19/12/2012

Nossa mala velha...

Hoje uma amiga dos velhos tempos me disse que estava saudosista e que ficou surpresa ao descobrir o meu blog. Bem típico de Dona Dani não saber que um blog existe há 3 anos e ainda por cima ficar emotiva ao ler alguns textos e se lembrar do meu jeito de contar "causos" como fazíamos nos bons tempos, sentadas na pracinha esperando o carro do velho príncipe encantado passar... A verdade é que somos feitos de histórias, estórias e casos pra lá de absurdos, que só a nossa memória será sempre capaz de reproduzir... E mesmo assim o tempo aos poucos nos garante a vantagem da distorção, tornando tudo mais heróico, ou reduzindo as dores, minimizando os medos daqueles tempos, ou talvez até deixando mais brilhantes os amores e aventuras. 

Somos um apanhado de situações que, a cada pessoa nova que entrar em nossas vidas, nunca conseguiremos repassar tudo que vivemos, por mais que todo dia a gente se dê ao trabalho de contar algo que já vivemos... E o pior: a gente nem se dá ao luxo de fazer isso pra se conhecer melhor... No máximo contamos sobre as férias do ano passado, das viagens que já fizemos (e bem por alto, talvez só aqueles pontos mais incômodos ou os mais malucos), ou falamos dos traumas já vividos quando alguém vive uma situação parecida... Afinal, tem horas que nem a gente tem paciência pra ficar revendo filme repetido, explicando tudo de novo pra várias pessoas, só pra que alguém talvez um dia entenda como chegamos aqui, desse jeito que agora a gente é. 

A questão é que só a gente sabe o que leva cada um de nós a ser do seu jeito. Cada um tem uma bagagem, cada um viveu uma vida totalmente sua. Não há ninguém sequer parecido com o próximo nem mesmo dentro da própria família ou casa. Mas o difícil é que nem todo mundo carrega nessa bagagem o respeito pela bagagem alheia... E aí fica complicado tolerar, tolerar-se, entender, respeitar, ceder. Se você não aprende nesse tempo todo que cada um tem seu limite, ou precisa de certo espaço, de repente invade o outro, magoa, se impõe e o pior: tenta mudar a essência do outro, ferindo o seu direito primordial. 

Daí me lembro de novo que quando era ainda pré-adolescente (e ainda restam uns 20% dentro de mim dessa figura pitoresca, mesmo que adormecida e pouco representada em meus escritos antes melancólicos e agora bem mais pragmáticos), eu carregava a bandeira da liberdade a todo preço. Tudo que contrariava esse direito me feria tão dolorosamente que eu mais parecia uma militante em tempos da ditadura do que muitos que lá estiveram. Tudo que definisse uma regra, um limite, um padrão (até estético), era uma afronta aos meus princípios... Saudade daquele ardor ideológico, mas nem tanto do sofrimento por me sentir incapaz diante dele, inerte, inútil ou inutilizada, a palavra me fugiu... 

E aqui estou eu, a adulta que ainda escreve pra ninguém, palavras ao vento, sem os velhos diários abandonados por uma questão tão prática que assusta: a invasão descoberta e a sinceridade finalmente entendida como fragilidade. O velho hábito de escrever que nunca se foi permanece como um desabafo, para nada, ou para simplesmente organizar as ideias, ou para que alguém um dia leia, ou se veja refletido... Não espero que ninguém tenha a mesma bagagem, mas que os meus rabiscos sejam de algum modo válidos. 



Coisas assim eu levo na minha bagagem... Você é quem diz o que leva na sua...

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