05/02/2011

O Escritor


Parece que escolhi a dedo a temática de hoje... Arrependimentos, passado, sentimentos mal resolvidos. Tudo culpa do que não se fala, tudo culpa de não se dizer o que se sente. Eu digo, mais do que deveria. Durante essa semana tentei instalar um filtro em minha boca, torci pra que isso me deixasse em paz. Só deu certo porque de fato eu não quis falar nada além do que falei.

Mas e se eu quisesse mesmo soltar o verbo, sobre o que soltaria? Todos aqueles que amei, sem dúvidas, souberam disso por mim. Não precisei gravar fitas e fitas com textos alheios para demonstrar nada, fosse alegre ou triste. Escrevi centenas de cartas, uma a uma, na maioria das vezes à mão. Sempre fui melhor pra falar sobre o que sinto quando escrevo. Assim como estou agora, falando com qualquer um que me leia, pois nada realmente fica preso aqui dentro.

Como eu poderia ser Hanna sem sequer saber ler? A diferença básica já residiria nessa impossibilidade de colocar pra fora sem precisar da voz. Ela precisou estar presa para finalmente escrever e assim manter a sua ínfima presença no mundo lá fora. E não é isso que estou fazendo, quando lanço essa mensagem no mar, esperando que alguém na Groelândia encontre essa garrafa perdida?

Pobre Michael Berg, que também não teve coragem de dizer que sabia que ela era uma analfabeta. Mas reconheço que ele não era analfabeto quando se tratava do respeito ao próximo, por mais dura que essa tarefa possa um dia ser. Você pode não concordar, pode não aceitar o que o outro aceita, mas ainda assim é uma escolha do outro, não sua. Você não é apenas um leitor na sua vida – você a escreve. Mas ainda assim é apenas um coadjuvante na vida alheia. Eis o que diz “O Leitor”.

O primeiro filme disse: “Não viva a vida de outra pessoa”. Traduzindo: “Não carregue o peso do mundo, pois você ainda tem que resolver os seus próprios problemas”. Este segundo filme disse: “Não deixe de viver a sua vida por medo.” Traduzindo: “Seja sincero com sua vida.” Fico aliviada, pois acho que estou no caminho certo. Não estou simplesmente escrevendo um mantra de autoafirmação – é uma constatação saudável.

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