29/01/2010

Nossas Estampas e Armários

Em tudo que faço, estampo o que penso, o meu jeito de ser. Tento ao máximo ser uma pessoa transparente, por isso estampo na minha janela as minhas ideologias, lógicas, defeitos e medos. Tento o tempo todo fazer ao menos uma pequena parte do que posso fazer, poderia mesmo fazer ainda mais. Mas sou gente, tenho meus limites, egoísmos e egocentrismos, mesmo que isso pareça redundante.

Onde como, simbolizo o que a natureza me oferece... Peixes nos armários, nas bandejas, na geladeira, nos copos. Greenpeace na janela. Respeito a quem me oferece o que tenho, na base de tudo: natureza. Já fui WWF, já quis ser oceanógrafa. Respeito o mar como se fosse meu templo. Nada mais coerente do que trazer estes símbolos para proteger o meu lar. Boas energias também entram pela boca, além de entrarem pelos ouvidos, pelos olhos e pelo abraço.

Onde descanso, dois pilares protegidos pelos meus anjos particulares: meus peixes, vigiando meus sonhos e acalentando minha solidão noturna. Acima de minha cabeça, no topo do meu pensamento desligado, encontra-se Chac Mool, o guardião de Chichen Itza que recebia os corações dos guerreiros sacrificados. Afinal, será mesmo que a cama não é um sacrifício do coração? Só agora pensei nesta analogia e não posso deixar de pensar como é irônica... Na entrada do quarto, mais um calendário maia, mais uma forma de me lembrar que eu sou dona do meu tempo, só eu posso controlá-lo sem desperdícios, sem peso na consciência, sem medo de realizar minhas vontades.

Onde lavo minha alma, mais peixes, uns que nem eu escolhi que estivessem lá. A minha semelhança com alguém que um dia também freqüentou aquele lugar. Meu elo com a história de quem nem conheci e que, por coincidência, também possui uma estrela tatuada no pulso. Peixes, peixes, peixes e um espelho mal encaixado. Só pra cumprir sua obrigação, pois se fosse possível, não ficaria me encarando. Afinal, assim talvez eu parasse com a mania de achar defeitos ou de me encarar nos olhos todos os dias antes de dormir.

Onde guardo tantas coisas, escondo ainda outras tantas! Um casal de golfinhos, três peixes artesanais, um cordão com peixes, um lugar simples como o fundo do mar. Só o essencial realmente satisfaz. Tudo que talvez seja supérfluo pode ficar do lado de fora ou trancado no guarda-roupa, escondido como um segredo. E são muitos segredos... Escritos, estampados, encaixotados, assombrados ou bem dobrados. O que importa é que temos a felicidade de não expor tudo que pensamos, trancando tudo num quarto abandonado pra resgatar quando bem entendermos.

Onde curto meu tempo, vejo a história estampada: lições de antigos guerreiros, deuses que espantam os pesadelos, máscaras que me dizem para ter atenção com quem tem duas caras. Calendários astecas que mostram que o tempo pode ser cruel. Calendários maias que mostram que o homem é o dono do tempo, carrega-o nas costas de acordo com sua força de vontade. Três pequenas galinhas me lembram o lado maternal em relação aos meus amigos, já que os coloridos filhotes foram espalhados para alguns amigos queridos. Um gato da sorte (japonês) me lembra do duende no jardim da Amelie Poulain, ou seja, de como me reconheci nela. A minha ocarina, flauta mágica, simboliza um reencontro em terras abençoadas da Bahia, realizando um velho sonho.

Onde desacelero meu dia, exponho as fotos da Corrente do Bem, fotos dos amigos, fotos da família, fotos de lugares que amo e sinto saudade, fotos do mar e dos seres humanos. São a primeira imagem ao entrar na minha sala e nada poderia ser mais característico: eu e minha mania de guardar a felicidade em imagens congeladas, eu e meu medo de esquecer tudo que foi bom. Na minha porta, que permite entrar e sair do meu palácio, estão os sinos que ganhei de um bom amigo com promessas de boas vibrações para meu novo porto seguro. Sinos indianos que talvez me simbolizem a paz de Gandhi e a confiança dele no ser humano.

Domingo acontecerá mais uma Corrente do Bem. Nas minhas gavetas estão os apetrechos para o movimento. Portanto, quem disse que aquilo que escondemos também não diz muito sobre quem somos? Ou você realmente acredita que você é somente aquilo que os outros enxergam?

"Ideologia... Eu quero uma pra viver!"

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