15/02/2011

O Perdedor

Talvez eu devesse escrever apenas sobre a incrível atuação de Christian Bale, mas estaria resumindo o filme à máscara de um bom ator que me deixou perplexa. Confesso que mesmo depois de “Sobrevivente”, eu ainda tinha como referência suas atuações como o bonitão Batman, padrão de mercado no mundo dos super heróis. Cai do cavalo, meus caros! Ele deixou de ser o bonitão para se transformar num “aloprado” completamente sem eira nem beira. Como diria qualquer poeta: “é que a loucura mora em cada instantizinho de vida”.
 
Ele não está somente “emagrecido”, está completamente tomado pelo seu vício, por sua obsessão por uma luta fantasiada durante anos. O mais incrível é que no mesmo dia assisti “Cisne Negro” e mais uma vez fui exposta à óticas diferentes de um tema comum: as obsessões nas quais embarcamos ao longo da vida. “Você não venceu – o adversário tropeçou!” Como se todos os seus medos camuflados se transformassem numa “feiúra congênita”, sem dentes para sorrir para a vida que se passa lá fora, acreditando que ainda é famoso mesmo que seja às custas de um documentário sobre o crack.
 
Se durante o dia eu acompanhei o drama de um cisne negro, à noite eu percebi que os urubus também rondam os passos frustrados de alguém. Mais uma mãe que acha que sempre sabe o que é o melhor para seu filho, que se recusa a enxergar o problema que assombra sua família e que impõe a união como único meio de sobrevivência na pequena Lowell. Ela não vê que seu filho salta das janelas e cai no lixo apenas para manter as aparências, quando poucos segundos antes estava compartilhando uma fumaça com outros desdentados. Ele não destrói apenas a sua vida, mas traga todos para dentro do seu mundo nublado.
 
Como se não bastasse, transforma seu irmão mais novo em sua própria carniça. Afinal, ele precisa se alimentar, precisa manter seus sonhos através de alguém que talvez os consiga concretizar. É a pressão para que o outro obtenha aquilo que você mesmo não consegue, querendo que todos tenham os mesmos valores, vontades e vitórias que um dia você projetou em sua vida. E o pequeno caçula passa anos apanhando da vida porque simplesmente não tomou seu próprio rumo e permitiu que as intromissões o reduzissem a pó nos ringues de boxe.
 
Não vou entrar no mérito se eu acredito ou não que as pessoas podem mudar. Porque não acho que Dick (Christian Bale) mudou. Nem acho que Alice (mãe) mudou. Quem mudou, seja em função ou não da presença da garota por quem se apaixonou, foi Mick, que finalmente se libertou das decisões alheias e tomou as decisões necessárias para realizar seu sonho. E mesmo assim, nem ele mudou completamente: ele apenas uniu o útil ao “amável”, sem perder as pessoas que à sua maneira o amavam e garantindo que aqueles que colocavam freios nas loucuras familiares estariam ao seu lado, vigiando. Afinal, não é isso que fazemos o tempo todo quando nos acomodamos? Não estamos sempre nos cercando de quem quer lutar e evitando a fadiga?
 

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