várias vezes. Faço meu ambientalismo em pequenos gestos em redes sociais e alguns discursos meio descascados. E ainda assim tenho meu teto, tenho meus sonhos e viajo pelo mundo porque dou um jeito. Não estou colada num pedaço de terra. Sou do mundo que eu sempre quis ver de perto.
Eu nunca sequer imaginei que eu fosse me casar. Não estava nos meus planos. Aconteceu, claro, sempre do meu jeito: a jato. Sem titubear, sem duvidar de que aquilo era o certo. Foi certo enquanto durou. Só doeu (muito) no fim, mas eu não me arrependo. Onde está o destino? Um dia procure saber o que eu dizia pra minha mãe quando era criança: "vou me casar com um branquelo do cabelo preto, quando eu tiver X anos". Deixei de ir pra França pra apresentar um artigo sobre mapas conceituais... Mas esse mesmo dinheiro, que usei pra outros fins, depois virou um crédito de aluguel... E em meio aos tempos turbulentos, eu fui pra Abrolhos. O preço de um sonho. E você quer mesmo que eu diga que não valeu a pena? Valeu. E era pra eu estar lá, contando 25 baleias jubarte.
Posso citar muitas coisas como essas... Perco as contas de quantas vezes eu escolhi um caminho, mas cheguei ao mesmo resultado. Ou quantas vezes direcionei minhas forças pra um rumo, fui obrigada a mudar de ventos, e mesmo assim encontrei o que buscava. A gente se adequa à vida, desde que você se permita confiar nas possibilidades que o futuro te oferece. Somos flexíveis, como a água. Somos feitos de 2/3 de água, não se esqueça. Voltando ao que a Rayssa disse... O destino não é uma trança com 3 escolhas. O destino é uma trança com milhares de fios.

2 comentários:

  1. Erico disse...
    O engracado é, que mesmo com tantas possibilidades, somos engessados para vizualizar apenas duas...

    Segunda-feira, 09 Janeiro, 2012

    ResponderExcluir
  2. Tive que transferir o comentário do Érico porque o outro post não estava formatando direito...

    ResponderExcluir