14/07/2011

Como corre uma solteira

Se você pensou que entrar num curso para procurar um marido era uma estratégia inusitada, acredite: existem muitas outras formas malucas de procurar a bendita agulha no palheiro. Como se não bastasse se tornar uma profissional especialista, coisa chique no mercado, ela também estava decidida a ser uma atleta... Mas a corrida era outra: correndo atrás de um cara que talvez valha a pena. Como é que chegamos a esse ponto?
 
Simples. Ela o conheceu. Parecia um cara agradável, bem apessoado, buscando formação numa pós-graduação. Caiu a ficha? Sim, ele era aluno do curso em que ela se matriculou. Digamos que havia uma possibilidade da tal estratégia inusitada dar certo. Eles se aproximaram, trocavam idéias sobre auditorias, gestão, indicadores. Papo de adulto descolado, quase “Cult” (se entraram no assunto Cinema e Livros, eu não sei). Ele era de outra cidade, estava se enturmando numa cidade grande (menor que a sua, no entanto) e nada melhor do que a “relações públicas” do mundo dos solteiros para fazer sala.
 
Marcaram uma corrida, novo programa que virou mania na cidade. Agora ninguém chama mais pra caminhar: você tem que correr. Você já corre o maldito dia inteiro: no trânsito, no trabalho, em casa. E ainda tem que correr por aí, porque agora é moda e faz bem pra sua imagem. Foram até uma dessas avenidas em que os supostos atletas balançam seus quadris. Uns em forma, outros nem tanto. Fato é que toda a encenação se divide entre: 1) os desesperados pra emagrecer, 2) os que foram esculachados pelo médico por causa do colesterol, 3) os que querem se exibir e, agora, 4) aqueles que usam a corrida pra se sociabilizar.
 
Ele decidiu apertar o passo, ela ficou aos galopes. Por quando não se corre, tudo parece mais um trote. Ele tomou uma distância considerável e ela acabou vencida, derrubada na calçada. Quanto o avistava, levantava-se imediatamente, fingia uma respiração ofegante e corria em sua direção. Ele, sem entender como ela corria tanto, mas ainda estava tão atrás, perguntava: “Ué, não te vi passando!” Em uma sinapse imediata, ele retrucou: “É que dei a volta na praça, por isso você não me viu”. Ela “paga de atleta” e ele de “pateta”. Afinal, o que importa é a propaganda, pois o produto não é nada sem um bom marketing.
 
Dão mais algumas voltas, apenas caminhando, como dois colegas de corrida. Falam sobre a vida e aí voltamos àquele bendito questionário que se faz quando um pretendente é localizado: De que signo ele é? Ela pensa: “Se for aquariano, melhor nem tentar...” Qual a relação dele com a mãe? Ela conclui: “Será que ela é uma boa sogra?” Será que ele corre porque é complexado? Ela questiona: “Ai, meu Deus, complexo de quê?” Será que ele tem um bom fôlego? Ela ri: “Melhor que tenha, ninguém merece um homem mais ou menos.” Será que ele vale a pena? Ela desiste: “Coitado.” E cada um vai pra sua casa. Chega da novela por hoje.
 

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