16/10/2014

A carta

Quando recebeu aquela carta, era ainda muito jovem. Ainda não tinha se tatuado pela primeira vez, ainda não tinha terminado seu primeiro namoro e ainda não tinha mergulhado - em si mesma e nem no mar. Tinha certeza sobre poucas coisas na vida, mas não podia negar seu amor pelo mundo e pela vida - em todas as suas formas. Não sabia quem seria no futuro, não sabia onde estaria em 5 anos, não sabia sobre sua trajetória, não sabia. 

Até então saber que aquela carta era o seu destino. 
Era seu fardo. 
Era sua rota. 
Era seu carma. 
Era seu propósito. 

A carta continha um mapa, com diferentes pontos assinalados. Brevemente conhecido em aulas de geografia e programas de televisão. Pouco acessíveis a muitas pessoas espalhadas pelo mundo. E uma única frase: "Encontre suas próprias rotas. Encontre-se." Aos seus 17 anos, aquilo parecia absurdo, mas nunca saiu de sua lembrança. A carta não tinha remetente, não tinha selo e nem possibilidade de rastreamento. Estava suja e amarrotada, assim como a própria letra de quem escreveu aquelas poucas palavras. No entanto, emanava uma energia única e, especialmente, uma possibilidade antes impensada. 

Alguns anos se passaram, ela tateou suas rotas no escuro: direção indefinida, simplesmente encaminhada. E tinha a nítida sensação de que não era tão dona assim da sua própria vida: por mais que se planejasse, era a vida que escolhia seus caminhos. Nunca quis ser quem era, e ainda assim acabou sendo. Nunca quis trabalhar com aquilo, e ainda assim acabou se destacando. Nunca estar necessariamente com aquelas pessoas, e ainda assim a vida lhe trouxe almas particularmente diferentes - e totalmente responsáveis pelas suas escolhas também. Até que um dia, revirando suas memórias, decidiu seguir a carta - mais uma "autoridade" definindo seu futuro. 

Era só um plano maluco, e não especulava sobre as possibilidades desta escolha. Especulava, sim, no entanto, sobre quem queria dar aquele recado. E qual era a sua intenção ao deixar aquele recado. E então no ápice do seu desapego à lógica, decidiu se programar para a primeira grande aventura. E quando percebeu, já tinha mesmo assumido as rédeas daquela cavalgada. Finalmente escolheu ir, ao invés de ficar parada.

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