19/10/2010

Assombre-se

Ao me deparar com as imprevisibilidades da vida, com os assombros rotineiros, com as farsas mirabolantes, com as descobertas improváveis - respiro sustos. Possibilitar sinapses inesperadas, arregalar as pupilas, permitir-se ficar boquiaberto, transpirar adrenalina ou simplesmente descobrir-se inebriado por mistérios intangíveis.

Diariamente me flagro em questionamentos quase ilógicos considerando a velocidade do mundo moderno. Não há tempo para duvidar do que não se vê, do que só se prova em fórmulas matemáticas ou simulações das leis da física. Manter-se continuamente surpreso com cada mudança no rumo das coisas é o que nos distingue daquilo que não tem vida, é o que torna você um animal pensante. Tão pensante que destrói na mesma velocidade com a qual cria e recria.

Estou falando de coisas que gerações anteriores à minha jamais sonhariam um dia conhecer, que eu sequer imaginaria nos meus ingênuos tempos de criança fantasiosa. Afinal, quem imaginaria que nos tornaríamos bípedes e que neste milênio teríamos planos de pousos em Marte? Quantos ainda não duvidam que pisamos na Lua? Qual a distância real entre a nossa inteligência e toda a concretização de sonhos que nos foi possível, surpreendendo até mesmo as probabilidades da evolução das espécies? Darwin não seria tão inventivo!

Ridiculamente ainda me pego questionando como consigo enviar informações via “wireless”. Se não há um meio visível, um veículo palpável, como as palavras que aqui estou postando chegam aos seus olhos, onde quer que você esteja? Como é possível falar quase em tempo real mesmo estando em países quase opostos nessa Pangéia maluca? Como você me ouve falando num telefone celular se não posso tocar nestas ondas transmitidas aleatoriamente pelo espaço que me rodeia? O quanto do que falo não está ainda disperso no meio, o quanto do que falei pode ser recuperado em ondas que ainda flutuam? Vai me dizer que você entende o som, a luz e todos somos emaranhados de células?

Estupidamente tropeço em meus pensamentos quase ignorantes, ainda questionando coisas como: fotografia, televisão, e-mails, webcam, sistema imunológico, meiose e mitose. Como se eu fosse uma alienígena no meu próprio mundo, sem acreditar que todas aquelas leis malucas da física realmente fazem algum sentido e mais – sem acreditar que ainda estamos longe do esgotamento do conhecimento disponível lá fora. Como posso assimilar tanta mudança, tantas coisas antes impensadas, sem ao menos duvidar do que de fato é realidade ou ficção?

Espero pelo tele-transporte, aguardo ansiosamente pelas estações espaciais, torço diariamente pela cura do câncer, sonho com a descoberta do centro da Terra. Tenho medo de robôs, me apavoro quando imagino o poder da telepatia, fico apavorada com a globalização que transforma todas as sociedades numa rede viciada e dependente. Quando o mundo vai se esgotar? Tudo aquilo que sequer ouvir falar ainda irá chegar aos meus olhos ou aos olhos daqueles que me sucederem. Coisas que escapam à minha humilde imaginação, pois talvez me baste cruzar os dedos para que um dia consigamos entender o que os golfinhos estão dizendo o tempo todo. Lucro seria entender a própria inconstância do ser humano!


Em homenagem aos velhos papos na "República das Toscas"...

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