09/07/2012

O Tempero dos 30

Estou chegando aos 30. E não sei até agora onde foi parar meu medo das rugas, meu horror aos cabelos brancos, os tais arrepios de frente para o espelho. Ainda não entrei em pânico pelos motivos que convém, ou deveriam, a uma "garota de quase 30". Sim, pulei algumas etapas antes dos 30 e por isso já estou escolada em assuntos como casamento, divórcio, perda e reparação. A verdade é que as mulheres de hoje deveriam se dar o direito de errar mais, antes dos tais decisivos 30. Afinal, só provando o sabor é que se sabe se o amargo realmente não lhe cai bem. Quem é que disse que não gosto de pimenta? E não tem gente que chupa limão?

Eu nasci para o sal, mas pouco temperado. E de vez em quando, o agridoce. É o que me cai bem, é o gosto que combina com meu paladar. Não sei viver de outra forma. E por isso talvez eu tenha alcançado os 30 já consciente de algumas pedrinhas de sal grosso que a vida nos empurra. Não que eu não tenha experimentado a pimenta - mas sei que não me cai bem. E o azedo, esse nunca me apeteceu, não precisei cair nesse buraco para saber que ele era fundo. Mas quanto àquelas pedras de sal, esperei cada uma delas se derreter, de um jeito ou de outro: na minha boca, na umidade do tempo, na chuva, na água. Aos 30, você já sabe como reagir. 

Mas a questão é que não cheguei aqui com o peso do sal, mas sim com a sensação de um grande mar dentro do peito. E por mais que eu já tenha uma certa intuição sobre meu destino, não acho que salgar esse peixe seja assim uma ideia tão ruim. A vida me parece curta demais quando penso que já gastei 30 fichas em apostas das quais mal me lembro, que só tenho certeza de que vivi quando olho para as fotos, diários e cartas. Que memória fraca! Para o bem e para o mal! Sem rancores, meu amor. Sem rancores antes, sem rancores depois - leve, como o sal ao vento. 

Eu espero que meus próximos 30 sejam merecidos. Sejam do tamanho exato que preciso para viver o que me cabe, do jeito que tem que ser vivido: com intensidade, com força, com vontade. Que aos 40 eu ainda me sinta com 26, como me sinto hoje com 23. E que aos 50, se eu tiver coragem para fazer uma cirurgia plástica e disfarçar umas rugas, eu me sinta com 30, por dentro, não por fora. Afinal, ainda vale a pena tirar as rugas para evitar as fofocas que o espelho espalha. Maldito seja! E que aos 60 eu me pareça com minha mãe, com a sorte de que tomei menos sol do que ela (fato), com uma energia insuportável para acordar cedo enquanto eu aos 30 simplesmente quero ficar na cama até mais tarde. E que aos 70, 80, quiçá 100, eu me sinta uma vitrola, rodando, ainda que cambaleando, rindo da vida, mas tocando sempre. 

Ah, a morte. Quem é que te disse que a gente só morre quando envelhece, meu amor? A gente morre todo dia, mais um pouquinho... Enquanto você desperdiça seu tempo, não vê que perde mais uma rodada do jogo... E fica aí, se lamuriando porque tem "30". Que diferença faz? Quem é que te disse que seu contrato não vence amanhã? Quem é que te garante que você não está condenado a ser o último dos seus amigos a partir, a ver todos irem embora, um a um? Lembre do que falei, meu amor - sem rancores, sem rancores. É a regra da vida, goste você ou não deste tempero. Só não espere que a vida seja doce demais: enjoa!



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