23/07/2010

Vida de Cinema

Vários filmes falam sobre mim. Não sou uma personagem histórica, nem famosa na atualidade, muito menos rica e poderosa. Não sou filha de nenhum magnata, não estou casada com um chefe de governo, não sou capa de nenhuma revista. Não sou atriz, muito menos escritora reconhecida, quiçá uma cantora ou pianista. Não sou uma líder espiritual, nem uma pessoa que tem o dom de mudar a vida das pessoas. Mas, ainda assim, vários filmes falam sobre mim.

Doce Novembro: Aquele sonho da paixão momentânea, porém intensa. Com a sombra de uma saúde frágil rondando um “sonho de verão”. Se tenho um lado romântico, está ali naquele um mês de sentimento verdadeiro e despreocupado.

A Casa do Lago: Eu posso muito bem me apaixonar à distância, maior ainda a chance quando se é através de cartas bem escritas, numa cumplicidade que não segue a linha do tempo real. Viver da esperança da caixa de correio, de um amor atemporal, surreal e sincero. Sim, eu poderia muito bem acreditar nisso. Afinal, já suspirei por tantas cartas, e-mails e declarações inusitadas...

Constantine: Tenho vários demônios pessoais e tento exorcizá-los todo santo dia. Não sou uma caçadora experiente, mas enfrento todos os dias o meu carma, chame como quiser: destino, rumo, prumo, acaso, caminho. Acredite: meus demônios não são tão feios, mas o pânico é tão grande quanto.

Vanilla Sky: Ah, a imortalidade! Desejo infame, gula humana! Controlar sua vida, colher só a parte boa, apagar o que não vale a pena, ter a chance de viver outra vida, mesmo que não seja real. Quem nunca quis isso? Quem não faz isso a cada login no Facebook, ou a cada post anônimo num blog? Quanto você pagaria para reviver? Mas o quanto isso te perturbaria em sua vida “naturalmente mortal”?

Contato: Inegável a minha semelhança com a pequena que se transforma em astrônoma. Em constante questionamento, descrente dos sentimentos humanos, criando desapegos para se proteger - sou como aquela garotinha olhando pelo telescópio e como aquela mulher que muitas vezes foge do que sente. E quando tudo de que duvida repentinamente se mostra possível, repentinamente a vida se torna inexplicável, pois a fé escapa à compreensão da razão.

O Fabuloso Destino de Amelie Poulain: Ora, se não sou eu? Aquela mania de endireitar as coisas, de pensar em detalhes, de criar armadilhas para fazer as coisas do meu jeito. Não fotografei um ano de jardim pelo mundo, mas bem que eu fotografei vários lugares e criei um e-mail anônimo para espalhar as imagens que fiz. Levei um “fora” da minha própria mãe, sem ela notar que eu só queria minimizar a solidão. Amelie em suas cores intensas e planos quase lúdicos – sou eu todo bendito dia, tentando reinventar a graça.

Em Busca da Terra do Nunca – O pequeno garoto fechado, que não se permite imaginar, criar e extravasar. Do outro lado, o escritor quase frustrado em busca de sua obra perfeita, de seu grande feito. E não sou eu nas duas faces da moeda? Aquela sensação contínua de que ainda não realizei um grande feito e esperando o estímulo certo pra finalmente criar a minha grande “obra pessoal”. Quando vi o filme pela primeira vez, entrei no ônibus aos prantos. O trocador, preocupado, perguntou se eu precisava de ajuda. Ajuda? Sim, mas não era ele quem podia me ajudar.

Um Sonho de Liberdade: Queria eu ter uma perseverança inabalável, uma paciência tão firme e ponderada. Eis que este filme mostra exatamente o que me falta: mais insistência, mais fé, mais planejamento e constância. Talvez também a bendita parcimônia, que seria típica de uma virginiana. No entanto meu ascendente me derruba e meu lado “peixes” elimina qualquer possibilidade de razão sóbria.

Orgulho e Preconceito: Orgulho? Imagina! Além de teimosa, sou extremamente arrogante quando acho que estou certa. Sempre convicta do que penso, chego a “emburrecer” sempre olhando só o meu lado. Não desisto fácil dos meus argumentos quando realmente acredito neles. Dar o braço a torcer e ceder? A questão é que sempre que apostei alto demais, também me decepcionei mais.

Cantando na Chuva: Preciso dizer por que me sinto semelhante ao bom e velho dançarino que rodopia na chuva? Tem dia que é essa a vontade que tenho: de me enfiar debaixo da chuva, de entrar de roupa no mar, de escorregar na grama, de deixar de lado qualquer convenção chata dessa idade adulta.

A Corrente do Bem: Óbvio e inspirador. Talvez uma ponta daquela vontade de fazer uma grande “obra”, de conseguir mudar um pedacinho do mundo, de criar uma seqüência de eventos que promova a felicidade e nos transforme em seres mais humanos. Sim, daí veio o movimento, numa tentativa de fazer o meu mundo um lugar melhor pra se viver. E ver o movimento criar “pernas” para seguir sozinho, apenas com a certeza e orgulho de ter desencadeado o bem.

Procurando Nemo: Hahaha! Dori? Claro! Nem ouse pensar que tenho o estilo do pequeno Nemo entrando em filtros de aquário, muito menos sou um “pai” desesperado. Sou a Dori, puramente. Memória fraca para fatos ruins, mas fiel aos meus amigos. Perguntadeira, tagarela, língua solta, mas disposta a ser um pouco melhor quase sempre. E o mar, claro, o mar... A corrente marítima... Como eu queria ser uma daquelas tartarugas quase ripongas!

Enfim, poderia aqui citar outros tantos, mas estes são alguns dentre aqueles que estão na minha sala, adquiridos para sempre... Versões originais, na esperança de que a tecnologia do DVD jamais vai me deixar na mão. Dispostos a sempre tocar no player quando eu bem entender, pra assistir várias vezes sem remorso! E o melhor: em cada um reencontrar um pedaço de mim... Refrescando a memória e promovendo estalos sobre quem realmente sou.


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