22/09/2010

Desligar, controlar e retomar

Não se trata de uma decisão mal humorada, muito menos de uma onda qualquer. Trata-se da minha redoma, de me resguardar de todo o desgaste ao qual venho me expondo todos esses meses, talvez anos. “Aquele era o momento para eu procurar o tipo de cura e de paz que só podem vir da solidão.” Sou tipicamente atirada, falo pelos cotovelos e consigo me aproximar até daqueles que mais parecem jaulas. Mas hoje só quero a minha própria gaiola.

Venho sofrendo de um mal - velho conhecido. Sinto aquela “(...) a desoladora incapacidade de sustentar o contentamento.” Como se tudo fosse tão volátil e inflamável como álcool, sem deixar sequer vestígios da intensa alegria momentânea. E, convenhamos, isso deixa qualquer um decepcionado com sua própria capacidade de se manter auto-motivado, ativo, altivo, vivo.

“O que sei é o seguinte: estou exausta com as conseqüências cumulativas de uma vida de escolhas apressadas e paixões caóticas.” Escolhas feitas por pressão, outras pelo destino, outras por minha própria ansiedade. Não dá pra esconder de mim mesma como gostaria de ter aquele controle remoto que pula o que incomoda, o que pesa, o que desgasta. E colocar em câmera lenta aquilo que é bom e que nos completa verdadeiramente. O caos e a pressa me esgotaram, preciso de um tempo pra voltar a velha rotina de ser quem sou, ou talvez quem todos esperam que eu seja...

“Bhagavad Gita – aquele antigo texto iogue indiano – diz que é melhor viver o seu próprio destino de forma imperfeita do que viver a imitação da vida de outra pessoa com perfeição.” Entretanto todos podem julgar tudo isso como angustiante, ou como ingratidão, sem pensar na carga de responsabilidade que carrego todos os dias. Ser sempre a amiga presente, ser sempre a racional a quem recorrer, ser sempre a companheira de conversas frívolas ou profundas. Ser sempre o que o outro espera. Não consigo mais estar em tudo e com todos.

Claro que não consigo viver sozinha... “Mas sou inteiramente tragada pela pessoa que amo. Sou como uma membrana permeável. Se eu amo você, lhe dou tudo que tenho. (...) protegerei você de sua própria insegurança.” E lá vem o peso de novo! A culpa é toda minha, eu acho. Sempre estive aqui, o tempo todo, pra todo mundo. Fato é que também tive todos ao meu lado quando precisei, sem pestanejar, mas ainda preciso de um tempo na minha redoma, no meu castigo pessoal.

“Como a maior parte dos humanóides, carrego o fardo daquilo que os budistas chamam de ‘mente macaco’ – pensamentos que pulam de galho em galho.” Preciso organizar minhas idéias, aliviar a pressão, evitar que o coração aperte. E quanto mais absorvo do mundo lá fora, mais macaco me sinto. E estou cansada de pular de galho em galho. Não se trata de insatisfação, trata-se de uma viagem sozinha, rumo a um lugar que espera por mim, só por mim...

Preciso exercitar meu coração, endurecido arduamente nos últimos tempos. “A flexibilidade é tão essencial para a divindade quanto a disciplina.” Preciso vigiar meus vícios, minhas fraquezas, ao mesmo tempo que devo me permitir ser leve e desapegada. Talvez assim eu de fato aceite que tudo passa e “(...) que toda a tristeza e dificuldade deste mundo é causada por pessoas infelizes.”

As frases entre aspas são do livro de Elizabeth Gilbert.

2 comentários:

  1. Muito bacana,pra variar, né?
    Sucesso!!!
    Charles
    [Paz-me]

    ResponderExcluir
  2. O que vc chama de "redoma" Carol, eu chamo de "ostra" e de um tempo pra cá, de vez em quando, passo parte dele dentro da minha "ostra".
    As vezes é preciso "ficar só pra ficar junto..."


    Bjus
    Teca

    ResponderExcluir