26/01/2010

A vida e suas Escalas

Muitos com certeza se decepcionarão com “Amor sem Escalas”. Eu não. Aliás, fui completamente imune a quaisquer críticas prévias. Mais estranho ainda foi me identificar em certos momentos com o papel do George Clooney. Não o seu aspecto meramente profissional, mas talvez o lado pessoal um tanto quanto camuflado por sua rotina fria: sem vínculos afetivos, sem amarras com um teto familiar, o lado metódico, o lado humano desprendido, sem grandes ilusões afetivas, o jeito descolado, a meta absurda de 10 milhões de milhas.

De repente, ele se prende, sem notar, sem poder reagir, pois tudo acontece como se fosse um veneno lento e letal. Quando nota, estava completamente envolvido, topa arriscar tudo, aceita deixar de ser quem sempre foi, abre mão de sua independência, finalmente permite dividir seu tempo e vontades com outra pessoa. Abandona-se para finalmente fazer parte de uma suposta “lógica social”: a de que somos seres feitos para uma vida compartilhada e familiar.

Não nego que ele se diverte, finalmente se deixa viver sem duvidar do destino, se sente amado e completo. Mas eis que o preço lhe é cobrado com juros, sem seguro ou garantia. Decepciona-se. Entrega-se a quem não conheceu de verdade, descobre que tudo que antes era perfeito é apenas uma miragem, uma ilusão que se mostra somente quando as areias esquentam, mas que não perdura. Aquela mulher, sua última tentativa, nada mais era do que uma fuga de si mesma. Ele era apenas parte de seu teatro momentâneo, só um luxo usado, uma válvula de escape.

Inverta a situação, como de fato é mais comum acontecer. Não sou feminista, sou realista (antes que o Dudu Camponez me crucifique). Assim aconteceu comigo, em alguns pontos semelhantes, em outros nem tanto. Agora estou em uma nova janela, com novos e frescos ventos, um novo porto seguro, distante de tudo aquilo que um dia vivi. Estou longe de Chicago, muito mais ainda de Omaha. Onde estou agora é como o avião do cara do filme. Provavelmente eu também fecharia os olhos e escolheria um destino qualquer para permanecer em constante fuga, para deixar tudo para trás como uma memória qualquer. Mas não tive essa sorte maluca. Fechei os olhos, finquei os pés no meu chão, busquei e aqui estou. Uma janela ainda meio estranha, uma temperatura ainda flutuante. Eu só tinha uma milha pra apostar. Acredite: foi a maior aposta que já fiz e até hoje acordo todos os dias pensando em como vim parar aqui, agora, hoje.

4 comentários:

  1. Vínculo afetivo é uma grande ameaça às grandes apostas. O senso de responsabilidade transindividual que se faz presente é assustador...

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  2. Vou ter que ver o filme antes de "te crucificar" :P

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  3. Pois é, o grande desafio é conciliar plena realização individual e vínculo afetivo. Parece inclusive que até mesmo aquelas pessoas independentes e sem muitas ilusões, quando se apaixonam esquecem todos os seus projetos, sua força e regridem.
    Uma relação afetiva equilibrada e que não ameace a individualidade de cada um é a prova de fogo para quase todos nós humanos. Poucos conseguem.

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  4. Incrível mesmo é pensar que tem tanta gente no mundo se sentindo "sozinha na multidão"...

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