18/03/2011

Fodeback

Preciso exercitar meu jeito de ser. Preciso mudar algumas coisas para que eu possa corresponder às expectativas das pessoas que apostam em mim. Preciso, preciso, preciso. Mas não existe um botãozinho de liga/desliga. Pelo menos não em mim, apesar da pinta de Frankstein faltando parafusos. Preciso compreender que nem todo mundo anda no mesmo ritmo que eu, seja 8 ou 80. O meu passo é só meu, mas não adianta esperar que todo mundo goste da maratona. Preciso aceitar o tempo das pessoas.
 
Preciso me lembrar que a sociedade funciona por engrenagens políticas, numa enorme fogueira de vaidades. Não concordo, mas dizem que eu preciso. Embora eu ache uma tremenda hipocrisia, preciso falar manso, mesmo apunhalando pelas costas ou nos meus pensamentos. Não concordo, mas é isso que dizem do mundo corporativo: um grande jogo. Preciso filtrar minhas críticas, minha mania de apontar os erros, mesmo que eu faça isso por achar que as coisas podem mudar pra melhor. Não concordo, mas preciso ser menos geniosa, menos exigente, menos honesta, menos direta.
 
Preciso encarar também as coisas que eu não gosto de fazer, mas que são inerentes ao meu papel no mundo. Não gosto de colocar o lixo pra fora, mas coloco às terças, quintas e sábados. Não gosto de lavar a louça, mas cabe a mim. Não gosto de atividades monótonas, de frescuras, de não-me-toques desnecessários. Não gosto de egos inflados, não gosto de fazer aquilo em que eu não sinto fazendo o meu melhor. Mas preciso. Preciso entender que na vida nem tudo são flores, que pra crescer preciso me tornar responsável por coisas que eu não tenho paixão. Não concordo, mas quem disse que minha opinião muda alguma coisa? Ou eu entro no jogo, ou permaneço onde estou.
 
Preciso entender que cada um possui prioridades diferentes, além de uma disponibilidade e boa vontade em níveis também diferentes. Nem todo mundo dá importância à necessidade do próximo de imediato, muita gente exercita o poder de ignorar quando tem coisas mais importantes pra resolver. Primeiro eu, depois você. Talvez primeiro eu, segundo eu, terceiro eu e, talvez, depois você. Se der tempo, claro. Não concordo – somos seres sociais, sociáveis e muitas vezes carentes. Mas tudo bem, tenho que exercitar a paciência, a compreensão e reduzir minha ansiedade. Ninguém vai ser como eu quero que seja.
 
Preciso ser mais tolerante. Tolerar, aceitar, talvez engolir. Gente ignorante, gente imprestável, gente preguiçosa, gente prolixa, gente chata, gente enrolada, gente devagar, gente burra. Mas me perdoem. Tolerar vai até que ponto? Quando a tolerância ultrapassa seus limites de caráter e seus valores pessoais? Até que ponto ser paciente não é o mesmo que ser conivente? Será que a intolerância muitas vezes não é a força motriz das mudanças? Claro, intolerância que não revide com a mesma violência, que não seja grosseira, que não perca a razão. Intolerância ao absurdo, só isso. Mas eu preciso, né? Enfim... Eu sei, eu sei. O tal do mundo corporativo. Não estou negando nada, mas só não preciso concordar com tudo, certo?
 
 
 

3 comentários:

  1. Achei maravilhosa sua reflexão. Talvez isso ocorra por partilhar de sua insatisfação com essa gigantesca lista de demandas que nos é imposta. Esta é criada com o único propósito de suprimir nossa existência autêntica alegadamente em favor do social, especificamente falando do mercado de trabalho nas organizações. Essa estupidez que se prerroga é felizmente falsa. Conquanto não pudermos agir congruentes com nossas opiniões, salvaguardando-se as necessidades do outro e a busca por melhorar a nós mesmos, aos demais e à organização, estamos fadados à hipocrisia e o fracasso.

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    1. Thiago, tinha te respondido há muito tempo, mas não pela resposta direta, então não sei se chegou a você... Vai de novo: "Talvez seja a pressão do mundo moderno... Do mundo capitalista, do mundo das cirurgias plásticas, do mundo da estética até nos formatos dos celulares... Depois espia o texto da Eliane Brum sobre a branca de neve publicado hoje, 11/06 na Época... É muita pressão!" Enfim, a hipocrisia continua lá fora...

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  2. Talvez seja a pressão do mundo moderno... Do mundo capitalista, do mundo das cirurgias plásticas, do mundo da estética até nos formatos dos celulares... Depois espia o texto da Eliane Brum sobre a branca de neve publicado hoje, 11/06 na Época... É muita pressão!

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