04/02/2011

Teoria da Leveza

Síndrome da paz, ou seja, o conflito resultante da própria leveza. Acho que preciso trocar meus homeopáticos, porque estou relaxada demais enquanto o furacão arrasa a Austrália. Mas o problema é que eu não tenho um belo plano de evacuação em situações de catástrofe natural. Se o mundo tombar lá fora agora, vou levar alguns dias para descobrir. Não estou em câmera lenta, mas simplesmente não sinto o problema rondando lá fora. Não estou numa casa de vidro – simplesmente nem estou em casa – não estou em lugar nenhum.
 
Faço o que tenho que fazer. Falo com quem devo falar. Ouço todo mundo. Desabafo quando preciso. Pago o que tenho que pagar. Não me apavoro se estou engolindo o mundo com fome demais. Posso me engasgar, fato. Só sei que tudo acontece como se fosse num mundo paralelo. Viro as noites entre o rolar inquieto na cama, redes sociais e sonâmbulos como eu. Passo os dias pensando em coisas que ainda quero fazer, não esmago meus neurônios e tudo parece bem assim. Uma vez ou outra me deparo com as crueldades do mundo lá fora – desligo a televisão ou então vejo algum programa sobre a vida marinha.
 
Se isso não é viver de brisa, não sei mais do que se trata. É como se eu estivesse em paz com a normalidade de algumas coisas antes anormais. No fundo, permanecem os mesmos anseios, mas amadurecidos e quase resignados: que cheguem na hora certa. A concentração está comprometida, fato. As idéias ficam emboladas, mas estão satisfeitas por simplesmente estarem onde estão. Sim, neste momento eu queria estar em vários outros lugares, mas estou feliz onde estou. Acordei em paz com o que a vida me deu e é uma excelente sensação, pois não mata a curiosidade do que ainda está por vir.
 
Como me disseram ontem, “só os boçais não vivem em crise”. E usando os bons trocadilhos da minha mania registrada, nada melhor do que estar em “quarentena” pra alguém te lembrar disso. Ficar a sós com seus próprios pensamentos não é uma tarefa tão simples. Se você não aprende a não se desesperar com todas as hipóteses que é capaz de criar, surta em pouco tempo. Mas quando se consegue pensar, sem achar que tudo um dia será concreto, chega-se ao ápice da liberdade: pensar, pensar, pensar, sem comprometer ou intervir naquilo que na maioria das vezes nem está nas suas mãos.
 
Meu filtro ainda limpo e fino demais. Se me perguntam o que penso, falo, sem receio, muitas vezes sem pudor. Como se a liberdade de pensamento me impedisse que controlar os músculos da língua afiada. Se não quer saber a minha opinião, portanto, nem me pergunte. Tudo se intensifica pelo simples fato de existir, mesmo que não seja no plano concreto. Sim, ou te amo ou te odeio. E amo muito. “Eu posso amar por alguns segundos. E talvez um dia possa amar muitos por vários segundos.” É o que diria a música. A vantagem é que, graças à facilidade de aceitar a diversidade, odeio pouca gente. E odeio só quando me lembro... E como tenho pouco tempo pra me lembrar de quem odeio, praticamente não odeio. Desenvolvi a amnésia do que não me faz bem. E isso não é ser livre? E isso não é o conflito da própria leveza?
 

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