17/03/2011

Pernambuquei!

Estive em Recife e lembrei de você. Você, que não conheço, mas que provavelmente se divertiria com as múltiplas possibilidades de diversão que Pernambuco oferece. Estive em Recife outras vezes, mas sempre de passagem, nunca por conta dos mistérios da terra que conquistou Nassau. Se você ainda der a sorte de andar com quem conhece bem a região, vai se deparar com detalhes que fazem toda a diferença.

Encarei Olinda numa segunda de carnaval. Não adianta, não me sinto bem em multidões enlouquecidas. Um calor infernal, blocos pra todo lado (essa é a parte boa), gente saindo pelas janelas do casario. Quase 500 anos de história que eu não vi de perto. Se você quer viver uma loucura, esse é o lugar certo. Mas não adianta, não é esse tipo de lugar que mexe comigo, com meus sonhos e desejos. É de fato um carnaval multicultural, com muita cor e som, mas acho que não sou mais uma pessoa do “barulho”, como já fui um dia. Hoje sou mais lago do que cachoeira.

Nesta loucura de Carnaval, me encontrei nas ruas do Recife Antigo. Sem o sol queimando a cabeça, com uma brisa pernambucana sem cobranças, com gente de todo o mundo andando por todas as ruas. Era Carnaval, não se prometa ruas limpas, banheiros químicos perfumados, gente sóbria e zero risco de assaltos inesperados. Você está no mundo real, mas vá pro Recife Antigo livre de preconceitos, livre de itens de valor (exceto a máquina fotográfica) e livre de padrões pré-determinados. E curta o palco no Marco Zero, com tudo que o frevo pode te oferecer quando o assunto é energia e vibração. Ouça Elba Ramalho, se tiver essa chance.

Eu tomei uma baita chuva após o primeiro dia de show no Marco Zero. Banho gelado pra fechar a noite e total disposição no dia seguinte. Embarcamos rumo a Porto de Galinhas e realmente gastamos um tempo considerável no trajeto, pois fomos de ônibus. Mas a vantagem era interessante: um belo cochilo na ida e na volta pra recuperar o sono perdido na intensa viagem a jato. Em Porto de Galinhas, muita gente curtindo o feriado. Muitas velas ao mar, piscinas naturais e camarão. Era hora de caminhar e colocar os pés no “Omar”, como minha mãe e eu apelidamos aquela imensidão azul e forma de água e sal. Encontrei uma bela praia adiante, que talvez se chame Muro Alto. E dei asas aos pensamentos que sempre fogem ao meu controle.

No Recife Antigo ainda pude saciar um dos meus vícios: artesanato (1), máscaras (2). Mas não comprei máscaras para enfeitar a casa, mas sim para evidenciar meu próprio mistério. Da fantasia discreta aos regalos carnavalescos, retornei para Minas Gerais com duas obras diferentes e extremamente interessantes. Afinal, qual seria a graça da vida se não pudéssemos de vez em quando ser diferentes, ser pitorescos, ser outros? Como um camaleão, se adaptando ao meio. Sendo muitas em uma só.

No terceiro e último dia dessa viagem no tempo, onde eu suguei cada minuto da melhor forma que pude, fomos a Itamaracá, uma cidade do interior de Pernambuco. Conheci a praia da Coroa do Avião (de fato, criei uma expectativa que não foi correspondida sobre essa praia), o Forte do Orange (pena que não pude entrar) e a praia de Jaguaribe. Passeios clássicos para muitos nativos deste estado caloroso e calorento. Camarão, água que sai do coqueiro, caminhadas na areia, captura de siri e sol esquentando o corpo.

Fechei o passeio com uma visita aos castelos do Instituto Brennand. Uma mistura maluca de história e excentricidade de uma família tradicional e de posses. Quando vi Buda à frente de uma coleção de facas, pensei: “Esse cara é maluco”. E assim como eu, tem mania de colecionar as coisas, juntando tralhas, combinando o que não combina – Ambrosina, como dizemos em minha família em homenagem à uma tia avó que adorava juntar cacos. Fato: achei que minha casa estava mais pra circo ou casa de cigano, mas a coleção de Brennand me deixou aliviada – tem gente mais maluca do que eu.

Mas se você me perguntar em que momento senti aquela alegria eufórica, típica das crianças quando descobrem Papai Noel ou quando ganham um presente muito esperado, você vai rir da minha cara. Porque pra falar a verdade o que eu não vou esquecer é a cara de um certo peixe-boi pendurado na passagem de um tanque no ICMBIO, tentando alcançar sua fêmea amada. Netuno, com cara de bonzinho, esperava por Bela, a mais bela, como se a saudade fosse insuportável. E quando eu os vi pelo vidro dos tanques, passando por mim como se fossem leves como o vento, segurei o coração na boca. Ali era o meu lugar.

Netuno, o rei!

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