20/12/2009

Sarau Inesperado

Aquela criança que fui está por aí, flutuando no tempo. Hoje ouvi crianças recitando poesias de Adélia Prado e Cecília Meireles. As palavras eram ditas num tipo de teatro sem ritmo, afinal aquelas pessoinhas inocentes não sabiam mesmo do que falavam... Palavras soltas no tempo e espaço, sem contexto pra quem ainda vive um sonho... Quando forem adultas, como hoje são 70% dos meus órgãos, aí sim tomarão conhecimento do peso de suas palavras sobre um leilão de belos jardins ou uma paixão ainda que tardia.

Quando ouvi aquele “oh, linda!”, me transportei pra Bahia e suas possibilidades... Como faço pra voltar no tempo, criar coragem e mudar o rumo? Ou quem sabe assim é que foi melhor? E quem é que disse que ainda não posso surtar e de novo mergulhar em Abrolhos? De fato, só quero estar bem acordada caso “ele escreva outra vez”... Um sentimento dos meus 27 anos, mas sentindo os saltos cardíacos daquela menina de 9 anos ao recitar... Que coisa boa! Mas pra completar o cenário, não é que havia ali alguém que me lembrava aquela feição familiar de um único dia? Como uma pista: “hora de se mover, dê seu jeito”. Estou me movendo, Senhor Destino, estou me movendo. “Small moves, Ellie”, como já sei.

Neurolingüística - Adélia Prado (Do livro: "Oráculos de Maio")

Quando ele me disse
ô linda,
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez.

E de repente a pequena “Ohana”, timidamente em seu traje rosa-fada, recita as doces palavras que me lembram o mundo que quero pra mim: o meu próprio jardim... Que leilão foi esse que trouxe de volta os meus planos e projetos? Como posso ter alcançado 75% de minhas metas pessoais anuais em tão poucos meses, mesmo depois da avalanche? Eis que aqui estou. Não preciso de leilão. Eu corri atrás.

Leilão de Jardim – Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)

Pequeninas fadinhas... Obrigada por me lembrar que a Adélia também é Prado e que todas as garotas são Cecílias por natureza!

2 comentários:

  1. Ana, lindo demais o texto!!!! apesar de me achar a “ última romântica do litoral desse oceano atlântico”rs também tenho buscado meus próprios jardins, não esperando por leilões, me movendo, correndo atrás. E quanto às paixões ainda que tardias....”tolice é viver a vida sem aventura”! Bjus :)

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  2. Eis que a aventura é meu segundo nome! Apesar dos tombos, também continuo preferindo tentar do que esperar! bjs

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