01/03/2011

Ciclicamente

A vida é cheia de ciclos. Ora você é o patinho feio, ora você é uma lagarta. A metamorfose vai e volta, sem que você possa controlar. Talvez porque você é por fora um reflexo de como você se vê por dentro. Ou talvez porque somos cegos quanto ao que realmente importa. Ouro de tolo, aquela beleza vazia e falsa, que não se sustenta. "Não se fie totalmente em aparências... Assim como a planta do cacto, tão áspera, tão espinhosa, aparentemente tão seca e estéril... mas que oculta um poder quase divino de expor a natureza tão sublime e delicada flor... Assim também os seres humanos podem ocultar por trás de uma aparente secura, uma alma especial, o bem, a bondade, o dom de contribuir com frutos de solidariedade para um mundo melhor."

Se você não acha a vida meio esquisita, deixe por minha conta que eu acho por nós dois (duas). Quando eu era criança (bonitinha, branquelinha, buchechudinha, cabelinhos dourados) era uma figurinha carimbada. Namoradinhos na hora do recreio, bonitinha nas fotos, um doce de garota. Já na pré-adolescência, eu era um fiasco em termos de popularidade (magricela, nariguda, mais inteligente que a média, cabelos lisos demais). Fui uma jovem diferente, sem muitas vaidades, mas sempre com muita energia pra encarar os deleites dos tempos de faculdade. Hoje sou uma figura meio rebelde, que não segue padrões estabelecidos, mas que ainda tromba com alguns desafios. Um dia serei uma velhinha, sem amarguras (acredito eu), com boas lembranças e sempre acreditando que não vou morrer.

Queria que todo mundo se enxergasse por um raio x do caráter, como se não houvesse embalagem bonita que esconda os conservantes de um produto pouco natural e nada saudável. Queria que todos fôssemos menos enlatados, mais orgânicos. Talvez um jeito de ser menos feito de novelas e comerciais, mais composto por documentários da vida selvagem. Menos cara de alopático, mais cara de homeopático. Porque o que vale mesmo é a essência, nada além dela perdura e nem ela se torna imortal, o que dirá a carne que esconde nossos ossos. Queria que fossemos todos iguais não só em número de olhos e orelhas, rins e pernas, mas também em casca! Mas bendita é a lei da natureza, que cria mecanismos de competição que levam à seleção natural das espécies: que sobreviva o mais bonito, o mais altivo, o mais forte, o mais saudável, o mais casca dura.

Mas de que servem olhos verdes, cabelos loiros compridos ou negros ondulados, músculos exagerados, plásticas e tudo isso que o mundo estético nos exige para que sejamos cada vez mais plásticos e encerados como as obras perfeitas nos museus? Como a perfeição deixa de ser um desejo platônico e passa a ser uma condição social, se debaixo de 7 palmos de terra e 21 gramas a menos somos todos absorvidos pelas mesmas “minhocas”? Você é só mais um organismo em um enorme planeta vivo... Você é só mais uma combinação de moléculas com a fantástica capacidade de pensar, sentir e criar. E estes 3 dons, meu caro, minha cara, não dependem do belo reflexo do seu rosto no espelho.

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