16/07/2010

Você, um ser social

Vivemos à mercê dos nossos círculos sociais. Alguns herdados, outros conquistados, alguns quase cármicos. Estamos constantemente buscando raízes, semelhanças e reconhecimento no próximo. Algo que nos identifique como parte de um grupo, como lobo na alcatéia, como fatia do todo. Essa necessidade constante de estar sempre rodeado por quem escolhemos, especialmente. Uma carência típica do animal humano - aquele que precisa do outro para se auto-afirmar e para se diferenciar. Somos o que somos graças aos detalhes, o que inclui as relações que estabelecemos. Eu sempre fui loba da estepe, como diria Hermann Hesse...

A diferença mora exatamente na escolha. Quando não escolhemos e somos escolhidos, temos duas alternativas: ou nos movemos para procurar o grupo certo ou nos moldamos àquilo que antes não admirávamos. Se nos congelamos diante da pressão para sermos parte de um grupo dito como ideal, porém completamente inadequado aos nossos desejos, tendemos a perder nossa essência básica. Somos então moldados por pressões do meio, do convívio e dos paradigmas que contrariam nossa vontade primordial: a liberdade. A velha máxima daquele sociólogo e que nos irrita: “O homem é produto do meio”... Preconceito ou constatação?

Vivemos hoje num grande circo de pressupostos sociais, sempre nos tachando indevidamente, de acordo com modelos de vida previamente estabelecidos como perfeitos ou supostamente “normais”. Eis a pergunta: quem insiste em não olhar a história humana e permanece sem entender que tudo é perene e se transforma? Se um modelo de vida, de relação ou de atitude um dia foi revolucionário, hoje pode ser básico e um dia se tornar arcaico. Pois a sociedade muda à medida que o homem almeja um novo território ou um novo sentimento. E relacionar-se é fundamentalmente uma nova experiência “constante”.

Portanto, não se prenda a pensamentos pré-definidos, a regras sociais que ditam moda, parâmetros, profissões, idéias e ideologias. É fundamental ser autêntico para que você nunca se arrependa por ser uma “Maria vai com as outras”, nem um “Zé Ninguém” ou o famoso “Zero à esquerda”. Se você não lutar para definir seu próprio caminho, para se firmar como pessoa única e particular, para selecionar as pessoas que te cercam, você acabará escolhido como uma peça qualquer numa loja de departamento: mais um, mais um! Fotografia de prateleira? Boneca inflável? Bijouteria?

Não somos fabricados em série. Encontramos semelhanças a todo instante, mas somos ainda “mais” quanto ao teor de individualidades. Você pode ter um universo infinito de amigos e conhecidos. Você pode gostar de rock e música clássica ao mesmo tempo. Você não precisa seguir a tendência capitalista, nem ter o carro do ano, muito menos estar sempre cumprindo com padrões comportamentais que não te competem. Aldous Huxley, em “Admirável Mundo Novo” (Primeira edição em 1941), sabiamente escreveu:

“Porque era preciso, naturalmente, que tivessem alguma idéia de conjunto para poderem fazer seu trabalho inteligentemente. (...) Porque os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade; as generalidades são males intelectualmente necessários. Não só os filósofos, mas sim os colecionadores de selos e marceneiros amadores que constituem a espinha dorsal da sociedade.”


Quem é você dentre os seus iguais?

Aldous Huxley - 1894/1963

Texto encomendado por Mariana Sarno

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