29/03/2011

Bahia, baía, baianada!


O mês de março mais parece um ano inteiro. Como pode um mês abrigar tantos momentos neste curto espaço de tempo? Não duvide de sua capacidade de transformar 24 horas em 32. Talvez você durma pouco, talvez você não permaneça sequer de pé no quarto dia. Mas acredite: a intensidade com que se vive é inversamente proporcional à velocidade da vida. Quanto mais você corre, mais o tempo se estica. E se você aprende a esticar o tempo, transforma-o em seu poderoso aliado neste infinito mar de possibilidades.


Há poucos dias andei pernambucando, mas bom mesmo é baianar, não consigo esconder. Afinal, existe uma lenda sobre o mineiro ser um baiano mais “apressadim”... Embarcamos rumo a Salvador num fim de noite numa sexta-feira. Chegamos de madrugada, naquele calor que só a Bahia tem. Quem disse que conseguimos ficar na pousada? Era uma da manhã e estávamos em plena Avenida Oceânica caminhando à beira-mar, rumo ao Farol da Barra, parte da história de nosso país. Brisa do mar e muitas possibilidades ao nosso alcance.


No sábado embarcamos rumo a uma praia distante e muito conhecida. No caminho, uma parada em Camaçari, Praia de Guarajuba. Os meninos me devem essa! Como se não bastasse estar na Bahia, pudemos “tirar onda” com Daniela Cicarelli, bonita e bem normal, nada de luxo e purpurina, nada de nariz em pé. Foto pra registrar, especialmente pra confirmar que eu tenho mesmo uma memória fotográfica violenta. Ninguém teria sequer a reconhecido se não fosse os meus olhos de lince para reconhecer um rosto. Ah, Guarajuba? Nem deu pra conhecer direito, mas é uma praia linda. Tínhamos pressa de chegar ao destino final.


Estrada adiante, expectativa crescente. Chegamos à Praia do Forte, em Mata de São João. Sede do projeto Tamar, aquele que sempre alimentou meus sonhos de bióloga marinha. Mais um projeto ICMBIO “conquistado” em menos de um mês. Primeiro o doce peixe-boi e agora as tranqüilas tartarugas. Grandiosas e ainda assim humildes, leves, fortes. Nada melhor do que avistar ninhos que nos dão esperanças de que esses lindos animais ainda têm chance graças àqueles que persistem nessa luta contra a degradação dos mares. Viajei nas imagens do Submarino Amarelo, ao som de Beatles e voltando a ter medo de bruxas, ou melhor, do peixe-bruxa. Quando é que eu imaginaria que iria tocar num isópode que vive a 2500 metros?


Caminhando pela areia, pés na água e cabeça nas nuvens, sempre andando à frente pra dar um tempo pra minha mente-macaco ficar sozinha e encontrar um pouco de paz. Não adianta negar: gosto de andar à frente pra buscar um caminho livre para os meus pensamentos ansiosos e talvez assim esvaziar a mente, deixando espaço somente para o som das ondas. Estávamos na Praia do Aquário, cheia de corais, piscinas naturais e muita vida. Sol, mar, camarão, peixe vermelho, um colete salva-vidas amarelo e assim eu me senti como o Bob Esponja. Alguém duvida de que isso que é uma boa vida?


Entardecer na vila da Praia do Forte. Caminhando por um lugarejo feito para o turismo, mas sem perder o agradável ar da simplicidade. Sentir-se leve, andando sem medo de perder tempo, abrindo os olhos para novas experiências e permitindo que os tímpanos curtam música ao ar livre com direito a petit gateau num café com estilo argentino. Show de mágica com um cara de suspensórios e camisa amarela, participante da trupe dos cabelos esquisitos. Assim é a Bahia: ela te recebe sem preconceito, sem medo de te deixar ser o que inegavelmente és.


O sol não deu o ar da graça no domingo, mas isso não era um problema. A caminho do centro histórico de Salvador, um passeio atemporal pela arquitetura e pelos possíveis acontecimentos registrados naqueles caminhos. Alternando entre o moderno e o passado, me senti a caminho de uma grande esfinge: “decifra-me ou devoro-te”. Igrejas, prédios monumentais que remetem aos nossos antepassados europeus, calçadas magricelas, pedras escorregadias. Eis o poder do tele-transporte. Estou no Brasil colônia, mescla de negros, portugueses, índios e malucos-beleza. “Estou no Pelourinho”, cidadela colorida, palco de filmes, fatos e atos.


Rumo ao Elevador Lacerda e redondezas. Ao lado um belo prédio dedicado à memória da elite soteropolitana. História de líderes, do exército, da marinha, da política, daqueles que um dia conhecemos pelos livros e que se meteram nos nossos destinos. Você paga quinze centavos para descer, mas não tem vista panorâmica, não se decepcione. Quanto custa mesmo? Quinze centavos. E você chega lá na cidade baixa, aquela que a gente sempre ouve falar. Mercado Modelo, tentações naquele mundo de artesanato... Máscaras, cores, capoeira. Muita informação num só lugar, muitas fotos pra comprovar que o tempo é uma linha que estica.


À tarde, um descanso rápido e um presente de Salvador. Show de Ivete Sangalo, aberto ao público na cidade baixa. Angélica, que presente, hein? E a gente achou que seu aniversário seria “light” e sem farra da pesada... Tá certo, os meninos estavam arriados na pousada, mas nós estávamos lá, em meio a 150 mil pessoas, comemorando os aniversários desta semana de março. Salvador, 462 anos. Como pode uma cidade ser essa metamorfose ambulante? E como pode essa cidade nos transformar em poucos instantes, dando coragem e pique pra encarar uma multidão enlouquecida? Salvador, ah, Salvador! Bahia que te quero bem, pra sempre.


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