09/05/2012

Post do Futuro (Trágico)

Ano: 2112. 
Onde: Ao seu redor. 

Parágrafo 1. Das Comunicações.
As pessoas estarão conectadas por campos invisíveis (talvez azuis, para quem ainda insistir na corrente sobre vibrações energéticas, ou acinzentadas, para quem tiver um desvio numa região específica do cérebro que hoje não conhecemos). A liberdade de pensamento estará restrita a campos de assuntos pessoais, devidamente separados por tópicos em um filtro robotizado instalado assim que nascemos. Sim, os campos são biológicos, mas ainda assim precisaremos de um filtro automatizado que a natureza nunca nos proverá. Quando o assunto se tratar do bem de todos (e talvez o bem geral da nação), seu pensamento será automaticamente compartilhado, desmascarando quem você esconde na caixinha. A Terra será uma grande rede social da sinceridade, onde finalmente todos dirão o que pensam, claro, se forem pobres. Pois os ricos terão a opção de adquirir a liberdade de pensamento, que no caso é a restrição do pensamento: terá o poder quem puder dividir somente o que quer, o que deseja, sem ser espionado, invadido, hackeado. Ou seja, nasceremos todos com campos mórficos igualmente distribuídos em poder, atitude e alcance, mas mais uma vez a seleção natural das espécies ditará quais serão as vozes ouvidas (por bem ou por mal).

Parágrafo 2. Da Saúde.
A humanidade se verá cercada pelo dilema criado ao longo do sacrifício capitalista: tornou-se tão caro manter a vida no próprio planeta que manter a continuidade de sua linhagem será também uma escolha daqueles que detiverem esta opção em suas poupanças. Não apenas as guerras e moléstias mundiais selecionarão as populações remanescentes. A mão de obra crescente em 2012 em países como Índia, China e Brasil será consideravelmente diminuída pelo arroxo econômico: não há espaço, nem dinheiro para custear tanta gente. A vida será freada, reduzindo a variabilidade genética mundial. Em paralelo, algumas doenças serão potencializadas pela menor chance de recombinação genética para fortalecer a espécie. Na margem oposta, remando contra a maré, as terapias genéticas e estudos sobre o DNA (especialmente o RNA) irão alavancar a seleção natural na ponta das agulhas: somente os embriões mais capazes de sobreviver e manter a espécie neste território eternamente inóspito permanecerão. Cada pessoa nascida em 2112 terá sido selecionada por seu perfil genético, potencial habilidade, provável aptidão e vantagens biológicas. Uma competição já anunciada no berçário. As células tronco serão registradas como sua verdadeira e única identidade, compondo um novo formato de identificação. 

Parágrafo 3. Dos Relacionamentos.
Não existirão relacionamentos fundamentados na troca de sentimentos. Os relacionamentos serão definidos pela capacidade de troca harmoniosa e boa convivência entre os pares. O conceito de homossexualismo deixará de ser pré-concebido como absurdo, uma vez que os pares terão como finalidade apenas se proporcionarem maior segurança de vida, bom relacionamento em sociedade, amparo social e econômico, estabilidade emocional e parceria. Neste sentido, o conceito de paternidade e maternidade será adaptado ao caráter educacional, e menos sexual e biológico. A gestação in loco (natural) será opcional, apesar de pouco recomendada em função dos riscos oferecidos à mãe, mas o material genético dos pais será previamente selecionado num banco de DNA, eliminando os trechos eventualmente "desconexos" (fracos), para garantir a melhor ninhada possível e permitir a seleção dos gametas potencialmente propícios à reprodução da espécie. Portanto, além da função social, os relacionamentos terão como premissa a manutenção da evolução da espécie quando se trata de garantir a seleção dos embriões, providenciar a educação dos espécimes gerados e garantir que os mesmos tenham capacidade de se estruturarem na nova sociedade conforme os padrões estabelecidos. 

Parágrafo 4. Do Orgasmo.
Tratando de um mecanismo biológico regulador do estresse animal, o orgasmo será tratado como terapia metabológica contínua para todos os seres humanos a partir da idade reprodutiva, porém sem interrupção na idade avançada (exceto por casos específicos de saúde). Em função da modificação da função do relacionamento e das novas medidas de saúde pública adotadas (tratamento rigoroso contra doenças endêmicas como AIDS e outras transmitidas pelo sexo, além da redução dos problemas sociais decorrentes do aumento de divórcios no século anterior por motivo de traição ou troca de cônjuges), o sexo não será estimulado como prática para reprodução nem para o prazer, nem será entendido como base do relacionamento acima descrito. O sexo será entendido como componente de medicação diária através da aplicação prescrita de doses de determinados medicamentos e uso de equipamentos conectados ao cérebro para estimular as regiões dedicadas ao prazer, uma vez que a identificação das demandas individuais permitiu a resolução de problemas de ordem social antes incuráveis, tais como: agressividade, obesidade, depressão, transtornos obsessivos, violência, dentre outros. Desta forma, durante a puberdade, será iniciado um tratamento que medicará os pacientes conforme a demanda de seu organismo e sua mente, recomendando a dose de prazer a ser injetada no seu cérebro de acordo com seu estado metabólico e psicológico, eliminando a função da segunda pessoa na sensação antes vinculada ao relacionamento. 

Mas alegrem-se... Segundo as previsões, uma pequena fatia da sociedade, entendida como os novos hippies, insistirão em subverter o mecanismo e iniciarão um grupo de estudo sobre o sexo entre seres humanos por volta de 2140. 

Parágrafo 5. Do Conhecimento. 
As pessoas serão educadas e trabalharão em suas próprias residências, conectadas através de redes virtuais, eliminando problemas de trânsito, poluição sonora, redução definitiva do uso de combustíveis fósseis, etc. Todo e qualquer deslocamento físico será realizado única e exclusivamente por diversão, dedicando-se ao ato de conhecer outros lugares e pessoas presencialmente. A vivência presencial será a grande diversão da nova era, saindo do mundo "touch" das telas para o mundo ao toque real. Criar as experiências do mundo antigo transformará o mundo do entretenimento numa grande volta ao passado, criando nas pessoas a sensação do absurdo diante dos desperdícios e abusos, mas também se sensações nunca antes vivenciadas por estarem agora restritas aos seus metros quadrados. Toda e qualquer distribuição de produtos e serviços será feita por uma rede conectada às residências, que já estarão preparadas para fornecer a estrutura de sobrevivência aos novos seres humanos. Somente serviços essenciais muito especializados exigirão o deslocamento das próprias pessoas, tais como: parto natural, operações cirúrgicas de grande porte, etc. Toda a estrutura de moradia, transporte, saúde pública, produção de bens, prestação de serviços será modificada ao longo do século para suportar uma nova plataforma onde as pessoas serão clientes do sistema. E todos serão vigiados para garantir a ordem. 

Mas não ache que estou aqui pensando nisso tudo à toa. É que dentre tantas previsões alarmistas de alguns ambientalistas, depois de ficar meio assustada com o Big Brother de George Orwell e achar que a Matrix realmente existe, acho que o importante mesmo é ter capacidade de pensar sobre essas coisas. Rupert Sheldrake diria que "sua garotinha cresceu e anda lendo suas ideias". Aldous Huxley talvez dissesse que finalmente estou entendendo as coisas. Que finalmente entendi que não posso dizer tudo que penso para todos, mas sim somente para aqueles em quem confio. Pois a opinião nos revela. A opinião nos dedura. E a imaginação, diz o que? 



Um comentário: