05/02/2011

Olhos sem Segredos


Não quero passar um minuto sequer vivendo em função dos eventos mais dolorosos pelos quais passei. Não me prendo a eles, por mais que eles me definam. Hoje sou uma garota-mulher precoce, que se vira sozinha na selva de pedra, rodeada por muitas pessoas queridas e em quem confio. Não vejo motivos para, então, ficar pensando no “o que seria se”... As linhas da minha mão não são as mais retilíneas, bem marcadas e definidas. Em algumas delas existem bifurcações, indo ou vindo. Não adianta achar que tudo vai ser perfeitinho, feito em linha de produção taylorista. E que venham as bifurcações, desde que elas não sejam mais importantes do que todo o resto da linha!


Separei um tempo pra curtir o mundo lá fora sem sair de casa. Depois de quase um ano, finalmente assisti “O Segredo dos Seus Olhos”, filme argentino que aparenta ser meio parado, mas que é mais do que sincero: é honesto quando aos nossos desejos reprimidos de vingança. (Por sinal, agora estou vendo V de Vingança pela milésima vez). Não se trata de ser uma pessoa boa ou má – trata-se das justiças que a gente espera da vida. O problema é quando esperar pela justiça “divina” não se torna suficiente e você vive esperando por uma oportunidade de fazê-la ou saber feita a justiça.


Você pode passar anos se remoendo pelo que fez, ou simplesmente aceitar. Ou talvez agir para mudar as coisas, se é que elas ainda fazem sentido. Pois o “timing” dos sentimentos e momentos também passa. Você jamais será a mesma pessoa que foi ontem, com os mesmos desejos e mágoas. Eis o milagre do tempo para quem se deixa levar, ao invés de parar na vida que já passou. E parar, esperando por uma versão dos fatos num mundo paralelo, não é a solução.


Se você ainda não viu o filme, espere para vê-lo quando a vida te empurrar até ele ou simplesmente procure por ele. Eu o procuro há meses. Mas só hoje, reclusa, consegui finalmente saber quem era Benjamim, quem era Isidoro. Tudo que sei, agora, neste instante, é que há muito tempo atrás eu vivi dias de Benjamim, sem assumir o que sentia, sem lutar por minha paixão. Sei também que durante muito tempo vi injustiças e desencontros como os provocados por Isidoro, entorpecido por seu objeto de desejo. E ainda verei. Mas o importante mesmo é que não sou e provavelmente nunca serei com o Morales, esposo devoto de Liliana. Pois não quero meus rancores aprisionados e sendo alimentados por mim. Não quero uma cela dentro da minha própria casa. Dou-lhes toda a liberdade para que desapareçam no seu devido tempo... e no final, estou leve, mas não vazia.

Um comentário:

  1. SENSACIONAL....DISSE TUDO!!! PARABÉNS!!!
    ELOQUÊNCIA POUCA É BOBAGEM...
    TÔ PASMA...HAHAHA...
    VOU ASSISTIR MAIS UMA VEZ!!!!

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