17/07/2012

Mindset da Ruptura

Crescemos acreditando numa série de circunstâncias históricas, psicológicas e emocionais que perdemos o hábito de exercitar nossa própria liberdade de pensamento. Somos tão cartesianos e moldados pela nossa geração, que não nos permitimos ser atemporais, livres para propor novos modelos mentais sobre a vida, sobre os relacionamentos e sobre os planos para o futuro. O resultado é que todas as gerações que antecederam a minha (chego aos 30 em breve) provavelmente se sentiriam perdidas se lhes fosse concedida a verdadeira liberdade: para agir, para pensar, para ser. 

Sou de uma geração limítrofe, aquela que começou a sofrer com a mudança e que aos poucos tem acesso ao mundo de verdade. Estamos descobrindo as verdades antes encobertas e que jamais aprenderíamos nas escolas. Assim como ouvi hoje, nas práticas palavras da consultora Denise Eler, "fomos durante muito tempo criados para pensar na solução dos problemas, mas não para criá-los, discuti-los, analisá-los como parte do processo de aprendizado". E agora resolvemos nos abrir para estes questionamentos: os por quês, para onde, de onde, para quem? Vieram em ondas incontroláveis na ponta da língua dessa tal Geração Y que muitos julgam insuportável. Mas não é assim que realmente chegamos à compreensão dos fatos? Se partimos direto para a solução, num pensamento matemático frio e sem contexto, não deixamos de lado o lado humano da coisa? 

Durante muitos anos, a sociedade, a economia e as pessoas pensaram que a solução para tudo estava na razão, na ciência, pura e lógica. Mas vamos citar aqui uma situação histórica que mudaria a forma de pensar de todos nós, cartesianos, darwinistas, tayloristas, fordinianos puros, steve jobinianos ao quadrado que somos. Em meados de 1433, bem antes dos anos dourados da marinha mercante européia que nos colonizou lá pelos anos de 1500, você saberia dizer quem era o país que detinha a frota mais moderna de navios navegando pelo mundo? Em algum momento nas salas de aula você ouviu algo diferente de Espanha, Portugal, Inglaterra, França... Talvez os árabes? O poder era dos chineses, com seus magníficos navios com velas vermelhas. Só não fomos colonizados por chineses pois o imperador que impulsionava o domínio além das muralhas chineses faleceu repentinamente e o novo governante, por algum motivo, decidiu voltar-se novamente para a China dentro dos velhos muros. Eis que assim a história, como num imenso tabuleiro, criou o mundo tal como conhecemos hoje. E você ainda insiste em acreditar que nunca foi enganado pelas teorias alheias. Os nossos livros apenas nos ensinaram a versão dos fatos que nossos antepassados europeus queriam que fosse contada... E assim pouca gente sabe que os chineses não estão apenas invadindo o mercado de hoje, mas já fazem parte da história há séculos. 

O que a China tem a ver com isso? Os chineses hoje pensam "fora da caixa". Basta pensar na velocidade. Os orientais, de uma forma geral, já conseguem se abrir para a mudança. Talvez porque eles tenham aprendido com sua própria história a superar inúmeras crises, de diferentes tipos e seriedades. Da bomba atômica aos governos vermelhos. A questão é que os modelos ocidentais ainda pensam nos moldes da era industrial, como se a melhoria contínua ainda fosse suficiente para seguir adiante. O mundo mudou, pois as pessoas estão mudando. E por este motivo pensar diferente é uma questão de sobrevivência: não bastar melhorar, é preciso mudar. Uma melhor prática, a gestão do conhecimento por si só - não basta no que alguns chamam de "era conceitual". Enquanto você ainda entende na faculdade sobre a Sociedade da Informação, sinto muito, o bonde passou assim como os navios dos chineses se perderam na história - estamos vivendo outro momento. Estamos no momento em que a melhor prática é substituída pela nova prática - ruptura. A história mudou drasticamente pois é preciso ser veloz, é preciso ser diferente e inovador. 

E aí voltamos aos benditos insuportáveis da geração Y, ou qualquer letra que seja. Estamos falando daqueles que estão impacientes, que não conseguem manter o foco numa coisa só por muito tempo, que querem pensar a curto prazo, que querem ver a ação. Assim como as empresas que são flexíveis e se ajustam à demanda do mercado, ou seja, aos desejos das pessoas, são exatamente as empresas que irão sobreviver aos ciclos de crises cada vez mais curtos e constantes que a nova economia irá estabelecer. Para se manter no mercado, será necessário estabelecer-se como inovador por excelência. A grande questão é quem estará mais aberto a pensar "fora da caixa": nós, que aqui estamos e por vós esperamos? Será que existem vantagens ou desvantagens entre o modo de pensar e agir ocidental / oriental? Ou "ser inovador" é uma característica pessoal e intransferível? Steve Jobs conseguiu formar substitutos a longo prazo? Pois o antigo imperador chinês levou consigo todo o destino de um país e do mundo, que hoje teria olhos puxados.

Um comentário:

  1. Ei Carol, muito bom seu texto. Fez uma leitura muito legal do Mundo atual e seus protagonistas.

    Eu apenas colocaria o seguinte como historiador:

    1) A sociedade cartesiana é muito nova e recente, na época citada por você, por exemplo, Séc. XV/XVI, a sociedade europeia era muito teocentrista e cristã. Lembre-se que eram os "anos de chumbo" para eles, no que diz respeito à inquisição.
    2) Os chineses não pensam fora da caixa, eles tem a própria caixa deles e isto é normal, de tempos em tempos, existem pequenas rupturas, que levam a grande rupturas sociais, graças às inovações.
    3) A sociedade chinesa não é melhor nem pior, tem traços distintos do nosso modelo atual que é a sociedade americo-européia. Arrisco a dizer, que se a China não fosse tão rica e poderosa (mas com as mazelas de uma má distribuição de renda pela enorme população) os EUA já teriam arrumado uma desculpa esfarrapada para invadir esta "ditadura comunista".

    Enfim, vamos ver uma briga quente nos próximos anos, que definirão os caminhos do capital e das idéias...

    :)

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