24/02/2013

Tratado sobre a Arrogância

Nos últimos 4 anos eu mudei consideravelmente. Para alguns, sou mais petulante, para outros, mais calada, para outros ainda mais próximos, me tornei uma pessoa arrogante. Enquanto eu pensava simplesmente estar mais madura, consciente dos meus atos, distanciada dos problemas alheios que não me pertencem e sofrendo menos por aquilo que não me cabe resolver. Eu "endureci", coisa que aquela frase do Che Guevara me proibiria de fazer. Mas a verdade é que não foi por mal, mas sim pelo rumo que a vida tomou. 

Não quis me tornar uma pessoa mais fechada por simples opção, nem mais carrancuda por uma questão de acordar com um péssimo humor. As circunstâncias me pediram uma posição diferente diante da vida, das pessoas e dos fatos, e fui empurrada pra essa pessoa que agora eu sou, não sei se melhor, porém a que agora eu sei ser. Faz falta ser leve, mas não dá pra simplesmente voltar a velha fita cassete e desembolar o nó. Não sei até que ponto dá pra ser tudo tão "simples" de novo. 

A verdade é que também parei de esperar das pessoas mais do que elas podem dar, e talvez isso tenha me transformado numa pessoa menos "iluminada", como alguns diziam antes. Eu tinha mais fé no que estava por vir, tinha mais fé nas pessoas. E agora eu simplesmente sei que as pessoas falham, simplesmente sei que todos somos tortos de nascença. Não quero mais decepcionar, nem ser decepcionada, sem criar expectativas sobre coisas impossíveis, sem projetar sonhos que não dependam do simples momento do "agora". Não quero achar que daqui há uma semana a cura de todos os males estará na próxima esquina, quero simplesmente tomar o remédio de hoje à noite. 

E por essa visão simplista, que aos olhos de alguns parece triste e negativista, eu aprendi a ser mais leve, a me cobrar menos, a sentir menos o peso do mundo. Parei de carregar nas minhas costas as responsabilidades que não me cabiam, as mágoas que não me pertenciam, aprendendo a cultivar o desapego também pelo passado e pelo futuro. E por isso talvez eu agora tenha esse ar de arrogância, por simplesmente não querer mais me expor ao sofrimento. Não me tornei dura o suficiente, muita coisa ainda dói - só faço o que faço para não sofrer mais adiante. 

"O lado bom da vida", como diria o filme, não é ter esperança, não é criar falsas expectativas sobre o dia de amanhã. É simplesmente enxergar o que é bom agora, e cuidar disso da melhor forma possível. Tenho me esforçado para não sofrer pelo dia de amanhã, e como é difícil! Como é difícil não projetar no outro a sua própria vontade, o que você mesmo queria fazer e não consegue! Maldita inércia. Só que culpar o outro também não adianta, então prefiro cuidar do meu quadrado, fechar a boca, ouvir mais, e aí estou eu de novo: a arrogância em pessoa, porque agora eu não sou mais a velha matraca falante, não saio querendo animar a todos como antigamente, não tenho mais uma palavra amiga a todo instante como se meu repertório tivesse se esvaziado. Não é por mal, aconteceu. 

A gente simplesmente se transforma. Dizem que aos 30 nosso signo muda para o signo lunar. Ou algo assim. O meu signo anterior (virgem), combinado com o ascendente (peixes), era conhecido pela doação incondicional. Meu signo lunar é escorpião (independente, egocêntrico, materialista)... E se o nosso HD, pra não vir zerado, for realmente configurado no modo padrão com essas coisas de signo? E ao longo da vida a gente for se transformando, como a gente faz com um computador, instalando novos programas, mas no fundo, está lá o mesmo Windows, dando pau? Quem é que disse que não vou ficar ainda mais cabeça dura neste meu ciclo dos 30? Já fui feita no programa difícil - esse tal do virginiano sofre. Mas não podia ter nascido no "tabuleiro" que gera gente mais fácil, mais dócil, mais leve? Não tem boot de sistema que resolva, meu bem. 

O meu medo é esse: estar ou ser estigmatizada de agora em diante pelo meu novo gênio. Por estar mais consciente do que quero, do que sinto, do que falo, do que quero manter distante de mim, agora sou tachada. Não sei mais o real conceito de humildade (e de fato a perdi em vários aspectos, mas em outros não). Não sei mais até que ponto tomei o caminho certo para mim, que não era bom para outras pessoas porque deixei de ser um saco de pancada, ou deixei de ser o pára-raio, ou deixei de ser a fonte inesgotável de esperança e alegria. A verdade é, que por mais que doa, pesa menos em mim todo o peso do mundo, tudo aquilo que não me deixava dormir, tudo aquilo que me fazia escrever sem parar, tudo aquilo que me incomodava e deprimia, tudo aquilo que literalmente me adoecia. Para conseguir a minha paz de espírito, eu precisei mudar. Para me tornar uma pessoa mais segura, eu precisei cortar os galhos bem baixos, deixando tudo nascer de novo, mesmo que agora me pareçam tortos e encruados. Sinto muito por quem se sentiu atingido, mas foi apenas uma questão de sobrevivência. 

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